Campeões do Mundo F1: A história da vida, e carreira de Mika Häkkinen
Mika Pauli Häkkinen nasceu na pequena cidade de Vantaa, nos arredores da capital finlandesa, Helsínquia, a 28 de setembro de 1968. O último Campeão do Mundo de F1 do século XX – e, já agora, do milénio anterior… – cansou-se subitamente das exigências da F1 e, em 2001, anunciou um ano sabático. Para pensar, disse ele nessa altura; porém, esse ano tornou-se infinito e Häkkinen, o ‘verdadeiro’ Ice Man, nunca mais voltou à F1. O seu legado foi muito mais que dois títulos de Campeão do Mundo e 20 vitórias em GP.
Filho de Harri, um operador de rádio de ondas curtas e taxista em “part time” e de Aila, secretária, Mika teve uma infância pacata e discreta – apesar de viver na mesma rua de Mika Salo, de quem se tornou amigo inseparável.
Nessa infância, a sombra da pilotagem nunca surgiu – na realidade, os interesses do pequeno Mika estavam a ginástica acrobata, modalidade que conseguiu fazer tão bem que, a certa altura, estava numa escola de teatro e de artes acrobáticas na capital. Mas, de repente, quando teve que decidir aquilo que queria ser “quando fosse grande”, Mika decidiu que queria ser… piloto de automóveis!
O caminho normal e de sucesso
A verdade é que Mika Häkkinen nunca mais esqueceu aquele dia, tinha ele cinco anos, em que o seu pai alugou um brinquedo chamado “kart”, para ele dar umas voltinhas, numa pista perto de casa. A coisa não correu nada bem, teve mesmo um espetacular acidente, logo na sua primeira volta de sempre, de que teve alguma sorte em sair ileso.
Porém, sem medos, durante os anos seguintes correu sempre que pode, mesmo contra a vontade e os receios dos seus pais – mas já amplamente apoiado pela irmã Nina que, mal ele escolheu o que queria ser, criou um “site” que alimentou sofregamente até encerrar, em 1998.
Finalmente, derreteu a resistência familiar e o pai comprou-lhe um “kart” mais potente, precisamente o mesmo chassis em que um tal Henri Toivonen tinha também corrido! Então, Mika tomou nova decisão, abandonando a escola mal terminou o ensino secundário e arranjando um emprego numa oficina metalomecânica, onde acabou por estar pouco tempo, enfrentando de peito aberto as dificuldades de ser piloto profissional, mesmo sem grande apoio financeiro por trás.
E o segredo de ter conseguido o que queria esteve na sua persistência e numa capacidade acima do normal em vencer corridas e conquistar títulos.
Cinco vezes campeão de Karting a partir de 1986, isso chamou a atenção de Keke Rosberg, que lhe arranjou um patrocínio que lhe garantiu a subida aos escalões bem mais caros das fórmulas de promoção, onde ganhou três títulos escandinavos, antes de ser campeão na Opel Lotus Euroseries (1988) e F3 britânica (1990).
Neste ano, quase ganhou o GP de Macau de F3 – e, se não ficou na história da prova por isso, garantiu o lugar pela polémica carambola com Michael Schumacher em que se envolveu! Nessa altura, estava já a viver em Inglaterra, partilhando com Allan McNish, seu colega na equipa West Surrey Racing. Mas foi o acidente com Schumacher que despoletou o seu futuro, catapultando-o diretamente para a F1, a convite da Lotus.
Campeão na McLaren
Mika Häkkinen esteve dois anos na Lotus, numa altura em que a equipa inglesa estava longe dos seus anos dourados – na verdade, caminhava já a passos largos para a falência e o fecho de portas. Mesmo assim, Häkkinen deu nas vistas. Corajoso e gélido, mas muito rápido (antes de Ice Man, chamaram-lhe o Novo Finlandês Voador…), qualificou-se em 13º lugar na sua prova de estreia, o GP dos Estados Unidos que teve lugar nas ruas de Phoenix. Problemas tardios no motor impediram-no de terminar a corrida melhor classificado mas, duas provas depois, em Imola, conquistou os seus primeiros pontos na F1, ao acabar a prova em 5º lugar, após largar de 25º!
O ano seguinte, Mika Häkkinen, agora mais experiente e com um colega de equipa – Johnny Herbert – capaz de lhe ensinar truques básicos, pontuou em seis provas, com os melhores resultados a serem o 4º lugar em França e Hungria. Isso deu-lhe o 8º lugar no “ranking” final de Pilotos – mas, principalmente, serviu de cartão de entrada na McLaren, então (como agora…) uma das principais equipas da F1.
