WRC, Rali de Monte Carlo: D. Sébastien IX, o melhor de sempre no ‘Monte’

Por a 22 Janeiro 2023 15:05

Sébastien Ogier (Toyota GR Yaris Rally 1) ‘vingou’ a derrota do ano passado e assegurou a sua nona vitória no Rali de Monte Carlo, tornando-se no piloto mais vitorioso na prova monegasca. Kalle Rovanpera (Toyota GR Yaris Rally1) foi segundo, depois de um rali em crescendo e a fechar o pódio, ficou Thierry Neuville (Hyundai i20 N Rally1), que lutou muito, mas não teve carro para mais.

Fez-se história na 91ª edição do Rali de Monte Carlo com o nono triunfo de Sébastien Ogier. Estava empatado com Sébastien Loeb, desde o ano passado, mas nesta edição o francês esteve quase imparável nos primeiros dois dias, geriu bastante no terceiro, e confirmou o seu nono triunfo na prova no quarto, mostrando que, se quisesse, ainda estava a lutar por títulos no WRC.

Diz-se muitas vezes que o WRC precisa de heróis, e Sébastien Ogier deixa claramente uma marca muito forte na disciplina, com as suas 56 vitórias e oito títulos.

Neste rali, com um carro, o Toyota GR Yaris Rally1, que se mostrou novamente um passo acima da concorrência, cedo se percebeu que seria muito difícil batê-lo nesta prova e embora se notasse que estava ‘marcado’ pelo furo que sofreu o ano passado e que ‘entregou’ o triunfo a Sébastien Loeb, este ano Ogier tudo fez para se manter longe dos riscos. E assegurou uma vitória clara.

Do lado da Hyundai, só mesmo Thierry Neuville conseguiu dar um ar da sua graça, no terceiro dia, vencendo dois troços, com isso logrou conseguir manter afastado Elfyn Evans (Toyota GR Yaris Rally1) que vinha em recuperação depois do furo que sofreu no segundo dia e que o atrasou na classificação, assegurando um pódio, que é menos do que esperava, mas o melhor que podia, já que ficou absolutamente claro que os Toyota começaram o campeonato mais fortes que os Hyundai e a Ford. Pelo menos nesta prova, na Suécia, logo se verá. Dani Sordo e Esapekka Lappi estiveram muito abaixo do que se esperava, especialmente o espanhol, pelo que têm muito que pedalar se quiserem ajudar a equipa a recuperar o título de construtores.

Quanto à M-Sport/Ford, sabia-se que Ott Tanak precisava de tempo para se adaptar ao Ford Puma Rally1 e que a partir daí a sua categoria faz o resto, mas ficou a perceber-se que o caminho pode ser mais longo do que o que se pensava. É verdade que Tanak sofreu cedo problemas com a direção assistida do carro, mas o que fez antes já não augurava que lhe fosse possível melhor que um pódio. Com os problemas que teve, terminou em quinto.

O que faltou neste Monte Carlo foi a emoção e incerteza que só a neve e o gelo conseguem proporcionar, onde se pode entrar num troço dois minutos atrás e sair dois à frente. Nada disso sucedeu, foi apenas um rali de asfalto, como muitas vezes já sucedeu no Monte Carlo e as regras hoje em dia tramam muito organizadores como o ACM. Se pudessem fazer uma prova com bastantes mais quilómetros, as probabilidades que tinham de haver neve um pouco mais a norte, dariam outro ‘salero’ à prova.

Por exemplo, tanto que o ACP fez força para poder ir à zona centro, Arganil, Góis e Lousã o que é uma aposta totalmente ganha.

