World RX: E no final, sorriu Gronholm em Montalegre

Por a 18 Outubro 2021 11:48

Na edição que marcava a despedida da era dos Supercars do Campeonato Mundial, Niclas Gronholm conquistou a sua segunda vitória da temporada, ao vencer uma Final “de loucos” disputada num circuito de Montalegre ,que voltou a proporcionar elevadas doses de adrenalina.

Passados 3 anos desde a última visita do Mundial de Ralicross, Montalegre voltou à alta roda da competição e da melhor forma possível: a que faz o público regressar a casa no final da tarde de domingo com um sorriso nos lábios. Está de parabéns a organização conjunta do Município de Montalegre e do Clube Automóvel de Vila Real que voltaram a mostrar à FIA e ao novo Promotor do Campeonato que há que contar com a qualidade da prova portuguesa para o futuro. 

No dia de sábado, Timmy Hansen começou por mostrar por que razão era o líder do campeonato à chegada a Portugal. Apesar de contar apenas com um pódio no nosso país no seu CV, Hansen estava otimista na conferência de imprensa de antevisão sobre as suas perspetivas para a prova, pelo facto de Montalegre ser considerado um circuito puro de Ralicross, com uma verdadeira secção em piso de terra batida e isso poder favorecer as características do seu Peugeot 208 WRX. Os tempos mais rápidos na Q1 e na Q2 provaram-no, num dia com condições de piso seco, apesar de alguns aguaceiros terem aparecido para um fugaz “olá”, mas sem ameaça de chuva. Niclas Gronholm passou a noite de sábado na segunda posição, depois de um dia sólido com o Hyundai i20. O finlandês teve a frieza para sobreviver a um contato com Krisztián Szabo e Kevin Hansen no arranque da Q1, mas dizia no final do dia que ainda poderia melhorar o acerto do Hyundai para o dia de domingo. Quanto a Kristoffersson, o atual detentor do título, fechava o dia de sábado na terceira posição, com um furo a atrasá-lo na Q1 e uma melhor prestação na Q2, onde mostrou o seu brio com uma bela ultrapassagem a Ollie O’Donovan. No entanto, em termos de velocidade pura, o sueco andava taco a taco com Timmy Hansen.

Maximum attack de Kristoffersson

No domingo, Timmy Hansen continuou a mostrar-se como o mais rápido em pista ao liderar na Q3, enquanto o seu irmão mais novo conseguiu o melhor tempo na Q4. Kristoffersson mexia nas afinações das suspensões do Audi e continuava a dar luta a Timmy Hansen, mas não o suficiente e fechava em segundo a classificação intermédia após as 4 Qualificações. Kevin Hansen era o terceiro, à frente de Grönholm, Szabó e Enzo Ide, este a realizar uma boa estreia em Montalegre. Com apenas 7 pilotos a alinharem na prova do Mundial, as meias-finais serviram para confirmar a eliminação do irlandês O’Donovan, que veio a Montalegre mais pela diversão do que propriamente em busca de um objetivo desportivo específico, e para a determinação da grelha de partida para a Final. Na primeira meia-final não houve grande história e os manos Hansen terminaram em dobradinha com Timmy na frente de Kevin. Já a segunda meia-final “foi quente”, com uma excelente luta entre Kristoffersson e Grönholm, onde se saiu melhor o sueco com uma brilhante ultrapassagem já muito perto do final da última volta. Assim, na primeira linha da grelha de partida da Final posicionavam-se Timmy Hansen e Kristoffersson, com Kevin Hansen e Grönholm a dividirem a segunda linha, sendo que Szabó e Enzo Ide completavam a grelha.

