Dakar 2022: Areia, calor e aventura

Por a 27 Dezembro 2021 09:05

Arranca no próximo fim de semana mais uma edição do Dakar, que traz muitas novidades, e pela primeira vez em muito tempo, total incerteza quanto aos possíveis vencedores nos autos. Duas dezenas de portugueses estarão à partida. A Audi inova e vem para revolucionar o Dakar.

A edição de 2022 do Dakar tem tudo para ser das mais disputadas e volúveis dos últimos anos, já que com os novos regulamentos nos autos, a incerteza é tanta que se torna impossível antever com alguma dose de sucesso.

Pelo terceiro ano na Arábia Saudita, e depois de um ano de 2021 algo afetado pela pandemia, desta feita houve novamente um forte incremento do números de inscritos, com 570 participantes entre autos, motos, quads, camiões, SSV e Dakar Classic.

Quanto ao contingente português, são este ano 20 elementos, divididos entre motos, autos, SSV, pilotos e mecânicos dos camiões e como novidade, uma equipa no Dakar Classic.

África já ficou para trás há muito e com ela o saudosismo das primeiras grandes aventuras.

A América do Sul veio trazer muita diversidade, que se perdeu um pouco agora na Arábia Saudita, mas a prova olha agora para o futuro: este ano os regulamentos prevêem carros e camiões elétricos, bem como híbridos, em 2023 está previsto o hidrogénio nos T1-U, bem como combustíveis sintéticos, em 2024-2025, uma ‘explosão’ de Protótipos T1-U, com o horizonte final a ser 2030, ano em que a ASO prevê que todas as categorias se disputem com veículos de baixas emissões.

A Audi é a novidade absoluta na prova. Tal como fez em 1980 com o Quattro, a ideia é a mesma, um conceito totalmente inovador, mas se a história se repete, é algo que saberemos daqui a algumas semanas.

Pela frente, um prólogo de 19 km entre Jeddah e Ha’il no dia 1 de janeiro, seguidos de 12 etapas, com um dia de descanso em Riade no dia 8 de janeiro, antes da bandeira de xadrez no dia 14 de janeiro.

Há a promessa de dunas em quase todas as etapas, a ASO diz que o nível de dificuldade sobe de novo, mas a grande incógnita é mesmo o que podem trazer os novos regulamentos T1+.

Mais para a frente detalharemos a potencial prestação de cada uma das principais equipas, mas a atenção está claramente na Audi com o seu novo RS Q e-tron, ainda por cima com Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz, mas também a Toyota Gazoo Racing, que volta a ter em Nasser Al-Attiyah o seu ‘ponta de lança’ nas novas Hilux T1+.

Também com um dos novos T1+ estará o nove vezes campeão do WRC, Sébastien Loeb, que terá na equipa ainda os experientes Nani Roma e Orlando Terranova, todos com o novo T1+ da marca.

Tendo em conta a ‘juventude’ dos novos T1+, os T1 ‘habituais’ podem causar algumas surpresas na classificação, pois a sua fiabilidade está mais do que comprovada, mas a verdade é que as três equipas de topo testaram intensivamente nos meses que antecederam a prova, pelo que arrancam para este Dakar com confiança no trabalho feito. Se há um conceito com tudo para provar é o da Audi.

Quem são os favoritos?

Há algumas novidades de monta no plantel, por exemplo, Laia Sanz que troca as duas pelas quatro rodas do MINI JCW Buggy. Estamos convencidos que Kuba Przygonski, buggy MINI, pode ser um forte surpresa na luta pelo triunfo, pois corre com um carro totalmente comprovado, como o provam os dois triunfos nas duas últimas edições, ainda que nas mãos de Carlos Sainz e Stéphane Peterhansel.

Mas o principal favorito, caso a sua Toyota Hilux T1+ seja fiável, é mesmo Nasser Al Attiyah, vencedor de 2019, ainda que não se possa excluir a BRX Bahrein Extreme, que corre pelo segundo ano consecutivo no Dakar, também com um carro adaptado às novas regras dos T1+, e tem no seu line up dois pilotos acima de quaisquer suspeitas a nível de velocidade e experiência, Sébastien Loeb, Nani Roma e Orlando Terranova.

Seja como for, só os primeiros dias de provas permitirão dar uma boa imagem do que poderá ser este Dakar, pois pela primeira vez em muito tempo antever o vencedor é um exercício muito complicado.

Em primeiro lugar, seria uma enorme surpresa, bem como uma grande história, se a Audi ganhasse. Dois dos seus pilotos ganharam sete das últimas 10 edições da prova. A surpresa viria não do nome do piloto mas sim devido à novidade e conceito totalmente inovador do carro.

A Prodrive levou a Subaru ao sucesso no WRC, pelo que tem ‘know how’ para brilhar no Dakar, e dois pilotos que em condições normais, certamente lutarão, pelo menos, pelo pódio: Nani Roma e Sébastien Loeb. Talvez o espanhol já não tenha andamento, mas tem a experiência que falta a Loeb, porque rapidez, essa já sabemos há muito que tem.

