Kevin Magnussen e a Audi: o apelo da Fórmula 1
Desde há muitos anos que a Fórmula 1 é o pináculo do desporto automóvel e o sonho de centenas, senão milhares, de jovens pilotos, assim com uma plataforma global desejada por construtores e marcas para se mostrarem e voltamos a ter exemplos disso mesmo.
“No resto da minha carreira competirei apenas se tiver esperança de ganhar. O que quer que eu faça, não entrarei em nada se souber que não posso ganhar, nunca mais.
“O que quer que eu faça, quero comprometer-me. Ganhar é o foco principal e a principal prioridade. Não quero fazer as coisas pela metade.”
Estas foram as palavras de Kevin Magnussen no início de fevereiro, quando não tinha no horizonte um regresso ao mundo dos Grandes Prémios. No entanto, passado pouco mais de um mês, o dinamarquês está a preparar-se para disputar o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 de 2022 aos comandos de um Haas, dificilmente um carro competitivo e capaz de lhe garantir vitórias. No máximo permitir-lhe-á lutar por pontos e, se todos os astros estiverem alinhados, talvez um pódio.
E não podemos dizer que Magnussen não tivesse um programa aliciante para este ano, uma vez que iria tomar parte no SportsCar Championship aos comandos de um Cadillac da Chip Ganassi Racing, um carro capaz de proporcionar vitórias, e tinha assinado um contrato com a Peugeot para o programa de endurance da marca francesa, que tem como objetivo vencer as 24 Horas de Le Mans de 2023.
Noutro plano, soube-se nos últimos dias que a Audi, no mínimo, colocará o seu projeto de resistência, com o qual contava voltar a La Sarthe para tentar vencer a prova pela décima quarta vez, em stand-by, havendo quem garanta que se trata de um cancelamento definitivo.
As razões apontadas para esta decisão são diversas e a marca de Ingolstadt não revelou oficialmente nenhuma, mas existe uma linha de pensamento que aponta para que os muitos recursos alocados ao programa do Dakar, em que usa um protótipo híbrido, pode ser uma delas.
No entanto, há quem aponte que a decisão, ainda não oficial, de ingressar no Campeonato do Mundo de Fórmula 1 em 2026, quando entra em vigor o novo regulamento de motores, será a motivação maior para colocar uma pedra sobre o regresso da Audi a Le Mans em 2023.
Temos, portanto, uma situação em que um piloto, muito embora tenha dito que só voltaria à Fórmula 1 caso pudesse vencer, enjeita a possibilidade de lutar por triunfos noutras categorias para regressar à disciplina máxima e um construtor que, potencialmente, coloca um fim num projeto vencedor para abraçar o maior palco do automobilismo mundial.
Isto demonstra o apelo do mundo dos Grandes Prémios que se assume cada vez mais como um desporto de nível global.
A crescente penetração da Fórmula 1 nos Estados Unidos da América, em parte devido ao documentário produzido pela Netflix e potenciado pelo duelo protagonizado o ano passado por Lewis Hamilton e Max Verstappen, seduz as marcas das mais diversas áreas, como se tem vindo a verificar com o recente influxo de patrocinadores, e pode ser uma poderosa ferramenta de marketing para os construtores automóveis, como não existe outra no mundo do automobilismo.
Para além disso, com os custos controlados pelo Teto Orçamental – tanto nas áreas das equipas como nas dos construtores de motores a partir de 2026 – a categoria que há uns anos era insustentável para muitos ao nível financeiro, é agora uma solução alcançável e viável para os programas desportivos das marcas de automóveis, que têm uma exposição mediática consistente a nível global.
Com estas limitações aos gastos, as equipas podem passar a ser um centro de lucro, uma vez que só o dinheiro distribuído pela FOM a cada uma das concorrentes se aproxima dos cem milhões de dólares, o que os deixa responsáveis por encontrar os restantes quarenta milhões para alcançarem o tecto orçamental.
Tudo o restante valor gerado, pode ser investido na equipa ou ser encarado como lucro, cenário impossível de encontrar em qualquer outra categoria do desporto automóvel. Esta situação tem ainda impacto no valor de cada uma das concorrentes, que sendo centros lucrativos, passam a valer muito mais.
Estas poderão ser os motivos por detrás da decisão da Audi, caso se confirme a sua entrada na Fórmula 1 em 2026, ao que tudo indica com a sua própria equipa, ganhando força a possibilidade de comprar a Williams.
No caso de Magnussen, a sedução da Fórmula 1 continua a ser intensa para qualquer piloto, dado que qualquer um deles gostaria de ter nas mãos um dos carros mais rápidos do mundo e esses são aqueles que militam na categoria máxima.
Qualquer piloto gosta de vencer e, na verdade, essa é provavelmente a sua maior motivação para entrar dentro de um carro de competição, mas competir no maior palco do mundo do automobilismo com os monolugares mais performantes do planeta continua a ser um apelo demasiado forte para enjeitar, mesmo se as vitórias estiverem fora do horizonte, e Magnussen voltou a provar isso mesmo.
Por muito apelativo que possa ser um programa, como por exemplo um que tenha como objetivo vencer Le Mans, a Fórmula 1 continua a ser a Fórmula 1, sem qualquer rival no plano do desporto automóvel…