Ogier no seu melhor

Sébastien Ogier/Vincent Landais (Toyota GR Yaris Rally1) cedo foram para a frente, e quando na PE5 ficaram sem a pressão de Elfyn Evans a sua vantagem subiu para cima dos trinta segundos, o que com Ogier no Monte Carlo é quase decisivo. Marcado pelo furo que lhe roubou a vitória no ano passado, foi muito cuidadoso, mas nunca teve a prova em risco. Quando no final do terceiro dia Kalle Rovanpera recuperou até aos 16.0s ainda se pensou que o jovem fosse atrás do triunfo, mas Latvala depressa deixou claro que isso não iria suceder. A partir daí foi só levar o carro até ao fim

Ogier venceu os dois primeiros troços na noite de quinta-feira, as diferenças ainda não eram grandes, mas foram subindo de forma consistente. Na 6ª feira ainda esteve dois troços sem sistema híbrido, teve que se esforçar um pouco mais, mas os tempos iam ‘saindo’. Resolvido o problema e com a Toyota em primeiro e segundo, chegaram a meio do terceiro dia com 30.0s de avanço, o que em condições normais chegava e sobrava.

Nada arriscou no sábado, pois sabia que eram os troços mais propícios a furos, por isso Rovanpera recuperou até aos 16.0s, mas o seu triunfo nunca esteve em risco, porque a equipa não ordenou, mas sugeriu que os riscos eram desnecessários. E assim foi.

Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota GR Yaris Rally 1) foram segundos o que, na prática, é um sólido começo de defesa do título.

Não começou muito bem o rali, era apenas quinto ao cabo de dois troços, mas no fim da manhã do segundo dia já era terceiro em ‘cima’ do segundo lugar de Neuville.

Sendo o primeiro na estrada, apanhou algum sal, que é escorregadio, mas nada que o incomodasse muito, e de tarde voltou a forçar o andamento. No final de 6ª feira já era segundo e assim ficou até ao fim.

No terceiro dia só atacou mesmo no último troço, passando a margem para Ogier de 25.8s para 16.0s, o que deixou a ideia que poderia atacar o líder no último dia, mas no primeiro troço da manhã percebeu-se logo que não o iria fazer. Terminou em segundo e começou bem o campeonato.

Thierry Neuville/Martijn Wydaeghe (Hyundai i20 N Rally1) foram terceiros da geral e fizeram o máximo que o carro lhes permitiu. O começo da Hyundai este ano é a antítese do ano passado em que tiveram tantos problemas, mas a Toyota começou claramente o ano mais forte, e por isso a Hyundai tem que trabalhar para chegar à performance da Toyota.

É que não foi só Ogier, mas sim os quatro Toyota estiveram muito competitivos.

Por isso Thierry Neuville foi fazendo o que podia, e o terceiro lugar é mérito totalmente seu.

Não cometeu erros, andou nos limites do que o carro lhe permitiu e terminou a prova na melhor posição a que podia aspirar. Rovanpera ainda precisa de trabalhar no asfalto, mas o que fez chegou e sobrou para um especialista como o belga. E isso diz tudo.

Na PE2 teve uma ligeira saída de estrada no gelo negro, e esse foi o seu maior incidente em todo o rali.

Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota GR Yaris Rally1) foram quem mais luta deu inicialmente a Ogier, mas o furo que sofreram na PE5 tramou-os. Estavam a 11.3s de Ogier e ficaram em quinto a 54.7s da frente. Voltou ao bom andamento logo a seguir, venceu a PE6, manteve-se quase sempre entre os três melhores, na PE10 subiu para quarto e por aí ficou até ao fim.

Esperava-se um pouco mais de Ott Tänak/Martin Järveoja (Ford Puma Rally 1) mas já se percebeu que o estónio precisa de tempo para se adaptar ao carro e trabalhar nele com a equipa. Para além disso, alguns problemas mecânicos, com a direção assistida, levaram a que não conseguisse fazer melhor, por isso manteve-se sem grandes ondas no quinto posto desde que para aí caiu na PE10 por troca com Elfyn Evans.

Cedo começaram a perder mais que o esperado, tinha passado o shakedown a testar afinações bem diferentes de modo a perceber melhor o carro, o mais rapidamente possível. Era terceiro no fim do 1º dia, logo a seguir caiu para a quinta posição, mas depressa recuperaram para o quarto lugar, e só cederam a Evans, aquando dos problemas com a direção assistida no seu Ford Puma Rally1, gerindo depois a avaria que era intermitente.

