Vila Real: Um presente de ouro e um futuro ainda por decifrar

Por a 13 Julho 2023 16:00

Esta “terceira fase” da pista de Vila Real, que decorreu entre 1979 e 1991, foi marcada por alguns dos mais espectaculares duelos entre os melhores pilotos nacionais da altura, maioritariamente em provas de turismo e dos crescentes troféus monomarca. Para sempre serão recordados os duelos com intervenientes de luxo, como Robert Giannone, António Barros, o local Manuel Fernandes, Rufino Fontes, Jorge Petiz, Joauqim Moutinho, Mário Silva, António Rodrigues, Pêquêpê e tantos outros, que partilhavam as pistas nas diferentes categorias e troféus [a prova mais memorável para os espectadores talvez tenha sido a de Gr. B acima de 1300 cc, em 1982, ver caixa]. Porém, a falta de segurança do circuito, tanto para os pilotos como os espectadores, começava a tornar-se preocupante, e em 1984 assistir-se-ia ao primeiro incidente mortal nesta pista, quando Jorge Petiz perdeu o controlo do carro na prova de Gr.B e bateu contra um muro, colhendo espectadores mal colocados e causando um morto. Outra questão que começava a causar tensões era a crescente necessidade de dinheiro para assegurar a manutenção do elevado nível das corridas de motos, e o CAVR viria mesmo a decidir por as eliminar do programa em 1987, causando uma cisão no clube [ver caixa]. A popularidade da pista era tal que em 1988 se organizaram dois fins-de-semana dedicados aos carros, tendo-se destacado a vitória de Ni Amorim – então um dos mais jovens valores do plantel nacional – na prova de Turismos (Gr.A) realizada em Julho, com um tempo recorde. Para diminuir o contínuo problema das velocidades atingidas, o CAVR colocou mais uma chicane em 1989, na zona do quartel, o que fazia os pilotos chegarem à ponte da Timpeira a velocidades sensivelmente mais baixas, só que a estagnação do parque automóvel nacional (cada vez mais centrado nos Troféus) e a falta de renovação de gerações, aliada à renovada insistência na organização de provas de motos, continuou a desgastar as finanças do CAVR; à medida que os problemas de segurança aumentavam. Verdade seja dita que os acidentes eram recorrentes e uma tragédia podia acontecer a qualquer momento, e tal viria a suceder quando Paulo Carvalho se despistou na descida de Mateus e galgou os rails mal colocados, vindo a colher vários espectadores que estavam em zona proibida – como era comum – matando quatro pessoas. Este foi o “canto do cisne” do velhinho circuito de Vila Real, pois era notório que só com grandes obras e investimento na segurança seria possível manter as corridas na cidade, mas tal não era possível no imediato e Vila Real fecharia, como muitos pensaram, para sempre.

Depois de uma tentativa de fazer renascer o circuito com as motos em 1993, usando uma variante na parte nova da cidade, que ligava directamente a descida de Mateus à estrada N322, usando os novos arruamentos construídos do lado direito do Corgo, esta tentativa não teve seguimento, e a velocidade só voltou à cidade com o Vila Real Revival, uma demonstração de carros antigos, realizada em 2004, revelando-se um enorme sucesso. Sem dúvida a enormíssima adesão popular a este evento levou a que o CAVR se empenhasse de novo na reabilitação do circuito de Vila Real, e com grande colaboração da edilidade local, em 2007 os campeonatos nacionais voltaram à cidade, usando uma versão quase igual à de 1993, com a meta instalada na Avenida da Europa, mas com três chicanes distribuídas pelo circuito (estas têm sido um dos principais motivos de discórdia, pois na maior parte das vezes, em vez de criarem pontos de ultrapassagem, só as dificultam, num traçado já de si estreito) e medidas de segurança ao nível dos circuitos citadinos modernos, como a renascida Boavista, perfazendo um percurso de cerca de 4.600 Km. Depois de quatro edições consecutivas, a fortíssima crise que se abateu sobre o país a partir de 2009 e que levaria ao resgate financeiro travou este ímpeto, e Vila Real ficou sem corridas de novo em 2011. Felizmente, tudo se conjugou para o regresso em 2014, e em 2015 a cidade recebeu pela primeira vez desde 1973 um evento internacional de automóveis, nada mais, nada menos que o WTCC, repetindo-se este ano, desta vez com uma grande vitória de Tiago Monteiro na segunda prova!!! Seguiu-se o WTCR durante esse período foram escritas as mais belas páginas do circuito,ao ritmo d´A Portuguesa cantada a plenos pulmões pelo público que em êxtase cantou por duas vezes para Tiago Monteiro (uma no WTCC e a segunda no WTCR, num regresso digno de Hollywood depois de um acidente quase fatal). Vila Real voltou a estar no topo, fez sonhar e proporcionou alguns dos momentos mais belos da história recente da velocidade nacional. A história ainda se escreve e a vontade é que os capítulos sejam escritos de forma mais regular, sem tantas interrupções. 2023 foi desafiante, mas teremos corridas, com selo nacional. Veremos o que 2024 traz.

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