Edgar Fortes recorda a 1ª, e única vitória de uma dupla lusa no WRC: o mais difícil foi até Montejunto
A história assim o diz, Joaquim Moutinho e Edgar Fortes são os únicos portugueses que venceram uma prova do Mundial de Ralis à geral. É isso que diz a estatística, recordar o porquê, não vale a pena, todos se lembram: “O primeiro Rali de Portugal que fiz foi em 1973, já então com o Joaquim Moutinho. Fomos com um Austin Maxi, que era um autêntico ‘armário’ e não andava nada. Desistimos porque a árvore de cames partiu. Anos mais tarde [1978], fiz outro rali [de Portugal], com um [Opel] Kadett [GT/E]. Desistimos na Candosa, por acidente.
Então, eu e o ‘Quim’ decidimos andar um bocado no troço, para vermos os carros a passar. Quando regressámos ao sítio onde tinha ficado o nosso carro, encontramos lá o Mário Coutinho e o navegador.
Perguntámos o que estavam ali a fazer e responderam-nos que tinham saído naquele sítio. Espantados, dissemos que não, nós é que tínhamos ali saído e não eles…. Mas era verdade: tinham caído no mesmo buraco e nem sequer tinham lá visto o nosso carro! Mais tarde, juntaram-se a nós o Henri Toivonen e o navegador [Juha Paajanen], que se tinham despistado pouco antes [com o Citroën CX 2400 GTI] e ficámos ali os seis, a ver os carros a passar.
O primeiro rali de Portugal que fiz com o R5 [Turbo] foi em 1984. Abandonámos, eu e o ‘Quim’, logo no início da terra, porque tínhamos um problema no sistema elétrico, que se desligava e deixava o turbo a funcionar em alta rotações, acabando por quebrar. Mas antes, na 1ª Etapa, que era em linha, ligando Sintra à Póvoa do Varzim, nós tínhamos decidido ter em cada assistência um jogo de pneus ‘slick’ e outro para chuva. Inexperientes, mas preocupados com tantos cavalos no nosso carro, decidimos escolher pneus médios – SB10 na frente e SB11 atrás. Mas, durante a noite, começámos a ter dificuldades em segurar o carro, por causas das temperaturas mais frias. Então, o Jean Ragnotti, que tinha um carro idêntico ao nosso, mas oficial, deu-nos os pneus usados que tinha acabado de tirar do carro. Eram SB20 para a frente e SB21 para trás, muito mais macios que os nossos. Aceitamos e com eles começámos logo a fazer bons tempos, sendo mesmo melhores que o Ragnotti em dois troços.
Em 1986, no ano em que ganhámos, por causa da desgraça que sucedeu com o Joaquim Santos, fomos os únicos pilotos portugueses presentes na reunião dos pilotos de fábrica, que teve lugar, presidida pelo Jean Todt, no [hotel] Estoril-Sol e onde ficou decidido que todas as equipas de fábrica iriam abandonar a prova. Nós tomámos uma decisão diferente, a de continuar e tivemos que lhes explicar as razões para isso – corríamos em Portugal com o apoio de muitas pessoas, portuguesas e que, essas pessoas esperavam ver-nos na prova e que, se abandonássemos nessa altura nunca mais iríamos fazer ralis em Portugal. Todos perceberam essas razões e continuamos a prova.
Depois dessa reunião, havia uma longa ligação até ao Montejunto, uns 80 ou 90 quilómetros. Começou a chover e nós tivemos que fazer esse percurso com os nossos pneus ‘slick’, pois os de chuva estavam só no final de Montejunto, que também tivemos que fazer com os ‘slick’ e sempre a chover, aliás bastante devagar, para não sairmos da estrada. Mas depois tudo ficou normal e, sem equipas de fábrica, não tivemos muitas dificuldades em vencer a prova.”
EDGAR FORTES (navegador)
1973 – Rali Internacional TAP (c./Joaquim Moutinho) – Austin Maxi – abandono (motor)
1978 – Rallye de Portugal – Vinho do Porto (c./Joaquim Moutinho) – Opel Kadett GT/E – abandono (acidente)
1984 – Rallye de Portugal – Vinho do Porto (c./Joaquim Moutinho) – Renault 5 Turbo – abandono (motor)
1985 – Rallye de Portugal – Vinho do Porto (c./Joaquim Moutinho) – Renault 5 Turbo – abandono (motor)
1986 – Rallye de Portugal – Vinho do Porto (c./Joaquim Moutinho) – Renault 5 Turbo – 1º