Gintas Petrus/José Marques (MD Petrus Racing Team) foram 49º da geral
Gintas Petrus/José Marques (MD Petrus Racing Team) terminaram a primeira semana do Dakar no 49º lugar da geral e não conseguiram bater o 41º lugar de 2020 e 2022 e o 36º de 2021 fruto de uma prova com altos e baixos. O principal objetivo foi cumprido, chegar ao fim, mas suplantar o 36º posto de 2021 fica para a próxima.
No final da primeira semana José Marques, fez o balanço para o AutoSport: “Chegámos ao tão desejado dia de descanso do Rali Dakar 2024. O caminho até cá foi muito longo, mas mais significativo do que isso, foi muito duro e difícil: “A organização já tinha avisado que esta edição do Dakar ia ser mais difícil do que as anteriores. Com a criação da classe T1+ que trouxe um aumento do curso das suspensões e o aumento do tamanho das rodas, o nível dos carros da frente subiu exponencialmente, tendo tornado os percursos tradicionais do rali, num verdadeiro passeio para os carros apoiados pelas equipas oficiais.
O ritmo é de tal maneira elevado, quase sempre a fundo, que a organização viu-se obrigada a escolher percursos cada vez mais duros e difíceis, passando mesmo a haver dezenas de km contínuos de puro trial.
Este ano as passagens das dunas, nomeadamente na etapa das 48 horas, foram muito mais difíceis do que no ano passado. É claro que com esse aumento de dificuldade, quem saiu mais prejudicado foram as equipas privadas do agrupamento T1 agora chamada de Ultimate e os carros do agrupamento T2 que passaram ser Stock.
Os T3 e T4 agora com a designação de Challenger e SSV respetivamente, mantiveram a grande vantagem no mau piso e nas dunas, que já tinham em relação aos tradicionais T1.
O nosso rali começou com um prólogo cauteloso, sem arriscar absolutamente nada mas com andamento rápido o suficiente para não comprometer o resultado.
Na primeira etapa que se anunciava já muito difícil, com os 414 km de especial onde apanhamos 130 km de trial com pedra vulcânica, onde inevitavelmente furamos, pela segunda vez, já após um primeiro furo logo nos km iniciais. Foi uma especial muito longa, mais de 6 horas com os últimos 60 km a serem feitos de noite, um verdadeiro pesadelo para a navegação, que se dia quando se vê todas as pistas já é muito difícil, à noite torna-se quase impossível.
Mas seguindo rigorosamente os rumos e as distâncias lá viemos a passo de caracol, sempre no caminho certo. Os dois furos condicionaram o nosso andamento e tivemos de vir mais devagar nos últimos 200 km.
A segunda etapa deste Dakar levou-nos por pistas extraordinárias, paisagens espetaculares e longos cordões de dunas altas e difíceis, até parecia que estávamos na Mauritânia. Fizemos uma etapa limpa com apenas um pequeno atascanço no topo de uma duna, onde perdemos uns minutos, mas antes uns minutos no topo da duna do que umas horas de rodas para o ar na sua base, pois é muito fácil passar a crista da duna com demasiada velocidade, saltar e em seguida, aterrar de bico e capotar. Tivemos 2 transfers para evitar passar em 2 parques naturais onde ainda vivem gazelas em liberdade.
Terceira etapa, etapa maratona, ou antes etapa meia maratona, pois tivemos duas horas de assistência logo a seguir ao final da especial. Depois fizemos uma ligação de 170 km já de noite, até um bivouac da Dechatlon pois é o único tipo de tenda que se vê, com exceção de umas tendas especiais para algumas equipas também especiais. Em resumo, esta terceira etapa do Dakar, não teve grande história.
Andámos praticamente sempre no pó de outros concorrentes, após um furo logo ao km 13. Imagino que as paisagens fossem fantásticas, mas nós não víamos um palmo à frente do nariz. Só nas dunas podemos andar à vontade, mas mesmo assim ainda parámos uma vez.
No dia seguinte, a etapa número 4, embora mais curta, não foi necessariamente mais fácil; 200 km de ligação no início e mais 200 km no final, totalizando 400 km de ligação para fazer 300 de especial… enfim, é o Dakar.
Neste segundo dia da etapa maratona tivemos uma especial sem grande interesse, com excepção dos últimos 25 km, que foram feitos em dunas nível 1 e 2, mas bastante técnicas e com passagens difíceis. A primeira parte foi muitíssimo rápida, com constantes mudanças de direção a dificultar muito a navegação. A nós correu-nos muito bem e subimos algumas posições.
Para a quinta etapa tivemos de fazer uma ligação para sul de 508 km para fazer uma especial de 118 km, que mesmo assim ainda teve um transfer de 9 km para evitar algumas dunas perigosas, o que na minha opinião não se justificou.
