OPINIÃO: Poderá o Mundial de Ralis ter novamente, um dia, 305 equipas numa lista de inscritos?
Sabia que na história do Mundial de Ralis o Monte Carlo ocupa os primeiros seis lugares da tabela de maior número de inscritos? 1982, 305 concorrentes, 1973, 278; 1981, 274; 1983, 263; 1979, 255 e 1980, 255. Provavelmente, são números que nunca mais serão batidos. Pelos menos com as atuais regras dos Mundial de Ralis. ‘Nunca’ é uma palavra que não se deve utilizar, mas tendo em conta o que sabemos agora, é ‘obrigatória’. Talvez um dia…
O ACM, Automóvel Clube do Mónaco foi severamente criticado por ter deixado de fora cerca de 20 concorrentes, que tinham feito a sua inscrição. Em resposta às numerosas críticas recebidas, o ACM sentiu necessidade de vir a público explicar a sua versão dos acontecimentos. Em comunicado, Eric Barrabino, Diretor do Rallye Monte-Carlo, refere que as razões pela qual ficaram de fora 42 equipas. Em primeiro lugar explicou que foram 112 a inscrições recebidas para o Rali de Monte Carlo, mas só 93 delas cumpriam todos os requisitos do regulamento específico da prova, mas ainda assim, tiveram de reduzir o número a 70: “Os nossos serviços registaram 112 inscrições, 93 das quais correspondiam aos critérios estipulados no nosso regulamento específico, mas infelizmente tivemos de rejeitar 23 delas. Como organizador, ter de recusar participantes não é algo que se faça de ânimo leve, acreditem! Não vou entrar em pormenores sobre a verdadeira dor de cabeça que é a seleção, mas foram tidos em conta inúmeros critérios para, no final, permitir que cerca de vinte equipas regionais se expressassem contra uma elite internacional. A curto prazo, é natural que se façam algumas pessoas felizes… e, infelizmente, outras infelizes!
O nosso maior desejo é agora poder esperar, a longo prazo, encontrar uma área de mais de 30.000 m2 para aumentar a capacidade do parque de serviços e oferecer-nos assim a possibilidade de aceitar todas as candidaturas, tanto de profissionais como de amadores…”.
Como é óbvio a primeira ‘culpa’ é do ACM, pois é o clube que determina onde vai ser a ‘base’ dos ralis.
Mas para que as pessoas percebam melhor as condicionantes, tudo começa aí, no espaço que é encontrado para servir de base.
Gap é uma comuna francesa com pouco mais de 40.000 habitantes no departamento de Hautes-Alpes, na região Provence-Alpes-Côte d’Azur, e a cidade mais populosa da metade sul dos Alpes. Podiam ter escolhido Grenoble, mas são cerca de mais de 100 Km para cima e bem mais longe dos troços que interessam nos Alpes.
Portanto, Gap, faz toda a lógica para ter uma prova com muito maiores possibilidades de ser invernal.
Presumindo-se que, se não encontraram espaço maior, foi porque não existe, pois um ‘Quartel-General’ duma prova do WRC não é só espaço. Requer um conjunto de ‘coisas’ que o caderno de encargos da FIA obriga. Portanto, se o ACM se tem de reger com os regulamentos da FIA, como é lógico, está de mão atadas em muitas situações.
Vejamos o Rali de Portugal. A Exponor é perfeita. Mas ter 200 inscritos é quase impossível. Talvez ainda dê para 100, não tem andado lá longe, mas agora vejam: duas passagens pelos troços! Como se consegue fazer passar toda a gente em troços de terra com dois minutos a separá-los?
Fazer um rali em linha? Não faltam troços, é verdade. Mas quem paga o dobro dos controladores, polícia, bombeiros, Marshalls, etc, etc, etc. Se já assim é difícil conseguir apoios, vai-se encarecer a prova?
Tudo isto para dizer que é muito bonito ser ‘saudosista’, “antes é que era”. Pois era, mas os tempos mudaram, já não voltam, e as muitas condicionantes, ajudam a explicar porque, por vezes não se faz diferente quando se percebe que seria melhor. É que estar deste lado é fácil, é só criticar, do ‘outro’ é que é difícil.
Claro que isto não significa que não possamos criticar o ACM, talvez pudesse ter sido encontrada outra solução, isso não sabemos, mas o que temos a certeza é que para a ASO fazer o bivouac do Dakar, falta de espaço é argumento que nunca existirá…