Com mais uma exibição irrepreensível, Sébastien Ogier igualou o recorde de vitórias de Markku Alén em Portugal num rali que chegou a estar ao rubro. O tetracampeão contrariou o ascendente de Thierry Neuville e da Hyundai, embora a marca sul-coreana também tenha conseguido colocar Dani Sordo no pódio.
Começavam a faltar adjetivos para descrever o talento de Sébastien Ogier. A vitória do francês na 51ª edição do Rali de Portugal é mais um exemplo de como o talento do francês (ainda) está num patamar acima de todos os outros, já que em termos de equilíbrio técnico o Mundial de Ralis vive uma das suas melhores fases da última década. M-Sport, Hyundai, Citroën e Toyota já venceram provas esta época e até a recém-chegada marca japonesa está cada vez mais próxima das suas rivais, já que Jari-Matti Latvala liderou o Vodafone Rali de Portugal na sexta-feira de manhã e estava no 2º lugar a 0,1s de Ott Tänak quando capotou na PEC7. A competitividade atual do pelotão ficou patente no facto de Neuville, Paddon, Latvala, Meeke, Tänak e, finalmente, Ogier terem todos passado pela liderança do rali, com escassos 8,9s a separarem os oito primeiros no final da PEC6!
Foi nessa altura que começou a hecatombe entre os candidatos à vitória, com Latvala a abrir as ‘hostilidades’ ao capotar na PEC7, perdendo mais de quatro minutos. Paddon também teve de abandonar a discussão quando problemas elétricos no seu Hyundai o fizeram perder quase 11 minutos nesse troço de Ponte de Lima, o mesmo onde o carro do neozelandês ardeu em 2016. Essa classificativa também ‘vitimou’ Meeke, que partiu a suspensão e teve de abandonar a etapa. Ou seja, de uma assentada a especial de Ponte de Lima retirou três pilotos da luta pela vitória, deixando Tänak na frente do rali durante cinco classificativas.
Mas foi no dia de sábado que Ogier fez o ataque demolidor. Depois de ter sido o primeiro na estrada na sexta-feira – uma desvantagem que não é tão evidente nos troços da região de Viana do Castelo -, o piloto da M-Sport era o 13º a partir para os troços no sábado, apanhando condições que o levaram a dizer que “fazer ralis assim é outro mundo para nós”. Ainda assim, Tänak aguentou a liderança da prova até cometer um erro no derradeiro troço da manhã de sábado, Amarante, dando um toque que partiu a suspensão traseira direita do Fiesta e entregando o comando das operações a Ogier.
Gestão perfeita
Quando se viu na liderança do rali, com 19,5s sobre Neuville e com uma boa posição na estrada, Ogier fez aquilo a que já nos habituou na sua carreira: geriu as circunstâncias de forma perfeita, conservando os pneus nos sítios certos e nunca permitindo que a vantagem sobre o seu rival da Hyundai estivesse abaixo dos 15,6s com que terminou a Power Stage de Fafe. Uma demonstração de classe.
Apesar do K.O. face a Ogier, Neuville também saiu de Portugal satisfeito já que o 2º lugar – num rali onde o belga nunca tinha sido particularmente feliz – permite-lhe ultrapassar Latvala no Mundial e colocar-se como principal adversário de Ogier nas contas do título. Depois de vitórias consecutivas na Córsega e Argentina, Neuville esperava manter essa tendência em Portugal mas teve de ceder pontos ao seu principal rival. O resultado de conjunto da Hyundai foi solidificado pelo segundo pódio da época de Dani Sordo. O espanhol esperava ter uma palavra a dizer na luta pela vitória mas não teve o andamento que se esperava na tarde de sexta-feira, vindo a ceder um total de 26,3s em três troços para Ogier.
O prémio do azar nesta edição do Vodafone Rali de Portugal tem de ir para Ott Tänak. O estónio estava a fazer um belo rali até cometer um ligeiro erro que o retirou da liderança, mas a sua performance é mais uma demonstração da competitividade do novo Fiesta WRC, um carro que até ao momento esteve no pódio de todas as seis provas já disputadas. O mesmo não se pode dizer da Citroën, que teve mais um rali sofrível apesar de Meeke ter passado brevemente pelo comando da prova. O norte-irlandês voltou a terminar fora dos pontos e está cada vez mais fora da discussão pelo título, enquanto Craig Breen (5º) até fez um rali positivo pois corria pela primeira vez em Portugal com um WRC. Ainda pior do que a Citroën esteve a Toyota, onde os erros de Latvala e a falta de andamento de Hänninen só foram compensados pela promissora estreia de Lappi com um WRC.
Mais uma vez, o Rali de Portugal afirmou-se como uma das melhores organizações do Campeonato do Mundo, estreando este ano a super especial no centro de Braga e voltando a contar com um excelente comportamento por parte do muito público que emoldura alguns dos locais mais emblemáticos da história do Mundial.