Foi uma etapa sem grandes aventuras, onde regressou uma avaria que já tínhamos tido no rali de Marrocos. Uma das duas ventoinhas do radiador do líquido de refrigeração do motor, parava de funcionar, o que provocava um aumento súbito da temperatura do motor. A solução que encontrei, foi com o meu canivete forçar a ventoinha para um lado e para o outro, de modo a voltar a funcionar, e o facto é que até agora funcionou sempre. Apesar de termos montado uma nova para este Dakar, a avaria já voltou a acontecer mais vezes. Na segunda parte da especial, quando entrámos nas dunas maiores, o Gintas ficou mal disposto e tivemos de vir mais devagar”, escreveu José Marques.
Os últimos dois dias e duas noites, foram passados no Empty Quarter, primeiro em bivouac onde a internet não funcionava e depois no deserto mais profundo, no meio de dunas gigantescas com centenas de metros de altura, onde não existe mesmo nada, nem sinal GSM.
Foi um descanso, sobretudo na última noite, passada de baixo de um bilião de estrelas, que só no deserto é possível ver. Chegámos mesmo ao fechar do controlo que nos obrigava a parar para passar a noite, a organização deu-nos uma tenda e um saco cama, 6 litros de água, uma ração de combate e um saco de lenha. Juntamos-nos com outras equipas e motards que iam chegando, montámos as tendas, acendemos as fogueiras e aquecemos umas latas de comida, foi dos melhores jantares que já tivemos.
Ficámos à volta das fogueiras a contar as histórias e aventuras do dia, até o sono aparecer. Todos com quem falámos, gostaram muito desta experiência e acham que deve ser repetida na próxima edição. Foi quase como um regressar às origens do Dakar, todos os concorrentes sozinhos, por conta própria a ajudarem-se uns aos outros. Regressámos cansados e felizes por termos superado o Empty Quarter, mas muito satisfeitos de o ver pelas costas. Entregámos o carro à assistência no bivouac de Shubaytah e viemos de avião para Riad (800 km).
Hoje é o dia de descanso para os concorrentes mas não para os mecânicos, que têm de reconstruir motas, carros e camiões para mais 6 etapas que, de acordo com quem fez o roadbook, não vão ser mais fáceis do que as da primeira semana”, escreveu José Marques.
Na segunda, em que partiram da 47ª posição, um azar logo no arranque voltou a atrasá-los caíram para o 58º lugar da geral mas a partir daí foi sempre a subir até ao último dia de prova: “Agora começamos o dia com um carro novo. Os rapazes recuperaram o Optimus MD das mazelas do dia anterior e o novo software instalado, resolveu os problemas do reset da bomba de água. Foi uma etapa sem grande história, com um início de 100% de areia, com dunas nível 1 e nível 2, algumas bem difíceis de ultrapassar. Numa delas ficamos presos na crista, de modo que lá trouxe mais um bocado de areia nas botas. Depois tivemos um transfer de 170 km seguido de uma parte bem mais dura e com a navegação muito exigente” explicou José Marques que foi contando as histórias mais relevantes dos dias seguintes, da segunda semana do Dakar: “Agradeço a todos as mensagens de apoio enviadas ao longo desta edição do rali Dakar. Leio todas elas com atenção, e se é bom recebê-las quando tudo corre bem, é muito bom quando as coisas correm mal, como foi agora o caso. Anima-nos saber que tantos amigos seguem as nossas aventuras e estão a torcer por nós. Muito obrigado a todos!
Mas hoje é daqueles dias em que não apetece escrever nada, só dizer mal da organização. A especial até começou bem em dunas espetaculares, com subidas impossíveis e passagens espetacular, a exigir muito da condução e da navegação. Logo de início o Gintas sentiu que o carro já não tinha a mesma força ao subir as dunas, e tínhamos mais dificuldades em ultrapassá-las; ele e os mecânicos acham que o motor está a chegar ao fim da sua vida útil. Vamos ver se conseguimos…
A meio da especial com a preocupação de não forçar muito o motor nas subidas das dunas, cortámos caminho e passámos ao lado de um waypoint que ficava num buraco. Para não perder mais tempo e não forçar ainda mais o motor decidimos continuar em vez de voltar para trás para o apanhar, nós e mais 30 carros… A partir de anteontem, com a paragem para a reparação da roda, o objetivo de uma boa classificação deixou de ser possível, a nossa prioridade era gerir os danos e tentar acabar. A partir do meio da especial e até ao final, deixou de ser TT e passou a ser trial, com dezenas de kms em segunda velocidade por cima de pedras de todos os tamanhos, grandes superfícies rochosas intercaladas de areia mole, onde nem podíamos encher muito os pneus porque se não atascávamos, mas com os pneus mais vazios corríamos o risco de furar, e até agora considero um milagre não termos tido pelo menos um furo”, contou.