Se tivéssemos que apostar, seria na Toyota, mas sem lá colocar as ‘fichas’ todas…

Depois, como já referimos há Kuba Przygonski, bem como vários Peugeot e buggys bem guiados, que devem ficar no top 10, mais acima se os T1 ‘quebrarem’ mais facilmente, o que é uma incógnita para já.

Certo é que vai ser um Dakar super interessante de seguir para o público. Há demasiadas novidades para que não seja assim.

Os outsiders

Como sempre, há para lá das principais equipas, um conjunto de carros e duplas com potencial de alcançar bons resultados, mas como sempre, não há espaço para todos no top 10 e as armadilhas do Dakar depressa vão começar a criar margens. A sorte ou o azar vão ter também um papel determinante, pois erros todos vão cometer e a diferença está por vezes no tipo de consequências que esses erros acarretam.

O penta vencedor do Dakar, Cyril Despres alinha como parte do ambicioso projecto GEN Z para o rali de 2022.

O objetivo final do GEN Z é entrar e vencer o Dakar num veículo totalmente movido a hidrogénio. Lá mais para a frente.

A Toyota Overdrive é ainda outra estrutura com condições para colocar pilotos nas melhores posições. Yazeed al Rajhi é o melhor exemplo, Erik Van Loon, Lucio Alvarez, Ronan Chabot, numa estrutura onde está também Miguel Barbosa. Todos eles com as Toyota Hilux T1 já conhecidas na prova.

Este ano, volta a haver um interessante conjunto luso. Os portugueses inscritos são 20, no total, entre motos, autos, SSV, camiões e Dakar Classic (ler mais em separado).

Em termos de nomes importantes para a prova dos autos, podemos destacar ainda Khalid al Qassimi (Peugeot 3008 DKR), Vladimir Vasilyev (BMW), Martin Prokop (Ford Ranger T1+), alguns bons buggy, como o Century de Matthieu Serradori, por exemplo, ou o Optimus de Christian Lavieille. Para lá do top 20 há claramente concorrentes com boas possibilidades de fazer bons resultados, especialmente porque este ano há muita ‘coisa’ nova em termos de máquinas, ainda não ‘comprovadas’ e isso pode dar espaço a que existam condições para alguns resultados-surpresa.

Os novos T1+

Será desta nova categoria de carros que, em teoria, sairá o vencedor da próxima edição do Dakar. Os novos T1+ funcionam com pneus maiores, com maior curso de suspensão e uma banda de rolamento mais larga. A razão da mudança (não só, mas também) tem a ver com os muitos furos que sucederam nos últimos dois anos nos T1 da frente, o que já não irá suceder com estes novos pneus, de 37″ em jantes de 17″, que substituem os pneus de 32″ em jantes de 16″, com o curso da suspensão aumentado de 280 mm para 350 mm, e a largura da carroçaria aumentada de 2,0m para 2,3m, de modo a acomodar as rodas maiores. Estas alterações implicaram uma reformulação radical dos carros, que passam a ser mais fáceis de pilotar, em termos globais, mas por outro lado, mais difíceis de inserir em curva.

Vamos ver quem se adapta melhor à nova realidade. Em termos de espetáculo, recordam-se do que fazia Robby Gordon no Dakar? É algo semelhante que estes novos T1+ têm de fazer no Dakar, ainda que as quatro rodas motrizes os tornem menos espetaculares que o Hummer do norte americano que tanto espetáculo dava no Dakar.

Resumindo, estes novos T1+ são uma mistura do buggy de duas rodas motrizes, estilo o buggy Mini, com um T1 normal com tração às quatro rodas. Voltam também a ser permitidos motores turbo, portanto vamos ver carros mais engraçados, mais espetaculares e mais performantes.

Navegação mais complicada

Tem sido uma ‘assinatura’ de David Castera, diretor do Dakar. O road book passa a ser digital para todos, estando disponível antes do arranque de cada etapa. Não há mais informação privilegiada que as equipas oficiais tinham. Isso acabou. Agora, quando há dúvidas no percurso, muito mais gente vai preferir perder um bocadinho de velocidade, ter a certeza do caminho certo. Os navegadores continuam a ter cada vez mais importância.

Como calcula, nas próximas páginas pode encontrar tudo o que há para saber na antevisão do Dakar 2022, e tentar perceber quem pode suceder a Stéphane Peterhansel/Édouard Boulanger (Mini John Cooper Works Buggy), nos autos, Kevin Benavides (Honda CRF 450 Rally, motos), Dmitry Sotnikov/Ruslan Amkhmadeev/Ilgiz Akhmetzianov (Kamaz, Camiões) e Chaleco López/Juan Vinagre (Can-Am XRS), nos SSV.

FOTOS Oficiais; Red Bull Content Pool; J.Delfosse_DPPI; C. Lopez/ASO

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