F1: Os novos desafios dos regulamentos de 2022

Por a 3 Fevereiro 2022 10:30

Os novos regulamentos para a época 2022 mudam muita coisa e inevitavelmente trazem novos desafios para pilotos e engenheiros. Depois de termos visto o que muda. olhamos para alguns dos possíveis efeitos dessas mudanças.

Carros meio segundo mais lentos, segundo última previsão da FIA

As primeiras previsões sobre o desempenho dos monolugares de 2022, eram catastróficas em termos de perda de tempo para a atual geração. Surgiram rumores que davam conta que a diferença podia ser, em média, 5 segundos por volta, mas segundo Pat Symonds, um dos responsáveis pelo projeto, serão cerca de meio segundo mais lentos.

Em agosto, o diretor técnico da Alfa Romeo, Jan Monchaux explicou à publicação alemã Auto Motor und Sport que que os monolugares de 2022 poderiam ser 3 segundos mais lentos do que os atuais. “Com o primeiro layout, incluindo o peso adicional, (a diferença), o carro foi de cinco a seis segundos mais lento. Há que compensar os 40 quilos primeiro. O novo combustível pode custar potência aos motores. Temos de esperar e ver o que os fabricantes de motores dizem acerca disso. É difícil estimar quanta diferença se pode recuperar com a aerodinâmica. Acho que serão três segundos mais lentos. Mas o campeão mundial, provavelmente, vai encurtar para um segundo e meio a dois. Essa é a minha avaliação. Limite orçamental ou não: as grandes equipas têm boas pessoas e métodos para atingir os seus objetivos mais rapidamente do que as pequenas.”

Com a evolução dos carros durante o segundo semestre de 2021, os engenheiros foram encontrando soluções e recentemente, Pat Symonds, admitiu que pode acontecer chegarmos ao final do ano e vermos a mesma performance que vimos em 2021. “Podemos prever que os carros novos no início da temporada serão, em média, apenas meio segundo por volta mais lentos do que os atuais. E podem igualar o andamento no final da temporada. Eu digo ‘podem’, porque nós não sabemos qual o ritmo de desenvolvimento permitido por esses regulamentos “, afirmou o engenheiro à publicação Auto Motor und Sport.

Symonds justifica a sua previsão com base no trabalho no túnel de vento, esperando-se velocidades mais altas, principalmente em curvas de média a alta velocidade, aproveitando para isso o efeito Venturi que aumenta com a velocidade. Outro fator importante para o desempenho do carro, são os novos pneus da Pirelli. Existe a percepção que os novos pneus têm um rendimento melhor que o esperado, após a realização de testes com o fornecedor e várias equipas do pelotão.

 Novas máquinas darão mais dores de cabeça

2022 traz uma nova era ao nível técnico, com muitos desafios para os engenheiros. Mas também os pilotos vão ter problemas, como explicou o diretor técnico da Alfa Romeo, Jan Monchaux.

Carros que permitem mais lutas roda com roda serão também mais desafiantes para os pilotos. Era esta a vontade da F1 quando pensou nos novos carros. E se ainda não sabemos se as lutas roda com roda estão garantidas, o maior desafio para os pilotos deverá ser uma realidade. E os motivos são muito simples: mais peso e apoio aerodinâmico diferente.

Sabemos que os carros atuais produzem quantidades espantosas de apoio aerodinâmico que colam os carros à pista, permitindo curva a velocidades estonteantes. Mas o apoio aerodinâmico, com carroçarias muito mais simples e sem apêndices aerodinâmicos e com o efeito solo, será gerado de forma diferente.. Mas o maior problema será o peso dos carros. Os 752 kg atuais irão transformar-se em 790 kg o que significar mais massa em curva e maior dificuldade de controlo do carro, um cenário que piora com sistema de suspensão completamente novo, que poderá não permitir um controlo tão eficiente das transferências de massa e da altura ao solo o que levará inevitavelmente a carros com um comportamento muito mais difícil de domar.

“Mesmo que todas as equipas sejam muito criativas, vamos ter dificuldade para recuperar a autoridade que costumávamos ter em algumas características aerodinâmicas específicas”, disse Jan Monchaux, ao RaceFans.

“Os pneus e jantes estão a ficar muito mais pesados”, disse Monchaux. “O peso não suspenso também vai tornar as coisas mais complicadas. Há algumas mudanças sérias em termos de suspensão. Não há mais nenhuma suspensão hidráulica nova, pelo que todos os tópicos relacionados com a condução pioram. Eu creio que, no geral, se os carros têm algumas características específicas menos controladas ou não numa janela de afinação tão grande como costumavam ter graças a todas as as asas e à adição da massa não suspensa, modificações nos regulamentos, poderão ser mais complicados de conduzir”, concluiu Monchaux. “Especialmente em condições de muito vento ou em algumas condições extremas em que, tendo menos ferramentas, poderá não ser possível recuperar totalmente as perdas que temos. Mas continua a ser especulativo.”

Novos regulamentos  poderão retirar vantagem aos melhores pilotos?

