Fórmula 1: Uma terceira divisão que se extinguiu
Na temporada passada três equipas marcaram presença de forma consistente na cauda do pelotão e todas elas com a esperança evidente de aproveitarem o novo regulamento, implementado este ano, para dar um salto competitivo. Terá alguma conseguido?
Williams, Alfa Romeo e Haas foram o ano passado as equipas menos competitivas da grelha de partida, ficando, por esta ordem, com as três últimas posições do Campeonato de Construtores, com a formação de bandeira americana a não conseguir sequer um ponto.
A formação de Kannapolis chegou mesmo ao extremo de colocar de parte a temporada de 2021 para concentrar todos os seus recursos no projecto deste ano, competindo na época passada com um monolugar de 2020 adaptado às alterações de pormenor na área do fundo plano junto às rodas traseiras.
As equipas de Grove e Hinwil não adotaram abordagens tão extremistas, mas ainda assim, rapidamente cancelaram o desenvolvimento dos seus contentores de 2021 para se centrarem no projecto deste ano.
Então qual destas equipas fez um melhor trabalho e parece ter dado um maior salto competitivo com o novo regulamento técnico pelo qual tanto ansiaram?
Ao fim de seis dias de testes, a Alfa Romeo parece ter sido quem maior potencial tem no seu carro, porém, o C38 mostra-se frágil e, ao longo das duas baterias de ensaios, tanto Valtteri Bottas, que deixou a Mercedes para ingressar na formação de Hinwil, como Guanyu Zhou, que se estreia na Fórmula 1, ficaram demasiado tempo nas boxes a ver os outros em pista.
No entanto, se os homens liderados por Frédéric Vasseur conseguirem curar as questões de fiabilidade que tem afligido o monolugar com as cores da marca de Arese, este demonstra ser capaz de se bater por lugares na Q3 e nos pontos com alguma regularidade, muito embora a dinâmica do segundo pelotão, que parece ainda mais junto que nunca, signifique que nem sempre o consiga.
Aparentemente Haas está numa situação muito semelhante à da sua companheira enquanto cliente da Ferrari.
A formação de Kannapolis não teve uma pré-época fácil, com o eclodir da guerra da Ucrânia a obrigá-la a cortar os laços com a Uralkali e com Nikita Mazepin, acabando por recontratar Kevin Magnussen. Para além disso, um problema técnico no cargueiro aéreo que levou o material da equipa desde Inglaterra até Sakhir, para a segunda sessão de testes, atrasou todo o seu programa de preparação.
Para lá destes contratempos, o VF-22 mostrou alguma fragilidade, mas revelou-se rápido, parecendo ser capaz de dar um salto competitivo substancial que poderá permitir a Magnussen e Mick Schumacher estarem na luta pelos pontos e pela Q3 em algumas situações – uma mudança de panorama evidente face a 2021.
A grande dúvida entre estas três equipas é a Williams.
O FW44, com um design radical na área dos flancos, mostrou-se muito prometedor nos testes de Barcelona, mas no Bahrein não mostrou a evolução que se esperava, tendo um princípio de incêndio causado por uma situação “demasiado estúpida para explicar” atrasado todos os planos da equipa.
A estrutura fundada por Frank Williams dificilmente não estará no fundo do pelotão nos dois primeiros Grandes Prémios da temporada, mas não estará longe do grupo que luta por posições nos pontos e, se conseguir recuperar o atraso que sofreu em Sakhir e compreender o seu novo monolugar, rapidamente poderá esgrimir por posições na Q2.
Nicholas Latifi e Alex Albon poderão estar um passo atrás relativamente aos seus rivais, mas não é uma situação à qual estejam condenados ao longo de toda a temporada, dada a proximidade competitiva entre todos os carros.
Os primeiros dados reunidos após as duas baterias de testes – de Barcelona e de Sakhir – parecem indicar que o pelotão está mais junto do que nunca, com a diferença entre as equipas de ponta e as do final da grelha de partida a reduzir-se.
Isto significa que os pilotos poderão ser mais relevantes na obtenção de resultados e que o ritmo de desenvolvimento será igualmente determinante para os resultados.
Este trio de equipa representava uma clara terceira divisão em 2021 no seio da Fórmula 1, mas com esbatimento das diferenças, Williams, Alfa Romeo e Haas parece ter subido ao Segundo Pelotão, tornando ainda mais interessante a luta pelos pontos e pela batalha por um lugar na Q3, podendo tudo mudar de Grande Prémio para Grande Prémio.
Numa palavra, incerteza, que é o que todos queremos na categoria máxima do desporto automóvel.