F1: McLaren com algumas limitações ao progresso
A McLaren tem vindo a protagonizar uma recuperação extraordinária desde o seu período negro com a Honda, mas conseguirá subir o último degrau e regressar ao papel de grande força já este ano?
Longe vão os tempos da parceria entre a equipa de Woking e o construtor nipónico, caracterizado por inúmeros problemas de performance e de fiabilidade, o que afundou a aliança e que teve como melhor resultado no Campeonato de Construtores o sexto lugar de 2016, com setenta e seis pontos.
A unidade de potência da Honda estava claramente aquém da concorrência, mas seria injusto colocar todo o ónus da responsabilidade do lado dos japoneses, até porque quando estes se viraram para as equipas da esfera da Red Bull, assistiu-se a um passo competitivo substancial, que culminou na conquista do título de pilotos por Max Verstappen este ano.
A McLaren, quer na sua relação com a Honda, quer na sua capacidade em produzir chassis competitivos, contribuiu decisivamente para os maus resultados e isso foi gritante quando em 2018 substituiu o seu fornecedor de motores, passando a contar com a potência da Renault.
Passou a ter um V6 turbohíbrido que, apesar de não ser o mais competitivo, permitiu à Red Bull vencer corridas e terminar no terceiro lugar do Campeonato de Construtores, ao passo que a formação de Woking não ia além do sexto posto, com sessenta e dois pontos, o mesmo resultado que conseguira dois anos antes, mas com menos pontos, quando contava ainda com as unidades de potência da Honda.
Esse primeiro ano com a Renault foi determinante para que os responsáveis da McLaren, dirigidos por Zak Brown, concluíssem que era preciso realizar alterações na estrutura organizativa da equipa, tendo-se realizado uma transformação em que os aspectos mais visíveis foi o recrutamento de Andreas Seidl e James Key, o alemão assumindo o papel de chefe de equipa e o inglês o de director técnico, ambos em meados de 2019.
Desde então verificou-se uma evolução sustentável e, muito embora, este ano tenha ficado em quarto no Campeonato de Construtores, perdendo uma posição relativamente a 2020, a formação fundada por Bruce McLaren evoluiu, aproximando-se das duas equipas da frente, Mercedes e Red Bull, em termos de performance e somando o maior número de pontos numa temporada desde 2012.
Este ano, a McLaren esteve na luta pela primazia atrás da Mercedes e Red Bull, as duas equipas que lutaram pelos títulos, acabando por perder o terceiro lugar para a Ferrari, apesar de ter conseguido uma dobradinha no Grande Prémio de Itália, e a sua derrota perante a sua arquirrival de Maranello é sintomática.
Depois da excelente recuperação que evidenciou nos últimos anos, a formação de Woking tem agora de dar um último passo e esse é o mais complicado e difícil de realizar – assumir-se como uma candidata aos triunfos de forma regular.
Para isso, é necessário que todas as áreas de estrutura estejam no máximo exigido e é aqui que existem algumas preocupações para a McLaren e os seus adeptos.
Este ano o MCL35M evidenciava algumas debilidades em diversos tipos de circuitos, normalmente aqueles que apresentavam curvas de muito apoio, mas este monolugar foi construído sob inúmeros constrangimentos criados pela pandemia, tendo a equipa sido obrigada a adaptar o seu chassis de 2020, concebido para as unidades de potência da Renault, para os V6 turbohíbridos da Mercedes.
Isto poderá ter contribuído para as dificuldades pelas quais Lando Norris e Daniel Ricciardo passavam em determinados traçados, porém, estas podem também ser também criadas por algumas limitações que a McLaren ainda exibe.
Uma delas é o facto de não ter um túnel de vento capaz de poder produzir um monolugar competitivo, o que a obriga a recorrer ao dispositivo da Toyota, em Colónia. A ferramenta do construtor nipónico continua a ser uma das melhores da área ao nível mundial, mas o simples facto de não poder recorrer às suas próprias instalação, deixa a McLaren em desvantagem face à Mercedes, Red Bull e Ferrari, que tem a pouca distância das suas sedes os seus próprios túneis de vento. Só no próximo ano o novo túnel de vento de Woking ficará pronto.
Para além disso, ao contrário das três equipa mencionadas, a formação britânica não tem um verdadeiro parceiro de motores, sendo antes uma cliente da Mercedes.
A McLaren receberá exactamente o mesmo tipo de unidades de potência que a equipa oficial do construtor germânico, mas estas foram construídas com os chassis, aerodinâmica e caixas de velocidades de Brackley em mente, tendo que os homens da estrutura de Woking que adaptarem os seus componentes, e esta é uma limitação relevante, podendo impedir a equipa de seguir alguns caminhos que considere mais acertados.
Se no campo técnico a equipa inglesa poderá ter algumas limitações, em pista tem ainda margem para evoluir e terá mesmo de evoluir.
Ao longo da temporada de 2021 a equipa foi cometendo alguns erros operacionais e estratégicos, sendo o mais evidente o verificado nas voltas finais do Grande Prémio da Rússia, quando Norris perdeu uma corrida que deveria ter ganho ao insistir em manter-se com pneus slicks, quando do lado da boxe havia o desejo de o chamar para montar intermédios.
A forma como os estrategas da McLaren não se impuseram face ao seu piloto, ao contrário do que aconteceu com a Mercedes e Hamilton, custou um triunfo e demonstra aspectos que devem ser melhorados para que a equipa possa continuar a sua caminhada rumo à luta por títulos.
Face às condições criadas, muito embora seja possível uma aproximação às equipas da frente, será difícil que os novos regulamentos possam permitir à McLaren regressar a um lugar que já foi seu logo na primeira temporada, mas no segundo ano, ou seja 2023, com o congelamento do desenvolvimento das unidades de potência, poderá ser mais fácil… A não ser que James Key descubra uma solução que permita à McLaren fazer à Mercedes em 2022, o que a Brawn fez à McLaren em 2009…