O contrato de Mika Häkkinen era apenas como piloto de testes, com a possibilidade de entrar na equipa principal caso houvesse oportunidade. E, como a sorte protege os audazes, foi isso mesmo que aconteceu: depois de Monza, Michael Andretti foi despedido, por nunca ter conseguido resultados de relevo e, acima de tudo, nunca se ter adaptado à vida na Europa. Häkkinen estreou-se em Portugal e fê-lo de forma impressionante, batendo a estrela principal, chamada Ayrton Senna, nos treinos! Infelizmente, não conseguiu chegar ao fim, depois de ter caído numa das armadilhas da pista do Estoril: na saída da Parabólica, deixou o carro ir à escapatória embateu estrondosamente contra o muro das boxes, numa altura em que rodava dentro dos lugares pontuáveis. Mas, na corrida seguinte, em Suzuka, vingou o desaire ao subir ao pódio, o seu primeiro na F1, graças ao 3º lugar, logo atrás de Senna.
Os primeiros anos de Mika Häkkinen na McLaren não foram fáceis. Em 1994, literalmente órfã de Ayrton Senna, a equipa perdeu veia vencedora e, principalmente, bastante fiabilidade: Häkkinen subiu várias vezes ao pódio, é certo, mas desistiu outras tantas, acabando o ano em 4º lugar. As três temporadas seguintes foram parecidas, apesar da equipa ter mudado de fornecedor de motores, da Peugeot para a Mercedes. Aliás, na qualificação para o GP da Austrália de 1995 sofreu um violento acidente que quase lhe custou a vida: embateu os pneus de uma escapatória, partiu o pescoço e pode agradecer à perícia do malogrado Sid Watkins ter conseguido regressar ao ativo. Até que, no final de 1997, a sorte mudou: o seu primeiro triunfo aconteceu finalmente, no GP da Europa, a derradeira prova do calendário.
E, no ano seguinte, com oito vitórias em 16 corridas, Mika Häkkinen sagrou-se Campeão do Mundo de F1, com 100 pontos. Revalidou o título em 1999, mas já com mais dificuldades, pois a Ferrari estava em crescendo de forma e somente o acidente de Michael Schumacher em Silverstone, onde partiu uma perna, o que o fez ficar afastado algumas corridas, lhe permitiu o segundo troféu de Campeão. Mesmo assim, teve que esperar pela última prova do ano para se sagrar vencedor, tendo a sorte de o seu rival na corrida ao título ser Eddie Irvine, piloto rápido mas que nunca teve “vida” para ser Campeão do Mundo, perdendo a sua maior (e única) oportunidade na derradeira prova do ano, no Japão, onde não soube gerir os quatro pontos que trazia de avanço sobre o finlandês – que venceu a prova e, de caminho, o título.
No abrir do século, já com Michael Schumacher em absoluta forma física, não houve maneira de impedir o piloto da Ferrari de dominar e, mesmo com quatro vitórias (menos cinco que Schumacher..), não conseguiu melhor que ser vice-Campeão do Mundo, a 19 pontos do alemão.
Em 2001, algo desalentado e sem inspiração, com a cabeça já fora da F1, Mika Häkkinen apenas venceu duas provas, terminando o ano em 5º lugar. Pior que isso, “entregou” ao seu colega de equipa, David Coulthard, a tarefa de contrariar o ascendente que Schumacher continuou a ter, ao volante do Ferrari. Assim, no final da época anunciou que iria entrar num ano sabático e foi substituído na equipa pelo seu bem mais jovem compatriota, Kimi Raikkonen.
Mika Häkkinen acabou por nunca mais voltar à F1, apesar do seu regresso ter sido ventilado algumas vezes. Em 2004, foi dado como a caminho da Williams, depois de Juan Pablo Montoya ter saído para a McLaren. Três anos mais tarde, Häkkinen chegou mesmo a testar um simulador da McLaren, mas a equipa anunciou a contratação de Lewis Hamilton. No final desse ano, participou no último dia de testes em Barcelona, rodando um total de 79 voltas, sendo mais lento três segundos que os outros pilotos da McLaren. Isso acabou com todas as suas veleidades de regresso.
Pelo meio, ficou a sua passagem pelo DTM, como piloto oficial da Mercedes-Benz, entre 2005 e 2007. Ganhou três corridas – Spa, em 2005; Lausitzring e Mugello, em 2007. Então, a 4 de novembro desse ano, anunciou o seu abandono definitivo das competições. Mais tarde, foi nomeado Embaixador da Johnnie Walker, então patrocinador da McLaren.
Por Hélio Rodrigues, In Memoriam