F1, Ferrari prefere a estabilidade
Há meses que se falava da renovação do contrato entre Ferrari e Carlos Sainz, tendo hoje sido anunciado, muito embora tenha sido apontado um ponto de discórdia entre as duas partes nos últimos dias.
O espanhol chegou o ano passado à ”Scuderia” e justificou plenamente a sua contratação, conseguindo terminar o Campeonato de Pilotos no quinto lugar – apenas atrás dos recrutas da Mercedes e da Red Bull – fazendo jogo igual com Charles Leclerc, muito embora ficasse a ideia de que o monegasco tinha alguma vantagem em velocidade pura.
Sainz mostrou ser um piloto fiável, consistente e capaz de apresentar resultados, quando o seu colega de equipa tinha algum problema.
No fundo, foi muito mais que um segundo piloto no seio da equipa, papel para o qual tinha sido contratado, e tinha ainda o aspecto positivo de se ter adaptado rapidamente à sua vida em Maranello e às exigências de ser piloto da Ferrari, tendo ainda uma excelente relação com Leclerc.
Tudo parecia alinhado para que o piloto de Madrid pudesse assinar rapidamente um acordo que estendesse a sua estadia na formação transalpina, cujo contrato original termina este ano.
Em Espanha surgiram rumores que apontavam para que Sainz visse anunciada a sua permanência em Maranello por mais dois anos esta semana, o que o colocaria a par com Leclerc, que termina o seu atual contrato em 2024, o que acabou por se verificar.
Seria muito difícil, senão impossível, que o espanhol não continuasse de “Cavallino Rampante” ao peito para lá de 2022, apesar de terem surgido rumores oriundos da Alemanha que apontavam para um desacordo sobre a duração do próximo contrato de Sainz, com este a interessado numa validade de dois anos, ao passo que a Ferrari desejaria apenas um ano com outro de opção do seu lado.
Esta era uma posição natural do espanhol, que sem se sentir o escudeiro de Leclerc, procurava as mesmas condições que o seu colega equipa.
Do lado da “Scuderia”, antes da temporada ter o seu início, faria sentido estender a permanência do espanhol ao lado de Leclerc por mais duas temporadas, mas, entretanto, as circunstâncias mudaram.
A Ferrari é para já a equipa a bater, tendo se adaptado bem ao novo regulamento, o que lhe permite liderar ambos os campeonatos de uma forma categórica e confortável, sendo que, para já, foi Leclerc que mostrou o caminho no seio da formação de Maranello, estando no primeiro lugar da competição de pilotos com setenta e um pontos e gozando de uma vantagem de trinta e quatro para o segundo classificado, George Russell, ao passo que Sainz está em terceiro com trinta e oito.
Ao estar na privilegiada posição de ter o carro mais competitivo do plantel e de ser a equipa mais forte do momento, a Ferrari estava na invejável situação de poder esperar para ver quem fica no mercado e decidir depois, dado ter um dos volantes mais desejados do momento.
Sempre com o intuito de manter Sainz ao lado de Leclerc, Mattia Binotto poderia sempre usar os pilotos livres como alavanca para conter as exigências do seu piloto – Daniel Ricciardo, Sérgio Pérez, Fernando Alonso, Pierre Gasly, etc, poderão estar livres para 2023.
Para além disso, o chefe de equipa da estrutura de Maranello sabe que a luta por um Campeonato poderá alterar a dinâmico no seio de uma equipa.
Para já, Sainz e Leclerc dão-se muito bem, mas daqui para a frente, se estiveram os dois envolvidos em batalhas por posições em pista tendo em vista o título, tudo pode mudar rapidamente, basta recordar como a relação entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg, amigos de infância, se degradou aceleradamente assim que tiveram nas mãos um Mercedes competitivo e dominador.
Se uma situação semelhante ocorrer no seio da Ferrari, Binotto, ao atrasar a assinatura do contrato com Sainz, teria a possibilidade de conter qualquer exagero do espanhol, podendo até acenar-lhe com um novo acordo, se este acatasse ordens de equipa.
Não existia aqui uma questão sobre as capacidades do piloto espanhol, antes as dúvidas quanto à forma como os dois pilotos poderiam, e poderão, gerir esta nova situação e, neste xadrez, Sainz estava em desvantagem.
Poderia haver também o factor Schumacher. O jovem Mick está na Haas a ganhar calo para um dia, caso comprove ter valor para isso, subir à Ferrari e, para isso, tem de existir um lugar vago num dos monolugares vermelhos.
No entanto, não parece que o ilustre alemão possa estar pronto para ingressar na “Scuderia”, caso algum dia esteja, até ao final de 2024 e, agora, mesmo que justifique tem a essa firmemente porta fechada nos próximos dois anos…
A Ferrari escolheu o caminho da estabilidade, dando a Sainz a possibilidade de estar numa posição de igual para igual com Leclerc, o que demonstra bastante confiança de Mattia Binotto relativamente ao espanhol.
Neste momento, o madrileno parte em desvantagem, dado que ainda não conseguiu bater o seu colega de equipa este ano e tem já uma desvantagem substancial para o líder do campeonato, o monegasco, sendo a pista que vai definir se haverá a necessidade de a Ferrari lançar a ordem para que o Sainz assuma o papel de segundo piloto.
Então Binotto esperará seguramente que o espanhol de 27 anos pague a confiança que lhe foi depositada com fidelidade à equipa de Maranello e possa ajudar Leclerc a terminar a travessia do deserto que dura desde 2007.