Fórmula 1: Os problemas da Mercedes
Ninguém queria acreditar, mas a Mercedes está mesmo com problemas e Lewis Hamilton só conseguiu chegar ao pódio devido aos problemas da Red Bull, antevendo-se uma caminhada difícil até ao regresso à competitividade.
As dificuldades que a equipa que dominou a ‘Era Turbo Hibrida’ sentiu nos testes do Bahrein já deixavam transparecer problemas com o W13, mas muitos suspeitavam que a Mercedes estivesse a esconder o jogo, à semelhança do que acontecera em defesos anteriores, esperando que no primeiro Grande Prémio da temporada pudesse, pelo menos, estar ao nível da Ferrari e Red Bull.
Porém, a realidade era aquela que se vira nos testes, e nem Lewis Hamilton nem George Russell tinham como acompanhar o ritmo dos carros de Maranello ou de Milton Keynes.
Na qualificação, a melhor volta que o heptacampeão mundial produziu – 1m31,048s, alcançada na Q2 – ficou a 0,490s do melhor registo da sessão, o tempo que deu a pole-position a Charles Leclerc, 1m30,558s.
Na corrida a desvantagem da Mercedes cresceu, tendo Hamilton, que esteve sempre no comando das operações no seio da equipa, perdido até à quadragésima terceira volta, antes de ter entrado nas boxes pela terceira vez, 38,275s para o monegasco da Ferrari, o que se traduz em 0,888s por volta – uma diferença massiva.
Esta é a dimensão do problema do Mercedes W13 que tem origem no já famoso “porpoising”, um fenómeno que afecta de sobremaneira o monolugar do construtor de Estugarda.
O W13 tem vindo a demonstrar desde que foi introduzido o pacote aerodinâmico que se caracteriza pelas dimensões reduzidas dos flancos do “bamboleio vertical” que afecta os monolugares com efeito de solo sem que a Mercedes tenha conseguido encontrar uma verdadeira solução para o problema.
Nas duas primeiras sessões de treinos-livres do Grande Prémio do Bahrein a equipa experimentou diversos fundos, mas muito embora tenha posto de parte alguns caminhos de desenvolvimento, não conseguiu encontrar uma forma de evitar decisivamente o aparecimento do “porpoising” que Hamilton e Russell sentem, inclusivamente, em curvas rápidas.
Sem uma solução para o problema, a Mercedes tem de recorrer a medidas de recurso que passam por levantar o carro – para evitar que o fenómeno seja espoletado – e endurecer a suspensão, para impedir que o carro se afunde quando se aproxima da sua carga aerodinâmica máxima.
Estas duas medidas têm como impacto a perda de apoio aerodinâmico – quando mais perto do solo o carro estiver, mais ‘downforce’ gera – e menos aderência mecânica nas curvas de baixa velocidade – quanto mais mole for a suspensão, mais aderência proporciona. Ou seja, o Mercedes está a perder em todas as áreas para as suas principais rivais, uma vez que o “porpoising” que se faz sentir sobretudo nas retas mais longas, também tem um impacto na velocidade de ponta do W13.
Segundo Russell, 50% do tempo perdido pela Mercedes para a Ferrari e Red Bull esfuma-se nas curvas e o restante nas rectas, sendo que apenas nas curvas de alta consegue acompanhar as suas rivais.
A situação complica-se em corrida, dado que com os solavancos do “porpoising” os pneus aquecem bastante, levando a que o W13 escorregue bastante nas travagens, curvas e acelerações, daí a diferença em corrida para os dois carros da frente ser superior à da qualificação.
Para compor a situação, o carro do marca alemão tem na sua configuração actual uma asa traseira maior, a equipa não teve meios para construir uma mais pequena a tempo das primeiras provas da temporada, criando mais arrasto sem que o apoio aerodinâmico gerado faça uma verdadeira diferença
A Mercedes está, portanto, com um carro nas mãos que considera ter potencial, mas o qual não consegue alcançar devido, sobretudo, ao “porpoising”, fenómeno que não consegue controlar, pelo menos, para já, ao contrário das suas principais rivais – Ferrari e Red Bull.
A equipa dirigida por Toto Wolff apostou forte no pacote aerodinâmico introduzido nos testes do Bahrein, mas o seu radicalismo e diferença para o seu antecessor, significou que o problema de “porpoising” sentido logo em Barcelona pelo W13 não tinha como ser resolvido, dado que as soluções aerodinâmicas seriam bastante distintas, o que redundou numa semana perdida na compreensão do carro.
Se olharmos para a Ferrari e Red Bull, verificamos que a primeira adoptou uma estratégia de manter o carro inalterado desde o teste de Barcelona até às primeiras corridas da época, ao passo que a formação de Milton Keynes optou por apresentar uma evolução na segunda bateria de ensaios, sendo esta uma actualização do conceito inicial. A Mercedes de Barcelona para Sakhir mudou completamente o conceito do W13 e agora parece estar a pagar por esse arrojo.
A formação liderada por Toto Wolff tem agora de se focar em entender os seus problemas de modo a encontrar solução consistentes, mas enquanto está nesta fase, e debaixo de um tecto orçamental que é bastante exigente, Ferrari e Red Bull têm carros bem-nascidos e estão focadas no desenvolvimento destes ao invés de tentar resolver problemas, o que poderá deixar a Mercedes ainda mais atrasada.
Porém, a equipa Brackley é uma força incrível, venceu os últimos oito títulos mundiais de construtores, e se há alguém que poderá conseguir sair do buraco em que se encontra é a formação da marca germânica…