CPV/SE: A trajetória de José Carlos Pires e Francisco Abreu rumo ao título do GT4

Por a 27 Dezembro 2023 12:34

Para José Carlos Pires, Francisco Abreu e a Speedy Motorsport, a participação no Iberian Supercars e Campeonato de Portugal de Velocidade em 2023 representava um salto para o desconhecido. Apesar de todos os desafios, o trio, assente num carro completamente novo e muito competitivo, conquistou os títulos que disputava.

 

Este ano José Carlos Pires e Francisco Abreu abraçavam um novo repto para as respectivas carreiras, participando na mais importante competição da Península Ibérica.

 

Os dois pilotos nunca tinham feito equipa e, para aumentar a incógnita para uma época que se adivinhava exigente, tinham ao seu dispor o novíssimo BMW M4 (G82) GT4, lançado para este ano pela marca de Munique, ao passo que a Speedy Motorsport, pela primeira vez, tomava parte no Iberian Supercars Endurance e no Campeonato de Portugal de Velocidade.

 

José Carlos Pires aponta, precisamente, o tamanho da montanha que toda a equipa e pilotos tinham de escalar: “no início esperava uma temporada com desafios, competitiva, em que eu tinha de me habituar a um carro com mais de 1500kg de peso e mais de 400cv, algo em que nunca tinha competido de forma regular em toda a minha carreira. Esperava um leque de pilotos experiente a partilhar a pista connosco e nós não sabíamos como estaríamos a nível de competitividade global: pilotos, equipa e carro! Esperava também um piloto forte, como é o caso do Francisco, para meu colega de equipa”.

 

Francisco Abreu afina pela mesmo diapasão do seu parceiro aos comandos da máquina bávara, muito embora sublinhe o facto de a Speedy Motorsport se estar a envolver no Iberian Supercars e no Campeonato de Portugal de Velocidade lhe dava garantias fortes.

 

“Bom, no início esperava, desde logo, um campeonato competitivo com muitos carros e adversários à altura. Tudo era novo para mim. A Speedy Motorsport era uma equipa nova. Não conhecia o Zé Carlos nem o BMW M4 (G82) GT4, mas conheço o Pedro Salvador há muitos anos e sabia que se ele me contactasse seria para um projeto vencedor. Tenho acompanhado a Speedy Motorsport desde a sua nascença, portanto, quando aceitei o desafio, esperava um campeonato duro, mas com condições de lutar pela vitória. Senti que era um bom momento, aceitar este desafio na minha carreira”, sublinhou o piloto madeirense.

 

Desde cedo que o duo do BMW M4 GT4 da Speedy Motorsport se mostrou competitivo, com duas pole-positions no primeiro fim-de-semana da temporada, que teve como palco o Autódromo Internacional do Algarve, mas isso não aconteceu sem contrariedades, algumas das quais inerentes à própria competição.

 

“O pouco tempo em pista com o BMW para o colocar a 100% foi um desafio. Era um carro novo, do qual não tínhamos histórico, o que nos obrigou a aprender ao longo de toda a temporada… até à última corrida, no Estoril. No Estoril, fomos quase de certeza, e também devido ao BoP, um dos carros menos competitivos da grelha. O Estoril era a etapa do campeonato em que não se podia ‘deitar pontos fora’ e não podíamos falhar”, apontou José Carlos Pires.

 

Francisco Abreu, muito embora admita que o BoP foi um factor na performance do carro da Speedy Motorsport e o ‘handicap’ para a segunda corrida um que não ajudou a equipa, prefere enaltecer como toda a estrutura foi ultrapassando todas as contrariedades durante uma temporada muito seletiva: “não foi fácil lutar contra o ‘handicap’ de dez segundos da segunda corrida e o equilíbrio do carro para cada tipo de pista. Acertar o equilíbrio do BMW, que contou com sucessivas penalizações de BoP ao longo do ano, foi um grande desafio, mas que ultrapassámos na perfeição, mesmo sem experiência com este carro. Estou muito feliz com os dados que acumulámos e com a eficácia com que fomos evoluindo ao encarar cada fim-de-semana. No final da temporada estávamos muito penalizados, ao nível da potência, do peso e da altura do carro”.

 

O cenário para uma temporada disputada em que todos os pontos seriam determinantes estava montado, tendo os Campeões deste ano em Nuno Pires, o irmão de José Carlos, e Elias Niskanen, o campeão de 2022, os grandes adversários, num título que se decidiu apenas na última corrida da época.

