F1: O que pode significar a nova gestão da Red Bull
A Red Bull já apresentou um plano de sucessão, após a morte de Dietrich Mateschitz, dividindo as funções do co-fundador da companhia em três. Será que haverá implicações na forma como a Red Bull verá o seu envolvimento na Fórmula 1?
Inevitavelmente o desaparecimento de Mateschitz terá implicações no envolvimento na categoria máxima do desporto automóvel da mais conhecida marca de bebidas energéticas do mundo.
O austríaco era um adepto de automobilismo, o que foi de capital importância para que, a meio da década de 1980, tenha resolvido apoiar financeiramente Gerhard Berger para expor o seu negócio nascente ao mundo.
Desde então, o investimento da Red Bull no desporto automóvel não parou de crescer, começando por apoiar pilotos, criando uma academia, para hoje ter duas equipas de Fórmula 1 e um circuito que alberga o Grande Prémio da Áustria, um evento que é organizado pela companhia austríaca.
Todo este envolvimento não seria possível se Mateschitz não fosse alguém com um carinho especial pelo automobilismo.
Com a morte do austríaco essa paixão terá desaparecido do topo da pirâmide, o que poderá ter um impacto a médio prazo tanto na Red Bull Racing, como na Scuderia AlphaTauri.
As funções desempenhadas por Mateschitz serão dividida por três pessoas – Franz Watzlawick, que será o CEO do negócio das bebidas, Alexander Kirchmayr, o diretor financeiro, e Oliver Mintzlaff, CEO de projectos corporativos e investimentos, ficando a actvidade desportiva da Red Bull debaixo da alçada deste último.
Mintzlaff é um ex-atleta de corta-mato, sem grande sucesso, tendo iniciado no início do século uma carreira de marketing e gestão, na Puma, para depois ter gerido carreiras.
Em 2014 ingressou na Red Bull para participar na gestão das actividades globais da marca no futebol, tornando-se o director deste departamento em 2015, já depois de se assumir como o CEO do Leipzig, equipa alemã pertença da companhia austríaca.
É evidente que o alemão não tem qualquer passado no automobilismo, sendo o seu ‘background’ relativo a outros desportos, o que não dá garantias de que a Fórmula 1 e tudo o que a rodeia será acarinhada como até aqui.
Esta nova solução de gestão da Red Bull foi gizada por Mateschitz, tendo este certamente traçado planos para o futuro da companhia, mas na verdade, durante o Verão surgiram rumores que apontavam que a entrada da Porsche no capital da Red Bull Technology era a visão do austríaco para garantir o futuro da equipa, o que demonstra que, apesar de ter um plano, não estava seguro de que as pessoas que lhe sucederiam seguiriam os seus desejos.
Para além disso, o novo túnel de vento que a equipa de Milton Keynes vai construir foi autorizado ainda por Mateschitz, um investimento massivo que poderia ficar em suspenso, depois do desaparecimento do co-fundador da Red Bull.
Estas movimentações evidenciam que o austríaco queria assegurar o futuro da equipa, mesmo depois do seu desaparecimento, sendo a urgência catalisada pela incerteza do que se seguiria ao dia fatal.
Num momento em que as equipas passaram a ser centros de lucros e em que existe um investimento massivo nas infraestruturas da Red Bull Technology – com a edificação da Red Bull Powertrains e do novo túnel de vento – seria estranho que Mintzlaff carregasse a fundo no travão passasse a olhar para o envolvimento da companhia na Fórmula 1 como algo menor e descartável.
Sendo assim, será difícil que Christian Horner se tenha de preocupar muito num futuro próximo, devendo a Red Bull Racing continuar a ter todas as condições para se manter como uma equipa de topo, mas o mesmo poderá não se passar com a AlphaTauri.
Há já alguns anos que se fala de a possibilidade da Red Bull vender a sua segunda equipa e este pode ser o momento certo, muito embora a sinergia entre as duas estruturas se tenha intensificado com o novo regulamento técnico.
O valor das equipas tem vindo a subir exponencialmente e existem alguns interessados no mercado em comprar – como é o caso da Andretti e, potencialmente, a Porsche – o que permitiria à Red Bull encaixar um valor substancial.
Claro que isto teria um impacto nos interesses da equipa principal, que deixava de ter um aliado político e teria de existir um redimensionamento na Red Bull Technology, que desenvolve trabalho para as duas formações, ao passo que a academia de jovens pilotos sofreria igualmente um golpe.
Porém, neste último caso, tem-se a assistido nos últimos anos a uma diminuição da sua importância, com metade dos pilotos de 2023 das duas equipas a terem sido formados fora da Red Bull Academy.
Percebe-se que, se a Red Bull Racing tem o seu futuro, no caso da Scuderia AlphaTauri poderá haver mais dúvidas, dependendo da forma como a nova equipa de gestão da Red Bull olhará para a Fórmula 1 e para o desporto automóvel.