Opinião: A F1 quer mudar, mesmo contra a vontade dos pilotos e dos fãs
As mudanças que a F1 tem feito no seu formato tem sido alvo de críticas, muitas delas vindas do interior do desporto. Mas Stefano Domenicali acredita que a F1 tem de mudar, pois o mundo também muda.
Um dos pontos que mais discussão tem suscitado é o da corrida Sprint. O novo formato, pensado para apresentar uma corrida sem vertente estratégica, em que o que conta é apenas a velocidade pura e dura, foi recebido de forma morna. No fundo, a resposta aos muitos que questionavam como seria uma corrida de F1 sem limitações de combustível e pneus. Várias pessoas demonstraram o seu agrado com o novo formato, mas a maioria continua a torcer o nariz. As corridas Sprint pouco trazem neste formato e apenas vemos provas de pouco mais de 20 voltas em que a lei vigente (neste caso o domínio Red Bull) se faz sentir. Este novo formato teve o condão mostrar que o fim de semana pode ser estruturado de outra forma e que talvez com menos treinos livres poderemos ter um fim de semana mais emocionante desde sexta-feira.
Há alguns meses fizemos a nossa proposta para um F1 um pouco melhor, com um calendário diferente e um formato de revisto. São mudanças que poderiam trazer algo mais à F1. No caso das corridas Sprint, é difícil ver as vantagens que elas trazem ao espetáculo. Já vimos boas provas Sprint, mas tal como os GP vamos ter boas e más corridas. E o facto de haver más corridas não significa que o desporto está errado. Más exibições fazem parte do desporto. Quanto jogos de futebol já vimos em que o resultado acaba 0-0, com prestações pobres de ambas as equipas? Ninguém questiona a necessidade de mudar radicalmente o desporto. São feitas, sim, mudanças pontuais e de pormenor que podem melhorar o jogo. Na F1 parece que se vai por uma via mais radical.
Stefano Domenicali confirmou que a F1 vai mudar o formato das Sprint, pois os dados mostram interesse. E a vontade de implementar mudanças do lado do formato e da organização do fim de semana mantém-se. Aplicando uma comparação futebolística, é o equivalente a tentar tornar o campeonato nacional mais competitivo, organizando jogos de futebol de cinco entre as equipas do campeonato, apenas para ver se as equipas pequenas conseguem dar mais luta assim, quando todos sabem que o cenário se vai manter.
“Vamos manter seis corridas de sprint no calendário, mas estamos a pensar em algumas alterações operacionais” disse Domenicali. “As datas mostram que há interesse, porque o conceito de dias dedicados apenas aos treinos livres [sextas-feiras] não mostra a direção certa neste momento. Todos os desportos estão a mudar, todos têm de ter em conta o que está a acontecer no mundo.”
O que é preciso é pensar em tornar o desporto mais competitivo, tentar puxar as equipas mais pequenas para cima, e evitar que as vantagens das equipas grandes sejam demasiado vincadas. Elas vão existir sempre, mas se tivermos mais competitividade, o espetáculo ganha. Zak Brown propôs uma ideia que poderia ser interessante. Na opinião de Brown, o limite orçamental em vigor, “impede as equipas de gastarem demasiado”, enquanto os regulamentos reduzem as possibilidades dos monolugares serem muito diferentes uns dos outros. “Por isso, se quisermos ver coisas diferentes, devemos ter liberdade nos regulamentos”, concluiu o responsável da McLaren sobre o tema. Seria uma forma interessante de tentar algo diferente, mas nada nos garantiria de ver equipas a dominar. Porque na F1 essa tem sido a tendência. Há uma equipa que faz um trabalho melhor e domina enquanto as outras tentam replicar e chegar ao mesmo nível. Isso sempre aconteceu e vai acontecer.
O que é preciso é dar ferramentas para que esses domínios sejam mais curtos, e o limite orçamental, tal como a limitação dos tempos de túnel de vento e CFD mediante o resultado final são ideias que a médio prazo podem permitir isso. Mudanças de pormenor que podem de facto mudar a F1 para melhor. São essas pequenas mudanças que devem ser implementadas, para que o GP ao domingo seja interessante. O resto… parece-nos que terá pouco efeito e serve apenas para tornar o espetáculo demasiado carregado.