Opinião: Os protestos e a sua relevância
“A desobediência é a verdadeira fundação da liberdade. O obediente será escravo”. Henry David Thoreau falava da necessidade da desobediência para garantir a liberdade que, caso contrário, é usurpada. E o protesto é uma forma de desobediência que garante a liberdade. Mas tem de ser feita com a devida ponderação.
Na segunda corrida do fim de semana da Fórmula E em Berlim, a grelha de partida foi invadida por protestantes do Letzte Generation (Última Geração), que queriam sensibilizar as pessoas para os riscos das alterações climáticas. O grupo apela ao governo alemão para que tome medidas contra as alterações climáticas. Nas redes sociais do grupo pode se ver uma publicação que diz o seguinte: “Estamos na pista de Fórmula E para fazer soar o alarme. Chegou a hora de abrandar. Porque estamos na autoestrada para o inferno do clima com o pé no acelerador”.
++ Autorennen gestört ++
🦺‼️Wir sind auf der Rennbahn der @eFORMELde, um Alarm zu schlagen.
Es ist Zeit, vom Gas zu gehen. Denn wir sind auf dem Highway in die Klimahölle mit dem Fuß auf dem Gaspedal. pic.twitter.com/Ml23sO1efT
— Letzte Generation (@AufstandLastGen) April 23, 2023
Este tipo de protestos tem-se repetido um pouco por todo o mundo. A validade dos protestos não é colocada em causa. É preciso dar passos céleres para um mundo mais sustentável, correndo o risco do planeta deixar de ter condições de habitabilidade para os seres humanos. Mas será este tipo de ações lógicas? Fará sentido invadir a pista da única série no mundo que coloca a sustentabilidade no centro da sua agenda? Será inteligente gastar os poucos segundos de exposição a tentar impedir algo que, na sua génese (se é cumprido ou não, é uma história completamente diferente) pretende exatamente o mesmo objetivo? Será que os membros desse grupo falaram com a organização do campeonato para tentarem uma ação coordenada que, com o impacto mediático da competição, teria tido repercussões muito mais sentidas? Além de se colocarem em perigo, entrado na pista no momento da largada, podendo sair de lá com mais do que apenas nódoas negras, são alvo de olhares desconfiados, por protestarem contra as alterações climáticas, num desporto que mais tem falado e feito sobre isso. Uma lógica dificil de entender.
Esta é a segunda corrida de alto nível a ser interrompida por manifestantes nos últimos 12 meses, com membros da Just Stop Oil a invadir o circuito de Silverstone no Grande Prémio da Grã Bretanha de 2022. É provável que haja mais tentativas e que a segurança se torne mais apertada neste tipo de eventos. Será a forma mais inteligente de protestar? Tendo em conta o apoio que têm granjeado ao longo do tempo, é justo questionar se o método é ou não prejudicial à causa.