Jody Scheckter: O 17º campeão do Mundo de F1 vai vender a sua coleção de carros…

Por a 14 Março 2024 16:33

Jody Scheckter colocou à venda a sua coleção pessoal de carros de corrida que vão a leilão, numa lista em que se destaca o seu Ferrari 312 T4, vencedor de um campeonato, monolugar que pode ser vendido por 6.5 milhões de euros. O fogoso piloto que marcou com a sua garra a década de 70 da F1 e que culminou com uma das mais loucas e virtuosas ‘associações’ – a dupla com Villeneuve na Ferrari e o título mundial com a Scuderia, vende agora a sua coleção de magníficos F1. Aproveitamos e recordamos a carreira do 17º Campeão do Mundo de Fórmula 1, que tem hoje 74 anos. 

FOTOS RM Sotheby’s

São 12 os monolugares da coleção de Jody Scheckter, que vão a leilão da RM Sotheby’s no Mónaco, a 11 de maio de 2024. Os valores oscilam muito, só o Ferrari vale quase metade da coleção inteira

Merlyn Mk21 de 1971 (35.000 a 55.000 euros): chassis 318 foi construído por Scheckter, que obteve três vitórias com ele na temporada de Fórmula 3 britânica de 1971.

1969 Merlyn Mk11a (45.000 a 65.000 euros) É o conhecido Magic Merlin, chassis 238 tanto Scheckter como Emerson Fittipaldi, Colin Vandervell e Frank Sytner guiaram-no.

1974 Trojan T101 (65.000 a 100.000 euros) Scheckter levou o chassis 106 à vitória em três provas da temporada de 1973 da SCCA L&M Formula 5000. 

Rondel Motul M1 de 1973 (65.000 a 100.000 euros) 1973 Um Fórmula 2, o chassis 204 que foi usado por Scheckter e pelo falecido Tom Pryce.

1972 McLaren M21 (130.000 a 200.000 euros) Um de apenas três exemplares existentes, foi construído para Scheckter a partir de um chassis de reserva para a época de Fórmula 2 de 1972.

1960 Alfa Romeo Giulietta SZ (320.000 a 450.000 euros) Único carro de estrada, participou nas edições de 1961 e 1963 da Targa Florio.

Wolf WR1 de 1977 (450.000 a 650.000 euros) Foi pilotado por Jody Scheckter na temporada de estreia da equipa Wolff em 1977, venceu a primeira corrida do ano na Argentina, e depois triunfou também no Mónaco e no Canadá. Keke Rosberg, guiou-o em 1978. 

Tyrrell P34 de 2008 (450.000 a 650.000 euros) O Tyrrell P34 de seis rodas é um dos mais icónicos e radicais pilotos de F1 alguma vez concebidos. Estreou-se em 1976, e Scheckter assegurou a única vitória do P34 no Grande Prémio da Suécia. 

Tyrrell 007 de 1976 (650.000 a 900.000 euros) O Tyrrell 007 usado por Scheckter em 12 corridas entre 1975 e 1976.

McLaren M91A de 1971 (750.000 euros – 1.000.000 euros) O chassis M19A-1 foi conduzido por Scheckter na sua estreia na Fórmula 1, em 1972, em Watkins Glen. Competiu em 17 Grandes Prémios em 1971 e 1972, e foi guiado também por René Arnoux, Mark Donohue, Peter Gethin, Denny Hulme, Brian Redman e Peter Revson.

McLaren M23 de 1973 (1.750 000 a 2.250.000 euros) O McLaren M23 deu à equipa o seu primeiro título de Construtores em 1974, bem como dois Campeonatos de Pilotos com James Hunt e Emerson Fittipaldi. Peter Revson venceu com ele p GP da Grã-Bretanha em 1973 e Scheckter guiou-o em dois GP.

Ferrari 312 T4 de 1979 (5.250.000 a 6.500.000 euros) A joia da coroa da Coleção Scheckter, o chassis 040 é o carro que o sul-africano utilizou para selar o seu título de piloto de F1 em 1979. Foi o último carro a ganhar o Campeonato de Pilotos durante a vida de Enzo Ferrari.

Jody Scheckter nasceu na cidade de East London, África do Sul, em 29 de janeiro de 1950. O seu pai era proprietário de um stand da Renault e foi aí que começou a trabalhar muito novo, ao mesmo tempo que tentava tirar o curso de engenharia mecânica. Porém, isso tudo ficou para trás, quando descobriu que o que era interessante era pegar num dos carros que tinha à sua disposição e fazer alguns disparates, nas ruas do bairro: sempre a fundo, foi o seu lema logo desde o princípio.

Lema que, mais tarde, levou para a F1, onde chegou depois de uma temporada no seu país, a correr com um Renault R8 Gordini e de duas em Inglaterra, para onde voou em 1970.

