GP Áustria F1: Ferrari melhor, mas Verstappen noutro planeta
Max Verstappen venceu o Grande Prémio da Áustria sem qualquer dificuldade, muito embora Charles Leclerc tenha passado pelo comando, mas terá a Ferrari de facto dado um passo em frente e se aproximado da Red Bull?
FOTOS Martin Trenkler
A ‘Scuderia’ apresentou um novo pacote aerodinâmico no Red Bull Ring, que comunga da filosofia estreada em Barcelona e que se aproxima da fundada pela equipa de Milton Keynes, que compreendia uma nova asa traseira e um novo fundo, com uma configuração diferente dos túneis venturi.
O objectivo dos técnicos de Maranello era tornar o SF-23 mais consistente no seu comportamento, uma queixa dos seus pilotos, e continuar a torná-lo mais dócil para os pneus, talvez a maior pecha do carro italiano.
A qualificação para o Grande Prémio correu bem à Ferrari, com Leclerc no segundo posto a 0,040s de Max Verstappen e Carlos Sainz em terceiro, mas neste exercício o carro de Maranello sempre se mostrou capaz de se aproximar do RB19 Honda.
Sendo este um fim-de-semana, Sprint, a equipa de Maranello tinha menos tempo para conhecer as novas características do seu monolugar e a instabilidade climatérica de sábado em nada ajudou a Ferrari nesse aspecto.
Para além disso, o facto de Leclerc ter passado por dificuldades na pista húmida deixava as hostes da ‘Scuderia’ preocupadas, uma vez que isto poderia ser uma manifestação da inconsistência do SF-23.
No entanto, o facto de Sainz se ter qualificado bem, terceiro posto, de ter terminado em terceiro e de ter conseguido manter Sergio Pérez no seu horizonte, deixava alguma confiança de que o problema de Leclerc fosse específico de uma afinação mais agressiva do monegasco, que habitualmente prefere um carro com muita frente para que rode de uma forma mais rápida, o que numa pista escorregadia pode ser um handicap.
Mas o Grande Prémio, disputado no domingo, seria realizado com a pista seca, o que colocaria o ónus na gestão dos pneus e seria, então, que se verificaria se a Ferrari tinha dado um passo em frente nesta área, como ser verificara já em Montreal.
Os dois pilotos da Ferrari lançaram-se numa perseguição a Verstappen, mas rapidamente ficou claro que o piloto da Red Bull seria completamente inalcançável para eles.
Sainz manteve-se na esteia do seu colega de equipa, fazendo saber aos homens de Maranello que estava mais rápido que o monegasco.
Porém, numa pista com três longas zonas de DRS, mais de metade do perímetro do traçado, uma vez a menos de um segundo do carro em frente, seria possível manter-se por perto, como de resto se verificou quando Lando Norris perseguiu o espanhol – quando perdeu o contacto com o Ferrari, o jovem da McLaren rapidamente começou a ver o carro vermelho a afastar-se.
Posto isto, o mais certo seria que ao mandar trocar os seus pilotos de posição, a Ferrari estaria apenas a perder tempo, sobretudo, para Pérez, que era uma ameaça para o segundo lugar de Leclerc.
A ‘Scuderia’ jogou bem estrategicamente neste aspecto, assim como quando o Safety-Car Virtual foi ativado na décima quarta volta devido à paragem em pista de Nico Hulkenberg.
A corrida foi neutralizada demasiado tarde para que os três primeiros pudessem aproveitar imediatamente, mas na volta seguinte, enquanto Verstappen se manteve em pista, os dois pilotos da Ferrari entraram nas boxes para realizar a sua primeira paragem.
O objectivo era poupar cerca de dez segundos na operação face a uma troca de pneus normal.
O ritmo de corrida do neerlandês permitia-lhe fazer o que quisesse e ainda assim ganhar, ao passo que com Pérez, a Red Bull pretendia deixar o mexicano fora do tráfego para fazer o um ‘overcut’ e aproximar-se dos lugares do pódio.
A jogada estratégica da ‘Scuderia’ foi a correcta, mas não foi inteiramente bem executada, dado que ambas as paragens foram lentas – cerca de dois segundos face ao habitual – levando a que Sainz perdesse só aí quatro segundos.
Para além disso, a situação de Safety-Car Virtual foi levantada quando o espanhol estava ainda na via das boxes, esfumando-se mais dois segundos. Sainz, em vez dos dez segundo, no fundo ganhou cerca de quatro, isso implicou perder posições para Pérez, Lewis Hamilton e Lando Norris.
Será difícil afirmar que isto lhe custou o terceiro lugar face ao mexicano, no final das setenta e uma voltas de corrida, mas certamente que não o ajudou.
Leclerc, por seu turno, ficou virtualmente no comando, mas quando Verstappen parou para realizar a sua primeira paragem nas boxes, na vigésima quarta volta, rapidamente mostrou um andamento que era inalcançável para o monegasco.
O Bicampeão Mundial vencia sem problemas, mas Leclerc poderia ainda ser ameaçado por Pérez que estava numa missão para recuperar até ao segundo posto, depois de ter arrancado de décimo quinto.
No entanto, a sua progressão acabaria por ser travada por Carlos Sainz, que vendeu bem cara a terceira posição ao mexicano. A forma como se defendeu, acabou por atrasar o piloto da Red Bull que ficou sem pneus e tempo para apanhar Leclerc, que estava já a doze segundos.
Verstappen vencia sem problemas, tendo mesmo parado na penúltima volta para montar pneus novos e assinar a melhor volta, seguido do piloto da Ferrari e de Pérez.
Sainz, com duas penalizações de cinco segundos após o final da corrida, acabaria em sexto num dia em que esteve a lutar pelos lugares do pódio.
No final, a ‘Scuderia’, com Leclerc, perdeu cerca de meio segundo por volta para Verstappen, o que pode ser considerado uma boa progressão face ao que se verificou em Barcelona, tendo os técnicos de Maranello admitido que não conseguiram ainda extrair todo o potencial do novo pacote aerodinâmico do SF-23.
Também na gestão dos pneus verificou-se um passo em frente, assim como na consistência do comportamento, por parte da Ferrari, a questão é que o Red Bull, nas mãos de Verstappen, continua a ser uma máquina formidável.
A equipa italiana deu um passo em frente, mas precisa de dar mais um, ou dois, para poder estar em condições de contrariar o ascendente da equipa de Milton Keynes.
Em Silverstone, onde no próximo fim-de-semana se realiza o Grande Prémio da Grã-Bretanha, a Ferrari estreará um novo extractor aerodinâmico… Talvez seja mais um passo rumo ao fim do ascendente da Red Bull.