GP do Bahrein de F1: A Ferrari está de regresso
Charles Leclerc venceu, Carlos Sainz foi segundo, a Red Bull baqueou no remate da corrida. A Ferrari regressou aos triunfos, e a Mercedes viu cair um pódio do ‘céu’…
Antes do Grande Prémio do Bahrein, dificilmente alguém apostaria numa dobradinha da Ferrari, mas durante a corrida do passado domingo viu-se um Charles Leclerc no comando das operações e quando a ofensiva da Red Bull implodiu, a ‘Scuderia’ regressou aos triunfos com o monegasco a liderar Carlos Sainz. A Mercedes, sem capacidade para lutar pela vitória, acabou por garantir um pódio por intermédio de Lewis Hamilton.
Depois dos testes de pré-temporada sabia-se que a equipa de Maranello tinha dado um passo em frente, mas existia alguma relutância em atribuir-lhe o favoritismo, sobretudo depois de a Red Bull ter introduzido um novo pacote aerodinâmico no RB18 no último dia de testes de Sakhir que parecia deixar o carro de Milton Keynes fora do alcance dos seus rivais mais directos.
Já a Mercedes evidenciava graves problemas de “porpoising” e só um milagre lhe permitiria chegar ao primeiro Grande Prémio do ano em condições de se poder bater pelo triunfo com a Ferrari e a equipa de bandeira austríaca.
Na qualificação ficou confirmado que a equipa que dominou a Era Turbo Híbrida não tinha argumentos para Ferrari e Red Bull, tendo Lewis Hamilton ficado na quinta posição da grelha de partida a quase sete décimos de segundo do tempo da pole-position.
Mas na luta pela primeira posição dava-se a primeira surpresa…
Ao longo das sessões de treinos-livres Max Verstappen parecia ser o principal favorito à pole-position, muito embora Charles Leclerc o acompanhasse como uma sombra, ficando a menos de um décimo de segundo do Campeão do Mundo na segunda e terceira sessões de treinos-livres.
Na qualificação, e quando realmente contava, o piloto da Ferrari impôs-se, conquistando a sua décima pole-position na Fórmula 1 ao bater Verstappen por 0,123s. O Campeão do Mundo foi mesmo acossado por Carlos Sainz, que perdeu apenas 0,006s para o holandês.
Pela primeira vez no fim-de-semana, a equipa de Maranello superava as expectativas e batia a Red Bull, que tinha Sérgio Pérez no quarto lugar a mais de três décimos de segundo de Leclerc.
Era evidente que, em circunstâncias normais, a luta pela vitória seria travada pelos pilotos destas duas equipas, ao passo que a Mercedes dificilmente poderia fazer mais que assistir ao duelo.
Apesar da Ferrari ter vencido o primeiro “round” do fim-de-semana, acreditava-se que em ritmo de corrida a Red Bull poderia ter ainda uma vantagem.
Muita animação
Os dois primeiros estavam decididos em ganhar, como seria de esperar, abordando o início da prova de cinquenta e sete voltas de forma distinta – Leclerc montava pneus macios novos, ao passo que Verstappen apostava no mesmo composto com borrachas usadas.
O monegasco estava, portanto, em vantagem para o arranque e para o primeiro “stint” da corrida, e fez valer a sua lei, mantendo a liderança na partida e começando a cavar uma vantagem para os seus perseguidores.
Com pneus usados, era justificável que, até às primeiras paragens nas boxes, Verstappen pudesse perder algum terreno para Leclerc e foi o que se se verificou, com o piloto da Red Bull a perder 3,7s para o “ferrarista” até à décima terceira volta, mas era importante manter-se na zona de ‘undercut’ para poder atacar o comando.
Na décima quarta volta os estrategas chamaram o seu piloto às boxes para trocar de pneus, tendo a Ferrari reagido na volta seguinte.
Verstappen não conseguiu ascender à primeira posição, mas colocou-se em zona de DRS e nas três voltas seguintes lançou fortes ataques a Leclerc, que se defendeu estoicamente e inteligentemente.
O holandês, em três situações distintas e consecutivas, travou mais tarde para a Curva 1, subindo a primeiro, mas o monegasco, que travava mais cedo para ter melhor saída, contra-atacava na zona de DRS seguinte, recuperando a liderança.
Na décima oitava volta o piloto da Ferrari garantia definitivamente o comando, passando a afastar-se paulatinamente do seu perseguidor, apesar de este ter pneus novos, contra usados do primeiro classificado.