Imediatamente após o sinal verde, Kristoffersson, que teve o melhor arranque, e Timmy Hansen disputaram a liderança na curva 1, com o piloto do Peugeot a conseguir sair na frente da corrida. Kevin Hansen, que também se manteve no traçado principal era o terceiro, enquanto um segundo grupo efetuava logo na volta inicial a sua Joker Lap, liderado por Grönholm. Com a batalha muito intensa entre o trio da frente, com um incansável Kristoffersson que estava realmente em modo “ataque total”, Grönholm foi conseguindo diminuir a diferença nas voltas seguintes. Depois dos toques porta com porta na volta 3 que causou uma grande euforia nas bancadas, o êxtase estava guardado para a última volta. Quando os manos Hansen e Kristoffersson passaram pela Joker-lap, Grönholm conseguiu passar para a frente da corrida com o Hyundai, aguentando a forte pressão de Timmy Hansen, com Kristoffersson em terceiro e Kevin Hansen em quarto. No entanto Kristoffersson acabaria por receber uma penalização de cinco segundos por ter ultrapassado totalmente os limites da pista e assim caía para o sexto lugar. Foi o quinto sucesso na carreira do piloto finlandês numa Final que inquestionavelmente entrará na história como uma das mais emotivas do Mundial de Ralicross.

E tudo Belevskiy levou nos S1600

O piloto russo, mas a correr com licença da Suíça, Yury Belevskiy, foi coroado em Montalegre como o novo Campeão Europeu de Ralicross RX3 (Super 1600). Belevskiy já tinha sido o piloto com mais pontos conquistados no campeonato em 2020, mas devido ao facto da temporada ter sido muito encurtada no ano passado, nenhum título foi concedido oficialmente pela FIA. Desta vez, Belevskiy é mesmo Campeão e celebrou o título da melhor forma, dominando a fase das Qualificações, vencendo depois a Meia-final e a Final de forma autoritária. Os companheiros de equipa de Belevskiy na Volland Racing, o russo Marat Knyazev e o jovem belga (16 anos de idade!) mas já muito talentoso Kobe Pauwels, terminaram em segundo e terceiro em Portugal, com Pauwels a segurar o vice-campeonato por apenas um ponto. O único piloto português a conseguir entrar na Final foi Nuno Araújo, também com um Audi A1 preparado pela Volland Racing, conseguindo um 5º lugar e sendo assim o melhor português na prova do Europeu. O atual Tetracampeão Nacional, João Ribeiro, fez também uma excelente exibição, foi mesmo o 2º mais rápido na Q4, e ficou muito perto de entrar também ele na decisiva corrida do dia. Infelizmente uma roda acabaria por soltar-se do seu Skoda Fabia quando efetuava a sua Joker-lap e o abandono foi inevitável. Entre os restantes pilotos portugueses que participaram na prova do Europeu, os que mais se destacaram foram Leonel Sampaio (9º), Joaquim Machado (10º) e Sérgio Dias (11º), com vários problemas mecânicos no Peugeot 208 a prejudicarem a prova de António Sousa.

Figura: Timmy Hansen

O melhor resultado que Timmy Hansen tinha conseguido antes em Montalegre foi um 3º lugar em 2015. Neste fim-de-semana foi notória a evolução que o piloto sueco teve nestes últimos anos, depois de se ter sagrado Campeão em 2019. Mais consistente no ritmo de prova e mais maduro nos “momentos quentes” que sempre aparecem nas corridas de Ralicross, o sueco do Peugeot 208 WRX mostrou-se muito rápido ao longo dos dois dias, com o melhor tempo na Q1, Q2 e Q3. Na Final defendeu-se bem do forte ataque de Kristoffersson e acaba por levar de Portugal mais pontos no saco que o seu grande rival na luta pelo título, quando falta apenas disputar a ronda de Nurburgring.

Momento: Volta 3 da Final

É difícil escolher “o momento” de um fim-de-semana tão rico em lutas animadas em pista, seja pela vitória ou outras posições. E é justo registar a eficaz estratégia de Joker-lap que Gronholm teve na Final que foi fundamental para a sua vitória. Mas aquela disputadíssima batalha a três pela liderança da Final entre Kristoffersson e os manos Hansen durante a volta 3, levou as bancadas completamente ao rubro e as suas imagens são a representação perfeita do que é o Ralicross na sua essência.

Números

37,725 – o recorde do circuito internacional de Montalegre, que continua a pertencer a Petter Solberg desde 2018

7000 – os espectadores que marcaram presença em Montalegre, mesmo apesar da “concorrência” de provas neste fim-de-semana

O que disseram os principais intervenientes

Orlando Alves (Presidente da Câmara Municipal de Montalegre)

“Ver o sucesso humano e desportivo deste regresso do Mundial de Ralicross a Montalegre é muito recompensador. Foi uma organização difícil, mas tenho que prestar a minha homenagem ao staff do Município e do Clube Automóvel de Vila Real, que voltaram a fazer um trabalho notável. O balanço é muito positivo, pois foi mais uma grande jornada promocional de Montalegre, do Alto Tâmega e até de Portugal, pois estas provas são transmitidas para todo o mundo. Uma terra do interior do país atingir este alcance, ao lado de grandes cidades europeias que também fazem parte do Mundial, é naturalmente um feito que o próprio país e o Governo devem valorizar.”

