Fórmula 1: Os motivos porque Portugal ficou de fora

Por a 25 Outubro 2021 15:06

Era perfeitamente esperada, mas a ausência do Grande Prémio de Portugal do calendário de 2022 do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 causou alguma animosidade entre os adeptos lusos. Neste artigo explicamos o porquê deste afastamento.

Há uns anos atrás corria nas redes sociais um vídeo de uma entrevista a Nelson Piquet, então a gozar o seu segundo título, em que o seu interlocutor lhe perguntava o que motivava os pilotos de Fórmula 1 a correr, esperando uma resposta profunda e filosófica. Mas o brasileiro desmontou completamente a questão respondendo: “atrás da ‘grana’, meu amigo! Atrás da ‘grana’!”

Bem, a questão com o Grande Prémio de Portugal não é muito diferente… É uma questão de ‘grana’.

A versão mais recorrente entre alguns adeptos é que quando a Fórmula 1 precisou de Portugal para poder ter um número mínimo de provas durante a pandemia da COVID-19 não se escusou a fazer uso do Autódromo Internacional do Algarve, mas agora que existe menos constrangimentos de movimentos “deitou fora” a pista lusa.

A primeira coisa que temos de perceber é que, se a Fórmula 1 beneficiou da sua passagem pelo circuito algarvio, este, e o nosso país, também beneficiaram de inúmeras formas – projecção internacional, impacto na economia local, publicidade global da região e do país – por um valor muito abaixo daquilo que é normal pagar por uma prova da categoria máxima do desporto automóvel.

Para que um organizador possa ter um Grande Prémio terá de desembolsar uma quantia, no mínimo, na região das dezenas de milhões de euros, valor que está para lá daquilo a que a Parkalgar pode chegar sem apoios estatais.

Poderia fazer algum sentido estratégico para Portugal ter um Grande Prémio de Fórmula 1 no Algarve, mostrando ao mundo que a pandemia está controlada no nosso país e que estamos em condições de receber turistas.

Era ainda uma forma bastante eficaz de fomentar a economia local, sendo o Algarve a região portuguesa que mais sofreu com as restrições causadas pela COVID-19 por viver quase exclusivamente do turismo.

No entanto, como se verifica atualmente com a discussão do Orçamento de Estado para 2022, não existe ambiente político para que o governo possa investir cerca de trinta milhões de euros numa prova de Fórmula 1.

É claro que haverá sempre aqueles que dirão que a FOM poderia fazer um ‘desconto’ a Portugal, já que os pilotos gostaram tanto dos desafios apresentados pelo traçado do Autódromo Internacional do Algarve, mas é preciso ter em conta que, para além de um desporto, a Fórmula 1 é também um negócio que dá trabalho a muita gente através de diversas organizações e das equipas.

Estas dependem em grande parte do dinheiro distribuído pela FOM originado pelos direitos comerciais da categoria e dos quais fazem parte a taxa que cada organizador paga pela honra de ter um Grande Prémio.

Em 2019, o último ano da normalidade, a quantia que os promotores das provas pagaram na totalidade ultrapassou os seiscentos milhões de euros, deste bolo quase metade ruma aos cofres das equipas, dependendo algumas delas deste dinheiro para sobreviver.

Percebe-se, portanto, que não é possível à FOM começar a fazer descontos por agradecimento, até porque 2020 e 2021 foram anos em que as contas não foram as mais brilhantes. Bem longe disso.

Na verdade, Portugal beneficiou da pandemia da COVID-19 para ter um Grande Prémio de Fórmula 1 em dois anos consecutivos, foi fantástico para todos os adeptos e foi um esforço profundo da Parkalgar que conseguiu reunir as condições para que isso acontecesse.

Com o regresso à normalidade, para onde esperamos estar a caminhar, sem trinta milhões na mão, era natural que ficássemos de fora do calendário, como se verificou com a publicação do calendário de 2022… Tudo normal e esperado. Só para terem uma ideia dos valores que movimenta a Fórmula 1, o Rali de Portugal, prova do WRC, custa, mais ou menos, 3.5 milhões de euros. Como se percebe, a Fórmula 1 é quase 10 vezes mais…

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can-am
can-am
3 anos atrás

A F1 anda sempre atrás do dinheiro, certo.
Mas também é triste vermos todos os GPs com multidões, como vimos ontem e em quase todos este ano,e o nosso GP…zero de gente. Isso, deverá ter tido o seu peso e não pouco. Normas e directrizes duma coisa que se chama DGS ( não é a PIDE de antigamente que também tinha essa sigla).)
Cada um que tire as suas conclusões.