Na vigésima nona volta, a diferença entre os dois já se cifrava nos 4,1s, tendo o piloto da Ferrari aproveitado alguns problemas de sobreaquecimento do Red Bull para se afastar.
A equipa de Milton Keynes voltou a tentar o “undercut”, na trigésima volta, mas a “Scuderia” respondia logo de seguida e desta vez Verstappen não tinha como lançar um ataque.
Agora, ambos com pneus médios novos, os dois estariam em igualdade de condições e, uma vez mais, Leclerc tinha ritmo para se afastar do seu perseguidor, cavando uma vantagem de 4,9s até à quadragésima segunda volta, ficando claro que a Red Bull tinha de tentar algo diferente, se quisesse ter alguma possibilidade de vencer.
Na quadragésima terceira volta chamou ambos os seus pilotos para uma terceira troca de pneus, tentando um final de ataque. A Ferrari, por seu lado, chamava apenas Sainz, mostrando-se confiante de que Leclerc poderia manter o comando sem os riscos associados a mais uma paragem nas boxes.
Na volta seguinte, Verstappen ganhava 1,7s ao monegasco, uma diferença que parecia não ser suficiente para suprir os vinte e cinco segundos distava do comando. Para além disso, um tirante da direção danificado durante a paragem nas boxes, deixava a direção bastante pesada nas curvas para a direita, o que lhe dificultava ainda mais a tarefa.
Ferrari quase perfeita
Contudo, tudo isto seria académico, uma vez que Pierre Gasly, na quadragésima quinta volta, parava em pista com um princípio de incêndio, espoletando o aparecimento do Safety-Car, o que permitia a Leclerc passar pelas boxes para montar pneus e manter o comando da corrida sem qualquer dificuldade.
A prova seria retomada na quinquagésima primeira volta e o piloto da Ferrari não teve dificuldades em manter o comando, lançando-se para a sua terceira vitória na Fórmula 1 e a primeira da ‘Scuderia’ desde 2019, quarenta e seis corridas depois.
A situação da Red Bull pioraria ainda significativamente, com Verstappen a abandonar na quinquagésima quarta volta e Pérez a seguir-lhe o mesmo caminho no início da última.
Ambos sofreram problemas no sistema de alimentação do V6 turbo híbrido concebido pela Honda, que não conseguia levar gasolina até às câmaras de combustão.
Para uma equipa que chegara a Sakhir como a favorita, a Red Bull deixava o Bahrein sem que nenhum dos seus pilotos visse a bandeira de xadrez e sem qualquer ponto, um desfecho frustrante.
Carlos Sainz, que ao longo do fim-de-semana nunca mostrou argumentos para acompanhar o seu colega de equipa, subia assim a segundo, ao passo que Lewis Hamilton salvava um terceiro posto, apesar da Mercedes não ter sequer no horizonte a possibilidade de replicar as performances de Ferrari e Red Bull.
Para se ter uma ideia da falta de ritmo dos carros do construtor de Estugarda, o heptacampeão do mundo até à sua terceira paragem nas boxes, estavam decorridas quarenta e quatro voltas, perdeu uns massivos 38,2s, o que representa 0,89s por volta, uma décalage de performance que será difícil de suplantar a curto prazo.
No final, a grande vencedora era a Ferrari, que não era considerada a favorita, mas mostrou quando era necessário que era a mais forte, ao passo que a Red Bull leva de Sakhir a frustração de talvez não ter o carro mais competitivo do plantel e de continuar em branco depois da primeira corrida.
FIGURA: Charles Leclerc
O monegasco esteve irrepreensível desde a qualificação, assinando a pole-position, a volta mais rápida e triunfando na corrida de forma autoritária.
A forma como Leclerc se impos na luta roda com roda a Verstappen foi uma forma de mostrar ao Campeão do Mundo que este ano terá de contar com ele e que responderá com agressividade às investidas arrojadas do holandês.
É ainda cedo para dizer que a Ferrari tem um carro capaz de lutar pelos títulos deste ano, mas Leclerc mostrou que está pronto para a isso.
MOMENTO: Luta entre Verstappen e Lelcerc
Nas voltas 16ª, 17ª e 18ª Leclerc e Verstappen envolveram-se numa batalha intensa em que os dois trocaram por diversas vezes de posições.
Este duelo mostrou que os carros de 2022 são mais propícios às lutas roda com roda, um dos objectivos deste novo ciclo regulamentar.
Noutro plano, permitiu a Leclerc mostrar a Verstappen que, com ele, o holandês não terá facilidades nas lutas em pista, estando o monegasco decidido em responder com a agressividade que normalmente caracteriza o Campeão do Mundo.