Niclas Gronholm (vencedor da Final do Mundial)

“É uma sensação ótima, não esperava vencer depois das Qualificações! Gostei muito do fim de semana e de correr aqui neste circuito de Montalegre, especialmente na secção em piso de terra. Não tive muitas escolhas a não ser fazer logo a Joker no início da Final e fiquei um pouco surpreso por ver o Timmy, Johan e Kevin a optarem por efetuar a volta padrão. Tínhamos um ritmo um pouco melhor do que nas Qualificações e quando eles começaram a lutar entre eles, isso permitiu-me ir ganhando algum tempo e tentei ficar o mais próximo possível deles. Realmente não sabia se tínhamos ganho o tempo suficiente, mas felizmente descobrimos na última volta que sim. Agora estou ansioso para correr em Nürburgring onde espero fazer um bom final de temporada.”

Yury Belevskiy (Campeão Europeu RX3 2021)

“Isto é incrível! Que fim de semana perfeito. Senti-me bastante relaxado quando estava a vir para Montalegre, pois tinha uma vantagem bastante grande nos pontos. Garantir o título ao vencer a minha última prova no Europeu RX3 é especial, não poderia estar mais feliz.”

Nuno Araújo (melhor português no Europeu RX3)

“Começámos o fim-de-semana com alguns problemas, mas no final de tudo acabou por compensar todo o trabalho desenvolvido pela equipa do ponto de vista mecânico e na preparação do carro. Estarmos entre os melhores já é um feito grande, acho que acabamos também por trazer orgulho ao povo português que estava aqui a assistir em massa a esta prova, foi para isso que também trabalhámos. Atingimos a Final, estivemos com os melhores e eles são de facto muito rápidos, mas acho que representamos bem a bandeira portuguesa. (sobre o contato com Shigabutdinov) são coisas das corridas, ele fechou e tentou ultrapassar, mas estava pouco à frente do meu carro e o toque acabou por acontecer, saímos ambos prejudicados pois eu também perdi tempo. Mas de uma forma geral foi um fim-de-semana bom, com muito fair play e respeito entre todos e onde os nossos pilotos portugueses apesar de tudo estiveram em grande nível. Fiquei com pena pelo João, o nosso Campeão Nacional, não ter podido estar presente na Final pois ele também merecia, mas de uma forma geral temos de estar orgulhosos pela qualidade dos pilotos portugueses. Não é fácil competir com os melhores da Europa, eles são de facto muito bons.”

Grande penalização para a Unkorrupted e Abbring

Ausente em Portugal, Kevin Abbring e a sua equipa Unkorrupted tiveram de abrir o seu mealheiro. Como equipa permanente inscrita no Mundial de Ralicross, a Unkorrupted deve, exceto em casos de força maior, alinhar o Renault Mégane RS RX em cada uma das provas do calendário 2021. De acordo com o artigo 17 do regulamento da FIA, esta ausência algo surpreendente da equipa francesa será acompanhada por uma multa de 10.000 euros.

Volland Racing trabalhou até altas horas da noite

Depois de um aparatoso capotamento na Q2 de sábado, o piloto do Europeu Super1600 Timur Shigabutdinov esteve de volta à competição neste domingo. Embora o chassis do Audi A1 não tenha sofrido danos estruturais, ainda havia dúvidas sobre a saúde do motor do Audi, mas depois de trabalhos intensos na noite de sábado realizados pelos mecânicos da equipa Volland Racing, o russo voltou à pista no Warm-up de domingo.

Sem helicóptero não há corridas

O Clube Automóvel de Vila Real esteve ao nível que nos habituou no cumprimento organizativo do programa desportivo de uma prova pontuável para um campeonato internacional FIA. O horário foi cumprido ao minuto, mas chegou a existir um ajuste na manhã de domingo para o início da Q3. Devido às difíceis condições climatéricas ao redor da pista de Montalegre, o helicóptero médico não podia aterrar. E sem helicóptero a FIA não permite o início das corridas dos campeonatos do mundo por si chancelados.