Explosivo, errático, mas com um talento muito especial, a bandeira que mais vezes viu agitada à sua frente foi a negra, em especial no seu país, onde foi expulso por diversas vezes das pistas por condução perigosa. Mas, sendo inteligente, conseguiu dominar o seu mau génio e, pouco a pouco, tornou-se um potencial vencedor.

Em Inglaterra, tornou-se conhecido muito rapidamente, à mesma velocidade com que colecionava triunfos na Fórmula Ford e na F3 e destruía chassis com alarmante frequência. Porém, para lá do seu temperamento fogoso, marcado por uma silhueta em que os seus longos cabelos rebeldes se impunham à face de pugilista, existia um inegável controlo do carro, que podia ser brilhante, caso ele se esquecesse de que as pistas não eram ringues de boxe. Por isso, não estranhou que os “olheiros” da F1 o focassem e trouxessem para a categoria, no final da temporada de 1972.

Sem se impressionar, Jody Scheckter disse logo ao que vinha: fujam da minha frente, que não vou levantar o pé nem vocês me impressionam! E, se bem o pensou, melhor o fez: contratado pela McLaren depois da sua estreia no GP dos Estados Unidos de 1972, em que foi 9º, para pilotar ocasionalmente um terceiro carro no ano seguinte, Scheckter quase venceu a sua terceira corrida na F1, não tivesse acertado em cheio em Emerson Fittipaldi que, no final da corrida, não teve pejo em dizer que “este maluco é um perigo para si e para todos os que o rodeiam. Não merece estar na F1!”

Movimento anti-Scheckter

E, logo na corrida seguinte, o GP de Inglaterra, em Silverstone, Scheckter (quase) lhe deu razão. Sexto na grelha, ganhou dois lugares na primeira volta, estando por isso em 4º quando o pelotão compacto de 28 carros abordou a então rapidíssima curva de Woodcote, feita a mais de 240 km/h. Scheckter perdeu então o controlo do McLaren, que fez pião e acertou em cheio no muro de cimento das boxes. O piloto saltou de imediato dos destroços fumegantes, ileso, enquanto à sai volta o caos estava ainda no início: pedaços de carros voavam em todas as direções, no meio de uma enorme nuvem de fumo. Quando tudo terminou, oito carros estavam fora de ação. Felizmente, apenas houve um ferido: Andrea de Adamich, da Surtees, que partiu as duas pernas, colocando desta forma um ponto final na sua carreira.

O sul-africano foi considerado culpado pelo monumental acidente e nasceu aqui um verdadeiro “movimento anti-Scheckter”, que quase acabou com a sua carreira na Europa. A GPDA pediu que Scheckter fosse banido de imediato e para sempre das pistas e isso apenas não sucedeu porque a McLaren insistiu em “educar” o seu irrequieto piloto!

Ficou de “castigo” até ao GP do Canadá e, no seu regresso, a primeira coisa que fez foi atirar para fora de pista François Cévert, da Tyrrell. Mas ainda hoje, talvez mais que pelo seu título com a Ferrari, Scheckter é recordado como sendo o autor de uma das maiores e mais espetaculares carambolas da história da F1.

No radar de Ken Tyrrell

O acidente com Cévert não impressionou o velho lenhador, mas sim a veia irredutível do jovem sul-africano, de quem nunca se rende ou levanta o pé: Ken Tyrrell fez-lhe uma proposta para correr na sua equipa em 1974 e, depois de três primeiras provas sem resultados, Jody Scheckter apareceu com uma inesperada maturidade e começou a colecionar pontos. Muitos garantem que a razão desta nova abordagem teve a ver com o acidente mortal de Cévert, em Watkins Glen, no ano anterior – Scheckter foi o primeiro a parar no local e o que viu impressionou-o fortemente, levando-o a alterar a sua postura em pista. Assim, até ao final do ano Scheckter subiu por seis vezes ao pódio, duas delas no lugar mais alto – na Suécia e na Grã-Bretanha. Foi 3º no Campeonato, posição que repetiu em 1976, então com mais um triunfo na Suécia.

A aventura com a Wolf

No final desse ano, aceitou o desafio do milionário canadiano Walter Wolf e assinou com a neófita equipa Wolf para a temporada de 1977: venceu a prova de estreia, o que surpreendeu toda a gente ligada à F1. Até ao final do ano, ganhou mais dois GP e só não colocou mais pressão sobre Niki lauda por causa dos problemas de fiabilidade dos dois chassis que a equipa usou, sem nunca se decidir por um deles. Mesmo assim, foi vice-campeão do Mundo de F1, com 55 pontos, menos 17 que Lauda.

