Fórmula 1: O ‘abandono’ de Hamilton e as pressões da Mercedes
Há duas semanas assistiu-se a um corrupio de notícias nos media britânicos que dava conta de a possibilidade de Lewis Hamilton abandonar a Fórmula 1, caso não lhe agradassem as medidas concluídas através da análise da FIA ao sucedido nas últimas voltas do Grande Prémio de Abu Dhabi, dando a ideia de que a Mercedes estava a usar o seu poder nos meios de comunicação para pressionar os responsáveis da FIA.
Tudo estava calmo nos hostes da equipa de Brackley, mas subitamente, não havia jornal ou website oriundo de Inglaterra que não apontasse que, segundo fontes que desejavam manter anonimato, o heptacampeão fazia depender o seu regresso à Fórmula 1 das conclusões e medidas que a FIA colocará em prática depois da análise que está a fazer à forma como Michael Masi usou o Safety-Car nos momentos finais da prova que deu a vitória e o título a Max Verstappen.
O mais curioso é que todas estas notícias foram colocadas em circulação uma semana antes de uma reunião da FIA para avaliar a questão e Toto Wolff adensou ainda mais a trama ao afirmar que “seria um apontar de dedo a toda a Fórmula 1, se o melhor piloto decidisse desistir por causa de decisões escandalosas”, em declarações prestadas a uma publicação austríaca.
Estas afirmações e este vazar de “informação privilegiada” foram cirurgicamente colocadas com o intuito de intensificar a pressão do lado dos homens da FIA que ficam com o ónus de terem de encontrar uma solução que agrade Hamilton, caso contrário este bate com a porta, esta é a história.
O silêncio do heptacampeão do mundo parece estar em uníssono com a estratégia comunicacional da Mercedes.
É evidente que os homens da formação do construtor germânico ainda não ultrapassaram o sucedido naqueles derradeiros momentos da prova de Yas Marina, o que, de certa forma, é compreensível, dado que, de uma situação em que um domínio confortável, passaram a uma em que viram o título de pilotos escapar-lhes por entre os dedos devido a um golpe de azar e a um conjunto de decisões de Michael Masi que, ainda que permitidas pelo regulamente, foram incomuns e não tiveram paralelo no passado.
Porém, se a frustração de é um sentimento perfeitamente aceitável nas hostes da Mercedes, as pressões a que a organização esta a exercer extravasam já as fronteiras do que é compreensível, uma vez que, segundo diversas fontes, o objectivo dos responsáveis da formação de Brackley passa por ver Michael Masi, o director de prova da Fórmula 1, e Nikolas Tombazis, o responsável técnico para os monolugares da FIA, fora de acção.
A situação do australiano é, de facto, muito complicada, e dificilmente manterá o seu posto este ano.
Masi foi cometendo diversas inconsistências ao longo da temporada, talvez a mais clara aquela em que decidiu que a defesa de Max Verstappen ao ataque de Lewis Hamilton durante o Grande Prémio de São Paulo não era motivo para investigação.
As suas decisões na prova de Abu Dhabi, apesar de escudadas pelo regulamento e ir de encontro à resolução dos chefes de equipa de não terminar corridas em situação de Safety-Car, acaba por o deixar exposto e daqui para a frente, a manter o seu lugar, todas as suas deliberações serão questionadas a partir do “pit-wall” por todos o que sentirem que estão a ser prejudicados.
A sua saída do posto que ocupou nos últimos anos parece, portanto, ser uma inevitabilidade.
Porém, a Mercedes parece querer ir mais longe e também estará a pressionar a FIA para que esta prescinda dos serviços de Nikolas Tombazis.
O grego, que ingressou na Fórmula 1 no início da década de 1990 e passou pela Ferrari e pela McLaren enquanto aerodinamista, é presentemente o responsável técnico máximo da entidade federativa para os monolugares, razão pela qual é visado pela Mercedes por mais que uma razão.
Tombazis foi um dos responsáveis pelas alterações ao regulamento técnico de 2021, que incidiu sobre a área do fundo plano em torno das rodas traseiras e o extractor aerodinâmico. Como se sabe, a Mercedes e a Aston Martin acusaram as modificações de prejudicarem os seus monolugares, dado serem os únicos a adoptarem a filosofia “low-rake”, tendo a equipa de Brackley chegado mesmo a afirmar que o regulamento tinha sido desenhado de modo a diminuir a vantagem técnica do seu monolugar.
Este foi um assunto que agastou Toto Wolff e os seus homens, mas mais tarde, mais concretamente no Grande Prémio do Brasil, haveria outro que deixava o austríaco furioso.
No auge da batalha pelos títulos, a Red Bull lançou fortes dúvidas quanto à legalidade da asa traseira do Mercedes, apontando que o componente estaria a flectir para além do permitido regulamentarmente.
Apesar de a equipa de Milton Keynes não ter apresentado um protesto formal, Tombazis foi verificar o componente em questão, confiscando-o, o que enfureceu Wolff.
De acordo com o austríaco, o DRS do carro do heptacampeão do mundo estava danificado e, ao contrário do procedimento habitual, no seguimento de um acordo de cavalheiros, não foi permitido à equipa corrigir a situação no Parque Fechado, tendo o departamento técnico da FIA, liderado por Tombazis, preferido reportar a situação aos comissários, o que resultou na desclassificação de Hamilton.
Wolff apontou que um novo protocolo tinha sido instituído, muito embora o utilizado em Interlagos durante o caso seja a aplicação correcta do regulamento.
Estes são as principais razões para que a Mercedes deseje o afastamento de Michael Masi e Nikolas Tombazis, usando como arma de arremesso a possível, e hipotética, decisão de Lewis Hamilton em abandonar a categoria máxima do desporto automóvel.
Wolff fez saber que prejudicaria a imagem da Fórmula 1 se o seu piloto decidisse bater com a porta depois do sucedido em Yas Marina.
É evidente que, presentemente, Hamilton é o piloto com mais notoriedade do actual plantel e, subitamente, desaparecer das grelhas de partida devido a toda a polémica não seria positivo, uma vez que seriam bastantes as vozes que se levantariam a apontar o dedo à FIA.
Porém, o inglês não sairia também impune de uma decisão desta envergadura, uma vez que em certos quadrantes ficaria com a imagem de que tinha decidido terminar a sua carreira precisamente quando foi derrotado depois de um longo período de domínio.
Seja como for, esta é uma estratégia extrema da parte da Mercedes e, se Michael Masi não parece ter as condições para prosseguir no seu lugar, a decisão da sua recondução não deveria ser tomada devido às pressões da equipa do construtor germânico. Quanto à possível saída de Tombazis, essa parece ser completamente deslocada e, a acontecer, seria uma enorme vitória de Toto Wolff e Lewis Hamilton e uma pesada derrota da FIA, que teria cedido à Mercedes em toda a linha.
Contudo, a decisão do heptacampeão não poderá esperar pela apresentação pública das resoluções tomadas pela FIA no âmbito da análise que lançou aos acontecimentos de Yas Marina, dado que esta será revelada oficialmente no dia 18 de Março no Bahrein, onde se realiza o próximo Conselho Mundial, três dias antes do Grande Prémio do Bahrein, o primeiro da temporada.
Dificilmente Hamilton deixará uma decisão para tão tarde, dado que isso implicaria falhar os testes de inverno…