OPINIÃO: Oferta de emprego, precisa-se de ‘Spin Doctor’ para o WRC…
Acho sinceramente que os responsáveis do Promotor do WRC, e dos Ralis da FIA devem ter caído da cadeira quando ficaram a saber que Kalle Rovanpera não iria fazer uma temporada completa no Mundial de Ralis de 2024. Andamos aqui há meses a escrever artigos sobre o que há a fazer para que o WRC volte a ganhar a importância que já teve, ou que pelo menos dê passos para caminhar nesse sentido, e o que nos cai em cima da mesa é o bicampeão do Mundo, Kalle Rovanpera, um jovem com 23 anos, ir fazer um programa parcial porque “faz ralis há muito, muito tempo. Achei que era um bom momento para fazer uma pausa, recarregar as baterias e ter um pouco de tempo livre para me concentrar no futuro e ter mais energia e mais força nos próximos anos”
A primeira coisa que me veio à mente foi recordar que, por exemplo nos anos 80, os pilotos do WRC, se não todos, pelos menos a grande maioria entre os melhores, vinham para Portugal treinar 15 dias para depois terem mais uma semana de prova. Faziam-se 12 provas no Mundial de Ralis, hoje fazem-se 13, e o campeão precisa de descanso.
É verdade que o mundo hoje em dia anda muito mais depressa, não havia stress nos anos 80, não quero ir pela paixão que uns sentem ou deixam de sentir, não sou adepto do que “antes é que era”, prefiro sempre pensar como é que vai ser a seguir, por ‘este’ já acabou, mas para um jornalista que quer que o WRC seja tão bom, salvaguardadas as devidas distâncias, ao que já viveu no passado, e nem sequer é preciso falar de um passado muito distante, o que temos para já, antes da FIA e do WRC divulgarem as medidas para 2024 que visam melhorar o WRC, é o campeão do mundo que precisa de descanso.
Nesta altura tenho a perfeita convicção que se o WRC contratasse o melhor spin doctor do mundo – aqueles personagens que se veem muito, especialmente na política, profissionais de ‘relações públicas’ ou ‘marketing’ político especializados em controlar a apresentação de informações, eventualmente torcendo-as, a fim de favorecer determinada interpretação ou opinião, basicamente, elementos que usando uma metáfora, dão a volta à verdade, fazem-na sair da sua trajetória normal…
Nem com o melhor dos spin doctors o WRC consegue sair de onde se meteu.
Seja porque prisma se olhe para isto, é muito mau para uma competição que está mal há alguns anos. Como se explica a um adepto que o Campeão foi-se embora, ficou em casa a descansar, ou preferiu ir fazer Drift? Imagine-se Max Verstappen fazer um ano sabático para jogar eSports…
O WRC 2024 prepara-se para ter novamente apenas duas equipas com pilotos capazes de ganhar provas. É claro que a dinâmica da luta pelo título irá ser diferente. Saíra daqui o novo campeão: Elfyn Evans, Thierry Neuville e Ott Tänak? Razão tinha Thierry Neuville quando disse recentemente, “é para o ano ou nunca mais…”
Seja como for, se calhar também não vale a pena ser tão dramático porque em 2025 já poucos se vão lembrar que Kalle Rovanpera só fez meio campeonato em 2024, quando festejar o tri em 2025…
Em 2024 haverá uma grande diferença face há 10 anos, quando em 2013 Sébastien Loeb também deixou de correr a tempo inteiro. A Volkswagen chegou ao WRC, e foi o melhor que podia ter acontecido naquela altura. O timing foi perfeito. Nove títulos de Sébastien Loeb, depois o reinado de Sébastien Ogier. Tal como está agora a suceder na F1, estamos a assistir à história a fazer-se, daqui a muitos anos no WRC, se ainda existir, falaremos dos feitos de Loeb e Ogier nessas décadas.
Até aqui olhámos para o copo meio vazio…
Mas também podemos também olhar para o copo meio cheio: podemos ter uma bela luta pelo título entre Elfyn Evans, Thierry Neuville e Ott Tanak.
Não embarco com um título com menos valor. Valem todos o mesmo. Quem lutar por ele e o vença, merece créditos.
Vamos ver o que sucede em 2024, se daqui a 12 meses o WRC ainda estiver bem pior do que está agora, pelo menos (achamos nós) podemos estar a salivar por uma coisa: Kalle Rovanpera volta em 2025…