Tudo isto condicionou o seu andamento, e é um mau sinal por parte da M-Sport/Ford ter problemas com os dois carros logo na primeira prova. Vamos ver se tudo estabiliza de modo a perceber até onde pode ir Tanak.

Takamoto Katsuta/Aaron Johnston (Toyota GR Yaris Rally1) foram sextos, repetindo o 6º lugar de 2021. Fizeram o rali esperado, quatro quartos lugares no segundo dia é muito bom, com toda a gente ainda na luta por posições. Um rali positivo, de um piloto que não parece poder subir muito mais na ordem do WRC. Começou o rali logo com um problema no travão de mão, o que no Turini é muito complicado. Perdeu tempo, mas foi recuperando ao longo do rali. Uma boa exibição global.

Dani Sordo/Candido Carrera (Hyundai i20 N Rally1) foram sétimos, num dos piores ralis que lhe vimos fazer nos últimos anos. Passou o rali a dizer que a peça entre o volante e a bacquet não estava bem, e é bem capaz de ter toda a razão. É verdade que nunca fez grandes resultados no Monte Carlo, apesar de alguns pódios quando era piloto oficial da Citroën ao lado de Sébastien Loeb, mas esteve mal neste rali. Como ele próprio diz, não gosta de desculpas, mas nunca teve confiança em si e no carro. Não pode ficar a quase três minutos de Neuville numa prova de asfalto seco sem ter tido incidentes. Tudo tentou mudar no carro para ganhar confiança, mas nunca o conseguiu. A juntar a isso ainda teve alguns problemas com o sistema híbrido, o que explica algum do tempo perdido. Mas não todo, nem de perto.

Esapekka Lappi/Janne Ferm (Hyundai i20 N Rally1) é outro exemplo de uma prova muito pobre. Foi quarto no Monte Carlo de 2020 com a Ford. O ‘Monte’ não é a sua praia, irá ser bem mais útil à equipa na Suécia. É verdade que mudou de equipa e naturalmente, de carro, precisa de tempo para se adaptar, mas tinha que ter feito mais.

Andou sempre à procura de confiança no carro, mas basicamente era lento em todo o lado. Teve um furo, perdeu 20 segundos, é verdade, mas tinha que fazer mais. O melhor que conseguiu foi um 5º posto na PE5. Muito pouco.

Pierre-Louis Loubet/Nicolas Gilsoul (Ford Puma Rally1) estiveram azarados quando tiveram problemas com a direção assistida, mas ultrapassado isso, bateram na última curva da PE9 e esse foi o seu grande erro na prova. Perderam quilómetros preciosos e não deram ‘bons’ pontos à M-Sport. Começam mal o ano. Seja como for, enquanto andou, mostrou que pode fazer bons resultados este ano.

Jourdan Serderidis/Frédéric Miclotte (Ford Puma Rally1) o melhor que conseguiram foram um 22º lugar em troços, quando todos os outros andavam a poupar pneus para a Power Stage. É um Gentleman Driver, anda lá a divertir-se, tomara muitos poderem fazer o mesmo.

MOMENTO CHAVE

Sébastien Ogier foi construindo a sua vantagem, mas no final do terceiro dia, Kalle Rovanpera atacou e ficou só a 16.0s do francês. Faltava o último dia de prova, houve algum frisson, mas as palavras de Latvala não enganavam ninguém: “Kalle sabe que não há necessidade de correr riscos loucos”. Estava dado o recado, quando se ouviu isto dissiparam-se as dúvidas quanto a que iria ganhar.

FIGURA

Os anos passam e Sébastien Ogier continua num nível muito alto. Então no Monte Carlo, só mesmo Loeb ainda o pode surpreender. Este ano, não meteu uma roda fora do sítio, fugiu dos furos como Diabo da Cruz, e levou água ao seu moinho, alcançando a sua 56ª vitória no WRC, nona no Rali de Monte Carlo. Oito no WRC, outra no IRC. Deve fazer meio programa este ano, e com isso será muito difícil à Hyundai recuperar o título de Construtores.

FOTOS @World/André Lavadinho; Oficiais (marcas) e RedBull ContentPool

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