F1: Pilotos querem ter mais influência nos regulamentos
Em relação a novas regras na Fórmula 1 – desportivas, técnicas e agora financeiras – a FIA é a entidade que as elabora, aprova e fiscaliza, mas há sempre uma troca de impressões com as equipas e detentores dos direitos comerciais sobre a sua necessidade e como devem ser elaboradas, tanto através de diversas comissões e conselhos consultivos. No entanto, os pilotos, aqueles que lutam pelos pontos, vitórias e títulos, não têm de ser ouvidos nesta matéria, podendo haver apenas consultas informais em relação a alguma matéria que possa suscitar mais dúvidas. Por isso, e não sendo a primeira vez que isso acontece, os principais protagonistas do mundial de monolugares gostariam que a Grand Prix Drivers’ Association – Associação de Pilotos de Grandes Prémios – (GPDA) fosse mais ouvida e a opinião de todos tido em conta na altura de pensar e elaborar novas regras.
Criada em 1961 com o objetivo de lutar pela melhoria das condições de segurança nas provas de Fórmula 1, a GPDA foi criada e foi determinante na luta dos pilotos desta competição para as suas pretensões, que, visto a esta distância temporal, era básica: não morrer nas pistas enquanto faziam aquilo para que eram pagos e gostavam.
A sua força enquanto associação ficou demonstrada pelas alterações que foram surgindo e pelo avançar da padronização de medidas de segurança que foram sendo afinadas, e continuam a ser, até aos nossos dias, além dos boicotes a corridas nas décadas de 60 e 70 do século passado. Foi dissolvida em 1982, mas depois da morte de Roland Ratzenberger em 1994 os pilotos sentiram a necessidade de a reativar, ganhando novo ímpeto pelo acidente sofrido por Ayrton Senna no mesmo fim de semana em Imola, resultando no falecimento do piloto brasileiro. Desde essa altura, a GPDA mantém-se em atividade, mas foi perdendo alguma força.
No ano passado, após o ataque a uma instalação petrolífera perto do circuito que serviu de palco do Grande Prémio da Arábia Saudita, os pilotos reuniram-se com a Fórmula 1 e equipas, mostrando alguma falta de união. Alguns queriam cancelar a prova por falta de condições de segurança, mas a prova realizou-se à mesma, não havendo um consenso generalizado entre os protagonistas.
Em alguns casos, até porque são questionados durante as conferências de imprensa e depois difundidas as suas declarações pelos vários órgãos de comunicação social e redes sociais, as opiniões dos pilotos são tidas em conta e apresentam-se, algum tempo depois, ideias para alterações de regras. Aconteceu com o peso e medidas excessivas dos atuais monolugares: em julho de 2022, durante o GP da Hungria, alguns pilotos responderam à questão do que mudariam nos monolugares, respondendo que gostariam de pilotar carros mais leves e mais pequenos, levando a que, em junho deste ano, o Presidente da FIA falasse nessa tema numa entrevista – “Precisamos de um carro mais leves” – sendo uma das questões discutidas pela Comissão de Fórmula 1 na reunião do mês seguinte. Sendo considerada uma proposta “irrealista” por Max Verstappen, os pilotos são da opinião que é necessário tornar os carros mais leves e pequenos, mas chamaram a atenção que o regulamento técnico atual e o que irá vigorar em 2026 caminham na direção oposta.
A relação entre pilotos e FIA já teve melhores dias, sofrendo bastante por causa das decisões tomadas pela entidade federativa e que são consideradas inconsistentes por quem compete em pista. Por isso, gostariam que a sua associação pudesse ter mais ‘voto’ nas matérias regulamentares em discussão.
Em São Paulo, por causa da alteração levada a cabo pelo diretor de corrida sobre as paragens no pitlane, Lando Norris, Max Verstappen e Sergio Pérez tomaram a dianteira da discussão e foram muito diretos quanto ao que pensam.
“Não temos voto na matéria. São simplesmente implementadas [as alterações às regras], independentemente de acharmos que são boas ou más para o desporto”, começou por dizer Norris na conferência de imprensa pós corrida Sprint, dizendo mais à frente que considera existirem “cada vez mais regras para tudo e isso causa cada vez mais estragos para toda a gente”. Não querendo ser mal entendido, Norris esclareceu que “só disse que não temos controlo sobre as decisões. É claro que eles [FIA] nos ouvem e levam em conta, mas se de repente pedirmos ‘podem fazer isto’, é claro que eles ouvem, mas isso não significa que vai ser algo que vai ser alterado de imediato. E, por vezes, é para mais tarde”.
Sobre o mesmo tema, Max Verstappen disse que “por vezes, há demasiadas regras que têm de ser tidas em conta e demasiadas políticas para se poder fazer uma alteração ou tomar uma decisão. Claro que eu gostaria, enquanto GPDA, de ter uma palavra a dizer. Gostaria de ser o dono da F1 se pudesse – sabem o que quero dizer – mas esse não é o mundo real. Continuamos a expressar as nossas preocupações, mas também o que foi feito corretamente. E mantemos esse diálogo, digamos, aberto, tentamos sempre fazê-los ouvir, e nós também ouvimos, tentamos comunicar e veremos o que resulta disso nos próximos anos”.
Já o seu companheiro de equipa, Sergio Pérez, é da opinião que “seria melhor se a GPDA pudesse ter um pouco mais de influência, porque a GPDA não é apenas um único piloto. É a direção, é a maioria de todos nós que vivemos o desporto e, sim, seria bom ver, num futuro próximo, que eles [FIA] consideravam mais a opinião da GPDA como associação”.
Sem dúvidas que a opinião dos pilotos traria uma outra componente quando se discutissem novos regulamentos, é improvável que isso se traduza no facto de conseguirem o fazer valer o seu ponto de vista. Por mais de uma vez, não mostraram união e, como referimos antes, a GPDA parece ter perdido força.