“A décima especial deste Dakar 2024 foi extremamente rápida, muito dura em algumas partes, mas nada que se compare com o disparate de ontem. Passámos por paisagens fabulosas, com pistas dentro de canyons e vales sem fim, que hoje, por termos feito a maior parte da especial sem pó, deu para apreciar. Navegação e a condução bastante exigentes, ao longo de toda a etapa. No entanto por volta do meio da etapa, não nos livrámos de um grande susto. Estávamos a entrar numa zona muito rápida, e o Gintas pediu-me para subir a pressão dos pneus. No momento exacto que carreguei no botão para ligar o compressor, o carro pura e simplesmente parou de trabalhar e desligaram-se todos os sistemas. Pensei logo que o compressor estava em curto circuito e tinha desligado todo o sistema elétrico do carro. Tentámos fazer reset ao carro, desligar e voltar a ligar, mas nada nem sinal vida, nem uma luzinha. Perguntei onde estavam as ligações elétricas e o Gintas olhou para baixo e mesmo por debaixo dele estava o cabo que faz massa a todo sistema desligado. O terminal tinha-se descravado e o circuito elétrico não estava ativo. Saí logo do carro para ir buscar a ferramenta, o Gintas nem saiu da bacquet e improvisou nova ligação à massa. Voltámos a ligar o carro e fomos embora até ao final. Sobre a vida útil do motor, parece que ele vai aguentar até ao final. Depois de mais uma intervenção dos rapazes, hoje funcionou melhor, já com a potência normal. Vamos fazer figas para que assim continue.
No dia seguinte estava prevista uma especial duríssima. Pedra, pedra e mais pedra, uma travessia de um pequeno cordão de dunas e depois pedra e mais pedra e ainda mais pedra; pequenas, médias grandes e gigantes, mas afinal não foi nada do que nos foi apresentado no briefing de ontem. Antes pelo contrário, muito dura mas não com a quantidade de pedra anunciada. Acho que o Castera quis fazer psicologia inversa, mas não funcionou muito bem. Foi uma especial bem melhor e mais equilibrada do que o disparate da etapa 9, com pistas tipo WRC a dar muito prazer de condução aos pilotos, com zonas muitíssimo rápidas, passagens e subidas de dunas bem difíceis. Algumas partes com muita pedra mas sempre em pista, e algumas passagens em zonas de trial completamente justificadas. A navegação muito difícil, sobretudo quando íamos no pó, tivemos por isso de voltar para trás três vezes. Mas a história desta etapa, aconteceu mais ou menos a meio, quando o Iritrack a tal caixinha que permite à organização saber sempre onde andamos e a nós comunicar com ela se precisarmos, começou a soltar-se quase arrancando os cabos de ligação. Como não nos “apetecia” parar para retificar a fixação e não havia melhor sítio para a levar pois o cabos são muito curtos, coloquei-a debaixo da perna esquerda que foi encolhida durante 100 km até uma zona de velocidade controlada, onde tive tempo para o fixar melhor. O Iritrack tem o tamanho de uma caixa de lenços de papel das grandes… vou ficar com uma bela nódoa negra na perna” contou José Marques, com a dupla a fazer na última etapa o seu segundo melhor resultado em todo o Dakar: “A última etapa deste Dakar 2024 teve, tal como anunciado, uma especial onde ainda muita coisa podia acontecer, e os resultados podiam ser alterados.
Logo desde o início da especial, fomos encontrando carros parados com avarias ou a mudar pneus furados, outros ainda vítimas de acidente mais ou menos graves, mas que implicaram a desistência.
Tudo isto a poucos km do final do rali. Como ainda podia-mos subir pelo menos mais uma posição na geral, arrancámos com algum cuidado para não furar no início mais pedregoso, mas depois aumentamos o ritmo até apanhar o concorrente da frente, a cerca do meio do percurso.
A partir daí seguimos sempre no pó dele, apesar dos insistentes pedidos de ultrapassagem. Chegamos a bater forte em duas pedras, mas felizmente sem nenhum dano.
Mesmo assim, no final subimos ao quinquagésimo lugar da geral, por uma vantagem mínima de 3 minutos e 23 segundos, isto ao final de mais de 60 horas de sectores seletivos. Fizemos ainda o lugar 28 da classe Ultimate.
Na subida ao pódio final era impossível esconder os sorrisos de felicidade, por termos terminado com sucesso, aquela que para muitos veteranos do Dakar foi das mais difíceis edições de sempre, e sem dúvida a mais difícil desde que o rali se mudou para à Arábia Saudita”, disse José Marques.
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