O impacto da morte de Dilano van’t Hoff

Por a 5 Julho 2023 10:02

O automobilismo poderá ter de mudar a sua abordagem às corridas com chuva, depois do acidente de Dilano van’t Hoff em Spa-Francorchamps e no próximo fim-de-semana haverá já um passo nesse sentido.

O jovem neerlandês foi colhido por outro piloto já depois da ligeira direita da recta de Kemmel, quando se imobilizou no meio da pista devido a um outro incidente.

Com a pista muito molhada, o spray levantado pelos carros impediu que o monolugar estacionado em plena zona que se faz a fundo fosse avistado e o violento embate foi inevitável, resultando na perda da vida de van’t Hoff.

Rapidamente se fizeram paralelismos entre este infeliz incidente e o que ceifou a vida a Antoine Hubert, que, em 2019 numa prova de Fórmula 2, também ficou imobilizado, depois de ter batido nas barreiras de protecção na saída do Raidillon.

Isto levou a que houvesse quem clamasse para que o circuito belga fosse alterado na zona onde o piloto francês perdeu a vida, uma vez que era a segunda morte em quatro anos a ocorrer nesse local.

No entanto, estas vozes colocaram de parte os factos. Antes de mais, o acidente de van’t Hoff ocorreu muito mais à frente no circuito, sendo muito pouco provável que a configuração do Raidillion tenha contribuído para o triste desfecho. Para além disso, a zona em questão viu as suas escapatórias alteradas para que o risco de um carro ficar parado em plena pista depois de um acidente fosse significativamente reduzido.

Por fim, foi esquecido o facto de o spray deixar os pilotos completamente cegos nas zonas de alta velocidade e, como se sabe, em Spa-Francorchamps há muitas.

Nos últimos anos têm existido alguma relutância da parte dos directores de corrida em iniciar ou recomeçar corridas com a pista molhada, o que tem vindo a desagradar aos adeptos que acusam os pilotos de não quererem o risco da chuva.

Porém, o caso da corrida da Formula Regional Europe by Alpine é bem evidente do problema que os monolugares de hoje enfrentam no asfalto molhado.

A velocidade que os carros conseguem atingir mesmo nessas condições e a capacidade dos pneus em tirar água da pista, muitos litros, levantam um spray denso que depois é elevado pelo efeito aerodinâmico, o que cria uma espécie de nevoeiro intenso por entre o qual nada se consegue ver.

Não é que os pilotos não queiram correr na chuva, não querem é correr às cegas, como aconteceu com o desafortunado van’t Hoff e o piloto que lhe acertou sem saber que se aproximava a alta velocidade de um carro estacionado no meio da pista.

É claro que é sempre fácil ‘ganhar o Totobola à segunda-feira’, mas a segunda corrida de Fórmula Regional Europe by Alpine teve o seu início já no limite e, depois da situação de Safety-Car que se verificou devido ao abandono de um piloto e a apenas duas voltas do final, não deveria ter sido retomada, uma vez que as condições tinham piorado substancialmente, sendo a visibilidade nula nas zonas de alta velocidade.

Este é o problema das corridas com pista molhada – a possibilidade de os pilotos poderem ver o que se passa à sua frente.

Esta é uma questão que tem vindo a ser analisada pela FIA e já no próximo fim-de-semana, algo que estava já planeado, será testado em Silverstone pela Fórmula 1 uns ‘guarda-lamas’ para reduzir a quantidade de spray levantado pelos carros.

Estes componentes serão usados apenas quando a pista estiver molhada e se der os resultados esperados, será introduzido a partir de 2024, podendo o seu uso depois ser estendido a outras categorias de monolugares.

Até lá, e após o desafortunado acidente do fim-de-semana passado, as corridas com chuva, pelo menos em alguns circuitos, deverão ser quase uma impossibilidade.

Talvez agora os adeptos percebam o porquê de haver relutância de quem decide para dar bandeira verde em condições como as que se verificaram na prova do último sábado.

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