F1: Como Fernando Alonso ‘aguentou’ Sergio Pérez num carro bem mais rápido?
Depois de um começo de época fantástico, a Aston Martin e consequentemente os seus dois pilotos foram caindo de produção até que agora a forma voltou. O GP de São Paulo no Brasil marcou o regresso de Fernando Alonso aos pódios, depois dos seis conseguidos nos primeiros oito Grandes Prémios. E conseguiu-o deixando atrás de si o monolugar – de longe – mais rápido do pelotão.
É lógico que era Sergio Pérez e guiá-lo e outra ‘música’ canta do lado de Verstappen, mas a verdade é que o espanhol teve arte e engenho para bater o melhor carro do pelotão.
E como o conseguiu?
Na conferência de imprensa pós corrida, deixou umas pistas de como venceu a batalha memorável pelo derradeiro lugar do pódio, com Sergio Pérez, apenas por 53 milésimos de segundo: “pensei que tinha tudo sob controlo no último turno, até talvez cinco voltas para o fim, quando comecei a forçar um pouco mais. Tinha mais sumo nos pneus e pensei que estava tudo bem. E o Checo estava a jogar o mesmo jogo. Ele tinha bons pneus no final da corrida e ultrapassou-me a duas voltas do fim. E eu pensei “OK, isto já era” e depois tive mais uma oportunidade e felizmente para mim isso foi suficiente” começou por dizer Alonso que explicou como se manteve à frente de Pérez sem DRS durante tantas voltas: “Penso que quando se corre mesmo à frente de outro carro, temos melhor downforce, temos ar limpo e isso foi talvez bom para a manutenção da gestão dos pneus. E ele estava com dificuldades para entrar nas curvas 10, 11 e 12 atrás de outro carro. E esse era provavelmente o jogo que estávamos a jogar. Essas três curvas eram cruciais para a oportunidade de ultrapassagem. E sim, quando se é o carro da frente, tem-se sempre mais aderência”, explicou, destacando outro ponto importante: “sendo o carro da frente, temos um pouco de vantagem em termos de aderência nas últimas três curvas. Por isso, estava apenas a certificar-me que não cometia nenhum erro nessas três curvas, porque senão o Checo iria estar demasiado perto. Também estava a usar a energia nas retas para me certificar de que não havia oportunidade para o Checo. E sim, nas retas, por vezes estávamos a mudar de trajetória. Não queria estar sempre na mesma linha, se possível. Se ele fosse por dentro, eu estava, de vez em quando, por dentro e, de vez em quando, por fora. Por isso, não era uma direção clara para ele mudar realmente a linha de corrida e aproveitar a oportunidade para apanhar ar puro.
E como foram as coisas da perspetiva do antigo Diretor de Estratégia da Aston Martin, Bernie Collins:
A ‘vitória’ de Alonso sobre Pérez começou na grelha de partida, com Pérez a ser um modesto 9º.
O Safety Car na volta de abertura foi acionado com Pérez ao lado de George Russell a lutar pelo 6º lugar e o mexicano perguntou pelo rádio se a posição deveria ser sua para o reinício.
Mas com Pérez preso durante o primeiro turno atrás dos dois Mercedes de Russell e Hamilton, isso resultou numa diferença de oito segundos para Alonso na volta 18.
Na volta 20, Perez e a Red Bull viram uma oportunidade de ultrapassar Hamilton devido ao tempo de aquecimento necessário para o pneu médio. No entanto, esta estratégia não foi bem sucedida, uma vez que Pérez entrou em pista atrás de Hamilton, o que obrigou Pérez a fazer um segundo stint abaixo do ideal com o pneu médio. Perez perguntou pelo rádio: “Porque é que os seguimos? Devíamos fazer a nossa corrida, não nos preocupemos com eles!”
Alonso, entretanto, no ar livre, prolongou o seu primeiro stint por mais cinco voltas do que o planeado. Estima-se que a volta de paragem mais otimizada para a primeira paragem escolhida pela Aston Martin, em vez da volta anterior escolhida pela Red Bull, tenha custado a Perez 0,5s no tempo total de corrida.
Nas primeiras voltas da sua segunda passagem (com pneus médios), Pérez tentou primeiro ultrapassar Hamilton e depois reduzir a diferença para Alonso. Já Alonso fez uma gestão de pneus que compensou no final da segunda volta, quando conseguiu abrir uma margem para Pérez, já que o mexicano sofreu degradação com os pneus mais velhos. Do seu lado, Alonso prolongava a vida útil dos pneus e reduziu a degradação. No último stint, Pérez parou uma volta antes com pneus usados, em comparação com o conjunto novo de Alonso.
Quando Alonso saiu das boxes, Pérez estava 3,8 segundos atrás, mas muito mais rápido.
Mais uma vez, Alonso passou as primeiras quatro voltas com a diferença a diminuir, gerindo os seus pneus, reduzindo as temperaturas da superfície e preparando-se para a defesa que ele sabia que seria necessária contra Pérez.
Alonso, em particular, fazia melhor as Curvas 11 e 12 para conseguir uma boa saída da Curva 13 e defender-se ao longo da reta da meta.
Nas primeiras voltas, Pérez era cerca de 0,6 segundos por volta mais rápido do que Alonso, mas o espanhol estava a manter essa ‘pólvora seca’, sempre pronto para a defesa – e para a sua manobra para recuperar o lugar na última volta – depois de Pérez ter conseguido passar por pouco tempo.
Assim, a Aston Martin teve a margem de manobra para manter a duração ideal dos pneus, no entanto, mais uma vez, a gestão cuidadosa dos pneus por parte de Alonso – e uma defesa feroz e uma astúcia típica da corrida – permitiram ao espanhol manter a posição sobre Perez e garantir um precioso pódio para a sua equipa.