Belevskiy Campeão Europeu Super 1600

No pelotão competitivo dos Super 1600, o piloto russo confirmou o seu primeiro título europeu em Montalegre. O piloto do Audi A1 da Volland Racing não precisou de esperar até ao fim da prova para validar o seu primeiro título importante na disciplina, sendo coroado Campeão após as Qualificações. Mesmo assim, Belyavskiy quis comemorar o título da melhor forma e acabou por vencer na Final. Para 2022, o objetivo é subir de classe, veremos se inserido no no campeonato Europeu ou no Mundial.

As reprimendas a Kristoffersson e Gronholm

Primeiro e segundo, respetivamente, na Meia-final 2, Kristoffersson e Gronholm receberam uma reprimenda por parte do Colégio de Comissários Desportivos (CCD). O sueco pela sua musculada tentativa de ultrapassagem na última volta, o finlandês por “empurrar” o Audi S1 quattro contra os rails no início da curva 1.

Kristoffersson protestou a penalização da Final

A penalização de 5s atribuída pelo CCD a Kristoffersson na Final por ter ultrapassado totalmente os limites da pista e beneficiar dessa situação foi motivo de protesto por parte do piloto sueco. O CCD voltou a reunir para reavaliar a penalização e decidiu que o protesto era infundado. Na decisão oficial emitida, os comissários explicam a razão que justifica a manutenção da penalização atribuída ao piloto do Audi: “os comissários consideram que o # 1 (Kristoffersson) saiu largo na ultrapassagem ao # 9 (K. Hansen) e teve um ligeiro impacto com a parte traseira do # 21 (T. Hansen). Ambos # 1 e # 9 estavam a tentar segurar as suas posições, mas o carro # 1 saiu da pista com todas as 4 rodas fora dos seus limites, mantendo a segunda posição”.

Classificação

FINAL MUNDIAL

1º Niclas Grönholm, Hyundai i20 N RX, 6 voltas em 3m56,426s

2º Timmy Hansen, Peugeot 208 WRX, a 0,537s

3º Kevin Hansen, Peugeot 208 WRX, a 1,977s

4º Krisztián Szabó, Hyundai i20 N RX, a 2,270s

5º Enzo Ide, Audi S1 quattro, a 3,762s

6º Johan Kristoffersson, Audi S1 quattro, a 5,754s (+5s penalização)

Volta mais rápida: T. Hansen (Peugeot), 37,867s

CAMPEONATO MUNDIAL

1º Timmy Hansen, 178 pontos, 2º Johan Kristoffersson, 161, 3º Kevin Hansen, 159, 4º Niclas Grönholm, 149, 5º Krisztián Szabó, 127, 6º Kevin Abbring, 97, 7º Enzo Ide, 89, 8º Timo Scheider, 75

FINAL EUROPEU SUPER1600

1º Yury Belevskiy, Audi A1, 6 voltas em 4m12,647s

2º Marat Knyazev, Audi A1, a 1,226s

3º Kobe Pauwels, Audi A1, a 1,958s

4º Damian Litwinowicz, Audi A1, a 4,659s

5º Nuno Araújo, Audi A1, a 7,261s

6º Timur Shigabutdinov, Audi A1, a 6 voltas

Volta mais rápida: K. Pauwels (Audi) em 40,561s

Próxima prova: Alemanha (Nürburgring), 27 e 28 de Novembro

FINAL KARTCROSS

1º Ivan Pina, Semog, 6 voltas em 4m10,292s

2º Rui Nunes, Semog, a 3,544s

3º Alexandre Borges, Semog, a 7,066s

4º Pedro Rabaço, Semog, a 10,850s

5º Alcides Calçada, Semog, a 11,931s

6º Luis Almeida, LBS, a 12,546s

Volta mais rápida: I. Pina (Semog) em 40,472s

FINAL JUNIOR KARTCROSS

1º Miguel Gayoso, Semog, 6 voltas em 4m26,666s

2º Yésica Lorenzo, LBS, a 2,788s

Volta mais rápida: M. Gayoso (Semog) em 42,650s

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