 

José Carlos Pires admite que as contingências das corridas acabaram por ser determinantes para o desfecho final: “o Nuno Pires e o Elias Niskanen foram sem dúvida os nossos grandes rivais, pela competitividade e regularidade que os dois mostraram desde o início, no Algarve. Nós, no Algarve, a primeira corrida do ano, que tínhamos um carro muito competitivo, perdemos valiosos pontos que nos fizeram sofrer na temporada toda (n.d.r.: não puderam alinhar na pole-position para a primeira corrida por terem apanhado os semáforos da via das boxes fechados e na segunda corrida sofreram um toque logo na primeira travagem). Por outro lado, a Lema Racing tinha um carro muito competitivo no Estoril, talvez o melhor de todos naquele fim de semana, e foi onde fizeram menos pontos (n.d.r.: sofreu um toque na segunda corrida quando liderava que os atirou para o abandono na segunda corrida)… Por vezes é assim!”

 

Francisco Abreu concorda com o seu colega de equipa, apontando Nuno Pires e Elias Niskanen como adversários muito fortes, assentes numa estrutura que conhece bem o seu carro. “A Lema Racing é uma das melhores equipas da Europa. São uma equipa que já conta com muitas dezenas de milhares de quilómetros com o Mercedes AMG GT4 e sabíamos que não nos iam deixar uma tarefa fácil. Foram adversários à altura e na última prova, no Estoril, tínhamos alguma margem para defender e foi isso que fizemos. Conseguimos o objetivo de sermos Campeões de Portugal de Velocidade, outra vez, e vencer o Iberian Supercars Endurance”, frisou o madeirense.

 

Estas duas duplas protagonizaram uma batalha pelo título ao longo de toda a época, o que criou um final de temporada, tendo o Autódromo do Estoril como palco, entusiasmante, tenso e com volte de faces dramáticos, um desfecho de antologia.

 

A intensidade com que lidaram foi bem patente nos protagonistas, mas isso só dá ainda mais valor às conquistas do duo do BMW M4 (G82) GT4. “Eu gosto, quase sempre, mais da viagem do que somente do destino! O que retiro de 2023 foi a aprendizagem de trabalhar com a Speedy Motorsport num carro e projecto novos, um colega de equipa com quem gostei de partilhar o carro, as disputadas qualificações e as batalhas e ultrapassagens que adorei e aconteceram em pista. O título no final é resultado de um processo de trabalho de pilotos, equipa, dedicação e exigência de todos – puxámos uns pelos outros! A experiência que tínhamos na última corrida do Estoril como equipa levou-nos a que, com um carro inferior ao que tínhamos no Algarve, fizéssemos um bom trabalho e pontuássemos bastante mais!”, sublinhou José Carlos Pires.

 

Para Francisco Abreu, para além do seu valor inerente, este ceptro tem um sabor muito especial: “tem um significado muito grande para mim. É um título que marca os vinte anos da minha carreira, desde o início, nos tempos no Kartódromo do Faial, onde comecei em 2003, aos dias de hoje e que é o quarto título consecutivo na Península Ibérica. Sinto-me aliviado e quero deixar este título a todos os que me acompanham desde sempre: família, amigos e patrocinadores”.

 

Depois do retumbante sucesso deste ano, José Carlos Pires coloca o foco em defender o campeonato, em 2024, reconhecendo que é necessário dar um passo em frente, dado que a concorrência estará desejosa de suplantarem os campeões. “Os planos para 2024 são continuar a fazer GT4, o mais provavelmente no Iberian Supercars e Campeonato de Portugal de Velocidade. A ideia é defender o título, claro, e sermos ainda mais fortes e consistentes do que em 2023”, enfatizou o piloto do BMW da Speedy Motorsport.

 

Por seu lado, Francisco Abreu admite ainda alguma incerteza quanto ao passo seguinte da sua carreira, mas sublinha que em equipa que ganha, não se mexe: “neste momento não tenho planos. Se surgir a oportunidade gostava de voltar para defender o título, se possível, de novo com a Speedy Motorsport e com o José Carlos, mas não sei o que me espera. Todos os anos é assim nesta altura do ano. Espero conseguir montar um projeto que seja, de novo, vencedor.

A Velocidade portuguesa entrou de novo no caminho certo, quando temos grelhas de 30 carros, metade dos quais GT4. Um Feliz Natal e um excelente Ano Novo a todos os amantes do automobilismo”.

 

Num plantel que tem vindo a crescer de qualidade, assistiu-se a um duelo entre a experiência e a novidade, acabando por serem os estreantes a levar a melhor, evidenciando que, se um projecto for bem delineado e colocado em prática de forma consistente, poderá ser competitivo desde início no Iberian Supercars e Campeonato de Portugal de Velocidade.

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