As novas regras  foram pensadas para melhorar o espetáculo, permitindo que os pilotos consigam perseguir os adversários mais de perto, durante mais tempo. Mas será que isso irá diluir a vantagem que os melhores pilotos da atualidade têm?

A quantidade de “ar sujo” que os carros atuais produzem são uma dor de cabeça para quem tem a missão de se aproximar e tentar ultrapassar adversários. Ou a diferença de andamento é clara ou então a dificuldade em perseguir e ultrapassar é enorme. Mas ainda assim, há pilotos que se destacam. Lewis Hamilton é um deles, pois consegue aguentar mais tempo atrás de um adversário, sem perder muito tempo. Basta ver que conseguiu pressionar Alonso durante dez voltas e apesar da óbvia diferença de valia entre os carros, o britânico não sentiu necessidade de levantar o pé durante algumas voltas e tentar novamente. Max Verstappen é também um dos melhores neste capítulo. Mas se no próximo ano essa capacidade não tiver o mesmo peso, será que vamos ver os melhores pilotos a perder vantagem?

Peter Windsor, jornalista e ex- team manager da Williams acredita nesse cenário:

“Se olharmos para o carro de 2022, muito do que vem com o novo carro tem a ver com facilitar a vida dos pilotos em seguir o carro da frente em termos da turbulência, que terá menos efeito na asa da frente. Penso, e aposto muito dinheiro nisto, que a FIA teve em conta que há pilotos que são realmente muito bons a seguir outro carro em ar sujo, e outros que não o são. Penso que estão a tomar o menor denominador comum, e a tornar o carro mais fácil de seguir. Isso significa que o impressionante talento de um Max, Charles (Leclerc) e Lewis (Hamilton) em tal situação vai ser enfraquecido porque agora é preciso fazer menos numa situação tão difícil. Esse lado do seu talento não será exposto como está agora.”

Se por um lado esta observação faz sentido, é motivo para preocupação? Não. Apesar das dificuldades atuais realçarem o enorme talento de alguns pilotos, não significa que numa situação em que as dificuldades diminuem esse talento não poderá ser também realçado. Os melhores pilotos encontram sempre formas de se reinventar e de encontrar soluções que lhes possam dar vantagem. São muitos os casos de pilotos que tiveram de adaptar o seu estilo de condução a um determinado carro, tirando máximo partido das suas caraterísticas. Por isso, os carros de 2022 não serão uma ferramenta que permitirá equivaler performances. Os melhores continuarão a ser claramente os melhores em relação aos restantes.

Novos candidatos à vista?

A nova regulamentação de 2022 está prestes a chegar e há muitas incertezas. O que nos trará 2022? Como ficará o campeonato com este novo regulamento? Que tipo de corridas teremos? Mas principalmente… quem leva a melhor?

Os primeiros anos dos novos regulamentos são, habitualmente, anos em que uma equipa se evidencia, pelo menos na primeira metade. As novas regras foram estudadas ao pormenor pelas equipas, que fizeram a sua interpretação do que está escrito. É aqui que reside o “truque”, encontrar a zona cinzenta, aquele parágrafo que não especifica de forma clara o que se pode ou não fazer, aquela regra que permite obter uma vantagem. Todos os anos, os engenheiros tentam ganhar performance neste jogo de interpretação em que os mais perspicazes ganham vantagem. E é aqui que pode estar a chave de 2022.

Teoricamente, qualquer equipa pode encontrar o tal “truque” que permite ter vantagem. Na prática, as melhores equipas, com os melhores engenheiros e com mais staff têm uma probabilidade maior de encontrar o segredo do sucesso e por isso é pouco provável que a Haas consiga um salto tremendo e não é expectável que a Williams, Alfa Romeo e Alpha Tauri se transformem em candidatas a vitórias em todas as corridas. Mas podem crescer muito e aproximar-se do topo. No caso das equipas como a Alpine, McLaren, Aston Martin e Ferrari, o cenário é diferente e há vontade de encontrar o “filão de ouro” que permitirá esticar a vantagem face à concorrência. Há recursos técnicos e humanos suficientes nestas equipas para o conseguir, destronando assim a Mercedes e a Red Bull que estiveram numa liga à parte este ano e que são as melhores equipas da atualidade. Mais ainda, a Mercedes e a Red Bull esticaram o desenvolvimento dos seus monolugares um pouco mais do que os adversários e uma ou duas semanas de trabalho a menos nestes novos regulamentos, podem fazer a diferença.

Os primeiros dias em pista vão ser de um frenesim tremendo e as equipas vão pagar horas extras aos fotógrafos para apanharem todos os ângulos dos carros da concorrência. É aqui que as equipas vão começar a comparar conceitos e soluções, enquanto o cronómetro vai atestando a validade do trabalho feito. O que se espera então é que uma ou duas equipas encontrem um caminho que os restantes não viram, ou acharam que não valia a pena percorrer e que, afinal, rende frutos. Uma ou duas equipas que começarão o ano em grande e poderão ter vantagem até meio da época (ou mais). O campeonato poderá decidir-se nos primeiros meses do ano. Também pode acontecer que uma ou duas equipas sigam uma via árida que não dê frutos desejados e, face à limitação no orçamento, poderá ter pela frente um 2022 muito duro. 