Em 1978, a Wolf, completamente perdida e quase sem dinheiro, dividiu-se por nada menos que cinco chassis diferentes, o que se refletiu no desempenho de Jody Scheckter: nunca ganhou mas, das poucas vezes em que terminou, quatro delas foi no pódio, o que lhe valeu o 7º lugar no campeonato. Porém, insatisfeito, deixou a quipá e assinou com a Ferrari. No ano seguinte, fazendo equipa com o lendário Gilles Villeneuve, a dupla da Ferrari foi uma das mais aguerridas e eficazes de sempre.

O ‘último’ Campeão do Mundo coma Ferrari

Jody e Gilles tornaram-se, mais que rivais ou meros colegas de equipa, amigos chegados. As lutas entre ambos eram desejadas pelos fãs da F1 e, no final, Scheckter revelou-se mais equilibrado e menos ‘louco’ que o canadiano. Venceu por três vezes e, a partir de certa altura do campeonato, passou a beneficiar da proteção de Villeneuve, que aceitou o papel proposto pelo ‘commendatore’ de ajudar Jody a ser campeão do mundo de F1, com a certeza de que, logo a seguir, seria a sua vez na Ferrari.

Assim, Scheckter conquistou o título, com mais quatro pontos que Villeneuve – que ganhou também três GP, mas abandonou mais uma vez que Jody.

Durante mais de duas décadas. Jody Scheckter arrastou consigo o notável carimbo de “o último Campeão do Mundo de F1 com a Ferrari”. Uma coroa que lhe foi retirada apenas por Michael Schumacher muitos anos depois.

De facto, em 1980, depois de questionar a Ferrari quanto às suas obrigações contratuais, sem ser jamais atendido, Scheckter deixou abruptamente a F1, com apenas dois pontos – e a competição.

Rico e astuto homem de negócios, nunca mais quis nada com a F1 e, antes de se estabelecer em Inglaterra, onde vive há já vários anos, como simpático fazendeiro de produtos biológicos, teve vários outros interesses. Entre eles, o negócio de armas, uma empresa de tecnologia de segurança e, claro, o de gestor das carreiras dos seus filhos Toby e Tomas, assunto que depressa deixou a meio, em especial depois do mais novo se ter estabelecido nos Estados Unidos, onde tem feito uma positiva carreira – embora hoje algo errática – na IndyCar.

Tomas Scheckter: Segunda geração

Os adeptos mais ‘antigos’ de F1 sempre se congratularam com o facto de voltarem a ouvir nomes que lhes eram familiares, e entre muitos outros, Piquet, Rosberg, Prost, Lauda, Jones, todos eles a caminho ou já passaram pela ribalta, encontra-se também o filho de Jody Scheckter, Tomas Scheckter. Esteve longe de ser dos mais talentosos ‘filhos’, foi mais um ‘Outsiders’. Rapidíssimo, chegou a testar para a Jaguar na F1, mas uma personalidade demasiado “extrovertida” para os rígidos cânones da F1 atirou-o para os ‘States’. Aqui, depressa se fez notar pela sua velocidade mas, também, por alguma propensão para provocar acidentes, fama de que nunca se livrou. Quase todos os muros das ovais onde ia o campeonato IndyCar têm gravado o seu nome, mas a verdade é que lá esteve entre 2002 e 2011. Estreou-se na equipa de Eddie Cheever em 2002, esteve perto de vencer as Indy 500 mas bateu na curva 4. Foi para a Chip Ganassi Racing em 2003, em 2004 para a Panther Racing. Foi a vez da Vision Racing em 2006 e 2007.Em 2011 deixou de correr e anunciou o fim da sua carreira… a 21 de setembro de 2016.

Bilhete de Identidade

JODY SCHECKTER

Nome: Jody David Scheckter

Data de nascimento: 29 de janeiro de 1950 (62 anos)

Local de nascimento: East London

Nacionalidade: Sul-africana

Casado em primeiras núpcias com Pamela, de quem teve dois filhos, Toby e Tomas, ambos pilotos de automóveis, o último com bastante sucesso, nos Estados Unidos. Mais tarde, casou-se com Clare, com quem ainda vive, na sua quinta orgânica de Laverstoke Park, próximo de Overton, a 64 km de Londres e que lhe deu mais quatro filhos: Hugo, Freddie, Ila e Poppy.

PALMARÉS

Início na competição: Motociclismo e Turismos, África do Sul, com Renault R8 Gordini (1968/1969)

Primeiro GP F1: GP Estados Unidos 1972

Último GP F1: GP Estados Unidos 1980

GP F1 disputados: 113 (112 largadas)

Títulos: 1 (1979)

Vitórias: 10

Primeira vitória: GP Suécia 1974

Última vitória: GP Itália 1979

Pole positions: 3

Melhores voltas: 5

Pódios: 33

Pontos: 246 (255)

Marcas: McLaren (1972/1973); Tyrrell (1974/1975/1976); Wolf (1977/1978); Ferrari (1979/1980)

Outros resultados: Campeão SCCA Fórmula 5000 (1973)

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