Last edited 3 anos atrás by Speedway
JP INAU
JP INAU
Reply to  can-am
3 anos atrás

O nosso GP nunca deu, não dá casa cheia, nem dará porque os fans não têm aquilo com que se compram os melões. Já viu bem quanto custa um fim de semana de GP no Algarve com alojamento, bilhete, deslocação, alimentação e uns copitos? Já no Estoril era o que era e fica á porta da Capital. É preciso ver que os próprios empresários de hotelaria têm tendência a considerar estas alturas como época alta para espremerem mais uns cobres aos visitantes e terem casas vazias, em vez de encherem as casas com preços um pouco mais promocionais e talvez… Ler mais »

NOTEAM1
NOTEAM1
Reply to  JP INAU
3 anos atrás

Shaquille O´Neal

917/30
3 anos atrás

Estive lá no ano passado, e muito gostaria de ter estado este ano, pois era mais do que expectável o nosso GP ficar de fora em 2022. Money talks! p.s. “foi fantástico para todos os adeptos” Em 2020 sim foi, pois em 2021 a sensação de ter a F1 tão perto e não poder ir ver foi muito frustrante. No meu caso pessoal, 1988 tinha sido o último GP Portugal que não assisti ao vivo, é verdade que há coisas piores na vida mas mesmo assim…

Last edited 3 anos atrás by Haters...coisa mais estúpida não há!
NOTEAM1
NOTEAM1
3 anos atrás

Por falar em dinheiro, eu gostava que me explicassem como é que se realizou o GP em Portugal em 2021, depois da organização do evento ter afirmado que sem público não estavam reunidas as condições. Gostava de entender o porquê de um investimento tão avultado sem condições mínimas de retorno financeiro a curto ou médio prazo, ou estava em cima da mesa a possibilidade de assinar um contracto para além de 2021, ou simplesmente se dizia NÃO!

JP INAU
JP INAU
3 anos atrás

Já perguntaram á Parkalgar se amortizou completamente o seu investimento, ou se esperava ter vantagem a mais longo prazo? Que tal alguém da FPAK tentar vender á F1 a ideía de os testes de Pré época serem sempre na Catalunha.

Pitão
Pitão
3 anos atrás

Com bilhetes entre os 200 e os 600, fora os bilhetes VIPS que andavam na casa dos milhares de euros, com 100.000 pessoas (lotação total) não é assim tão difícil fazer a média de 300€ por bilhete para dar os tais 30Milhoes…e isto só da bilheteira, depois há o merchandising, as inscrições para as provas de apoio, os patrocínios publicitários, e muitas outras coisas onde ir buscar receita…é preciso é arriscar em vez de andar sempre a pedinchar ao governo, que sim, até podia e devia apoiar, mas não é necessário assim tanto como se pode ver pelas contas acima…

Daniel Sousa
Daniel Sousa
3 anos atrás

Estando também ligado ao dinheiro, há uma variável ligeiramente diferente. Nem todos os GP podem ser realizados na Europa, e Portugal é um país pequeno, da periferia, e sem grande impacto e poder económico. Antes de Portugal, dariam prioridade a vários países, é só não dão porque eles também não revelam interesse. Se tivessem que escolher Portugal ou Suíça, viriam cá porquê? Ou Dinamarca, ou Suécia, etc.

Cágado1
3 anos atrás

Acho que a nossa aposta, agora que a pista é conhecida, devia ser roubar os testes de inverno, o que deve ser muito mais acessível e mantém-nos nas línguas do mundo. É pena, mas provavelmente é para o máximo que dá.

markus.manz
markus.manz
3 anos atrás
É triste para a região, mas a F1 é assim e que espetáculo, chato nos últimos anos em comparação com as motocicletas. Para ler os comentários, na Suíça não é possível, nenhum circuito !! e 100.000 espectadores, você tem que ir ao circuito às 4 horas para chegar a tempo para a largada. Todos nós lemos os comentários durante o GP com espectadores e um DGS não à altura!
MiguelSilva
3 anos atrás

Mais um bom artigo que explica bem o porquê de não termos um GP em Portugal.
Mas era uma boa ideia termos os testes de inverno.

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