Mas, ao contrário do que aconteceu em 2014, não se esperam diferenças tão grandes nas performances das equipas. Os regulamentos são propositadamente mais restritivos para evitar que haja diferenças tão vincadas. As diferenças existirão no início e poderão até desanimar os fãs menos conhecedores da realidade da F1. Não se pode prometer um campeonato tão competitivo como o que vimos em 2021 (algo raro), pois muda tanto, que alguma equipa poderá encontrar o caminho que mais nenhuma encontrou e lucrar com isso. Mas o que se pode garantir com uma boa dose de confiança é que não serão necessárias sete épocas para termos um campeonato mais renhido. Os novos regulamentos foram feitos com pouca margem para evolução pelo que a famosa convergência de performances poderá acontecer logo na época seguinte. James Key, diretor técnico da McLaren afirmou isso mesmo:

“As regras são escritas de forma restritiva, mas isso tende a estimular a inovação”, disse Key, citado pelo Auto Motor und Sport. “Espero ver ideias diferentes. Todos nós vamos olhar para o que os outros têm feito. Ao mesmo tempo, primeiro todos têm de se certificar de que o que foi previsto na fábrica chega de facto à pista. A correlação será verificada. Iremos comparar pontos fortes e fracos. Penso que a partir de 2023, as equipas irão convergir mais sob estes regulamentos porque as grandes tendências serão identificadas ao longo de 2022”.

Resumindo, 2022 traz muitas novidades, essas novidades poderão diminuir a competitividade em pista, mas essa diminuição é temporária e logo em 2023 poderemos ver as corridas que nos foram prometidas. O entusiasmo vai crescendo e fevereiro promete grandes novidades.  

Pirelli espera menos paragens nas boxes este ano

A Pirelli apresenta este ano novos pneus, que foram testados exaustivamente e que pretendem reduzir algumas fragilidades dos anteriores. A FIA pediu pneus com uma janela operacional maior, com menos degradação térmica. Aplicados a uma nova filosofia aerodinâmica, as novas borrachas trarão novos desafios aos pilotos e aos engenheiros. No caso das estratégias, poderemos ver menos paragens em pista, pois os parâmetros impostos à Pirelli para criar os novos pneus implicam uma menor degradação. Questionado pelo AutoSport sobre uma menor variabilidade estratégica para esta época, Mario Isola, responsável da Pirelli, respondeu:

“Espero que não e que não haja menor variabilidade estratégica, porque a ideia e a forma como desenhamos os novos pneus foi para continuarmos a ter diferentes estratégias e mistura de uma e duas paragens. É também verdade que com o novo produto, com menos degradação, é provável que tenhamos menos paragens nas boxes. A maioria das corridas será apenas com uma paragem, mas creio que isso não será um problema, desde que tenhamos boas corridas. Se os pilotos puderem puxar para ultrapassar e as ultrapassagens não forem demasiado fáceis o espetáculo melhora. É mesmo isso que os espetadores querem. Há uma sondagem feita pela F1 sobre este tema e a grande maioria não quer ultrapassagens fáceis.”

Neste caso não se trata de ultrapassagens mais fáceis ou mais difíceis, mas uma componente do espetáculo que é habitualmente apreciada pelos fãs. As paragens nas boxes são um espetáculo dentro do próprio espetáculo, momentos que podem decidir uma corrida e com duas paragens, temos o dobro de hipótese de vermos mudanças, além de vermos o dobro de paragens que são sempre interessantes de seguir. A Pirelli fez o que lhe foi pedido e criou um pneu mais resistente ao sobreaquecimento, permitindo aos pilotos andarem mais no limite, o que deverá dar-nos mais espetáculo. Mas, do ponto de vista da estratégia, deveremos ter menos pontos de interesse.

Em 2020 devido à pandemia, a Pirelli foi encarregue de selecionar os compostos para cada corrida, ao contrário da escolha livre de cada equipa até aquele ano. Assim continuou em 2021 e continuará a ser em 2022, mas desta vez depois do pedido das equipas à Pirelli para manter os custos reduzidos e por causa da falta de dados sobre os novos pneus.

“Tivemos que encontrar essa solução durante a pandemia para poder reagir mais rapidamente”, explicou Mario Isola sobre a alocação de pneus. “Mas as equipas são da opinião que o sistema é realmente muito bom”. 

O responsável pela Pirelli Motorsport acrescentou que: “Disseram-nos que se têm uma alocação fixa, que é a mesma para todos, então não há vantagem para um ou outro, e começam a planear com base nessa alocação fixa em vez de perderem tempo, recursos e pessoas a pensar na seleção mais dura ou mais macia”, para além que “com o novo produto, ninguém tinha certeza sobre os compostos para decidir a seleção.”

Mais imagens –

Tim Holmes Design – https://twitter.com/timholmesdesign

Olcay Tuncay Karabulut – https://www.instagram.com/olcaytuncaykarabulut/

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