Fórmula 1: A encruzilhada da Haas

Por a 10 Novembro 2023 10:13

A Haas está na iminência de terminar a temporada no último lugar do Campeonato de Construtores, algo que pode acontecer a diversas equipas, mas o problema da formação norte-americana é que o seu modelo de participação parece estar esgotado, podendo estar a se aproximar o momento certo para Gene Haas vender a sua equipa.

Todos os anos tem de haver um último classificado, é inevitável, mas quando a Williams ficou com esse lugar durante três anos consecutivos, sabíamos que os maus resultados se deviam à falta de financiamento da formação de Grove.

Mesmo quando a Haas terminou em último, em 2021, todo o paddock percebeu que aquele era um ano que a estrutura de Kannapolis tinha dado como perdido para se centrar em 2022, quando foi introduzido o novo regulamento técnico que iria revolucionar o equilíbrio competitivo.

O investimento valeu a pena, tendo no final do ano assegurado o oitavo lugar do Campeonato de Construtores com uns muito razoáveis trinta e sete pontos, batendo a AlphaTauri por dois, ao passo que a Williams registou apenas oito.

No entanto, mesmo em 2022 voltou a verificar-se o padrão que sempre acompanhou a equipa de Gene Haas – um bom início de temporada, mas com a competitividade a esfumar-se ao longo da temporada.

Esta esta tendência voltou a verificar-se, mas de uma forma mais acentuada, em 2023, estando presentemente a Haas no último lugar e, mais preocupante, não parece ter competitividade para fugir dessa posição, depois de um pacote aerodinâmico introduzido em Austin que não deu os resultados esperados, longe disso.

Pode-se apontar que este ano há seis equipas muito fortes, terminando todas elas com mais de uma centena de pontos, o que deixa menos pontos disponíveis para as formações da segunda metade da tabela, mas ainda assim, a Williams evoluiu grandemente – é mais séria candidata a assegurar o sétimo posto do Campeonato de Construtores – e a AlphaTauri e a Alfa Romeo parecem conseguir estar em condições de pelo menos tentar alcançar a formação de Grove.

A grande diferença entre estas equipas e a Haas é o seu modelo participação – a estrutura de Gene Haas compra chassis à Dallara e todos os componentes que não pode adquirir junto da Ferrari, sendo esta a fornecedora de unidades de potência, periféricos, caixa de velocidade, suspensões, etc.

O facto de a Haas dar a terceiros a conceção e construção do seu carro impede-a de ter um entendimento tão aprofundado dele como as restantes equipas dos seus e isso parece estar a criar uma barreira que a impede de desenvolver o seu monolugar de um modo efetivo e que lhe permita ser competitiva ao longo de toda a temporada.

Até há uns anos, com algumas equipas subfinanciadas, este modelo permitia à Haas entrar em pista de uma forma competitiva por um baixo custo e mesmo com dificuldades em evoluir o seu monolugar, na primeira metade da temporada conseguia amealhar os pontos necessários para assegurar bons resultados no Campeonato de Construtores e, com isso, garantir uma boa quantia pecuniária da FOM que mantinha a saúde financeira do projeto.

Mas hoje em dia, com o Teto Orçamental e com a distribuição mais justa do dinheiro gerado pelas receitas comerciais, não existem equipas em dificuldades financeiras, tendo todas elas a capacidade para desenvolver os seus carros, o que deixa a equipa americana em desvantagem.

Começa, portanto, a surgir a ideia de que o modelo de participação da Haas está esgotado, estando presentemente numa encruzilhada – ou Gene Haas investe para criar a infraestrutura que lhe permita à equipa conceber e construir os seus próprios monolugares – unidades de potência e caixa de velocidades à parte, claro – ou a vende.

A Haas será sem dúvida alguma a estrutura menos cara da atual grelha de partida precisamente por não ter os meios para construir o seu carro, mas ainda assim detém algo muito valioso – uma licença para competir no Campeonato do Mundo de Fórmula 1, algo que muitos querem, mas que apenas a Andretti tem a possibilidade, mais ou menos remota, de chegar ao ‘grid’ mais desejado do mundo.

Gene Haas já assegurou algumas vezes que não está interessado em se desfazer da sua equipa de Fórmula 1, mas o americano é um homem de negócios e, como todos sabemos, tudo tem um preço neste mundo e as escuderias de Fórmula 1 têm vindo a valorizar, estando quase todas avaliadas em mais de mil milhões de euros, talvez com a exceção da Haas, pelas razões já apontadas.

Mas mesmo assim, a equipa de Kannapolis valerá bem mais que quinhentos milhões de euros, estando até mais próxima dos mil milhões, e vender agora seria uma forma de ganhar ainda algum dinheiro.

Se a Andretti não conseguir o lugar que tanto ambiciona na Fórmula 1, devendo uma decisão da FOM surgir pouco antes do início do campeonato do próximo ano, então valor da Haas subirá ainda mais e esse poderá ser o gatilho para Gene Haas vender a equipa, recuperar o seu investimento e ter ainda aumentado exponencialmente a exposição mediática da sua empresa de máquinas industriais automatizadas.

Uma coisa é certa, o americano terá de tomar uma decisão quanto ao futuro da sua equipa, dado que dificilmente conseguirá fugir ao último lugar do Campeonato de Construtores nos próximos anos nas condições que tem presentemente.

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