GP da Turquia F1: As indecisões e as certezas de Hamilton e Leclerc

Por a 14 Outubro 2021 14:20

No Grande Prémio da Turquia dois pilotos ficaram a meio caminho estrategicamente, Lewis Hamilton e Charles Leclerc, tendo passado por uma situação em que as decisões eram tomadas quase instante a instante, mas a qualidade das comunicações da Mercedes mostrou ser melhor, apesar do pior resultado do piloto inglês.

A prova turca foi disputada sempre com a pista húmida e a dada altura, para alguns pilotos, a questão era perceber se poderiam dar um golpe estratégico e ganhar posições em pista, não parando.

Charles Leclerc sonhava com a vitória, ao passo que Lewis Hamilton aspirava conseguir um pódio, depois de arrancar do décimo primeiro posto da grelha de partida.

Este duo acabou por ficar a meio caminho, mas Esteban Ocon levou até ao fim a sua estratégia de não parar, conseguindo um décimo lugar, mais fruto das circunstâncias do que da validade adoptada pelo piloto da Alpine.

Cedo ficou claro que tanto o monegasco como o inglês não conseguiriam levar os seus desejos avante, uma vez que os pilotos que tinham parado em torno da trigésima quinta volta, para montar um novo jogo de pneus intermédios começavam a ganhar tempo e estavam mais rápidos.

Este era o momento em que decisões teriam de ser tomadas e discutidas entre piloto e equipa, com uma quota parte de responsabilidade assinalável da parte da peça atrás do volante, dado que nas condições que se viviam no Istambul Park, era esta que tinha uma ideia clara do estado da pista e do comportamento dos pneumáticos.

A diferença entre o que se passou entre Hamilton e Leclerc foi a forma como as respectivas equipas foram passando informação aos seus pilotos.

Parece claro que nem Ferrari nem Mercedes equacionaram, à priori, realizar toda a corrida sem parar e ambas tiveram de verificar os números para perceber se esta era uma possibilidade real e, em qualquer uma das situações, foi uma hipótese colocada pelos pilotos em questão, o que é perfeitamente normal face ao cenário, como já foi explicado.

Leclerc foi o primeiro a apontar à sua equipa a possibilidade de seguir até ao fim sem parar, estava a terminar a trigésima sétima volta, mas nesse preciso momento sofreu uma ligeira saída de pista, o que o atrasou e o colocou numa situação mais difícil perante Valtteri Bottas que tinha parado exactamente instantes antes.

O finlandês saiu das boxes a sete segundos do monegasco, que liderava, mas rapidamente começou a ganhar uma segundo por volta, sendo evidente que o desejo de Leclerc esfumar-se-ia, uma vez que faltavam ainda vinte e uma passagens pela linha de meta, e a tendência era para que o Mercedes ganhasse mais performance, face ao Ferrari com pneus intermédios usados.

No entanto, na quadragésima volta, Leclerc e Xavier Marcos, o engenheiro de pista do monegasco, ainda debatiam a possibilidade de continuar sem parar, sem que fosse dito ao piloto de vinte e três anos quais os riscos de se manter em pista com o jogo de pneus com que iniciou a corrida.

Ao analisarmos as comunicações rádio, que podem encontrar mais abaixo, percebe-se que foi na maioria das vezes o piloto a pedir informação relevante ao seu engenheiro, o que quer queiramos quer não, o obriga a imaginar cenários enquanto tenta pilotar o seu monolugar no máximo da sua habilidade e só pode ser um agente de dispersão de energia e foco.

Na quadragésima quarta volta verificou-se a troca de mensagens mais caricata entre Leclerc e Marcos, tendo o piloto pedido o cenário para a estratégia adoptada, ao que o seu engenheiro lhe retorquiu que, “se conseguirmos manter o Bottas atrás, P1”, uma resposta ‘lapalisiana’, para dizer o mínimo. Neste momento, a ultrapassagem do finlandês era já uma inevitabilidade e Verstappen era já uma ameaça latente, o que atiraria o monegasco para o terceiro posto, se tudo corresse bem. Caso parasse, cairia para quarto, com uma confortável vantagem de nove segundos para Pérez e com Hamilton a seis, mas com pneus usados e sem ritmo, se não quisesse parar. Se o inglês entrasse nas boxes, como se verificou, Leclerc assumiria de imediato o terceiro posto..

Enquanto no caso da Ferrari era normalmente o piloto que tomava a iniciativa de pedir informação, no da Mercedes, Hamilton era informado de todos os riscos que implicava não parar e, muito embora a equipa tenha seguido até o certo ponto a vontade do inglês, quando sentiu que poderia perder mais que aquilo que ganhara até ao momento das paragens, ou seja o quinto lugar, ordenou que o heptacampeão do mundo entrasse nas boxes, tendo este assentido.

Do lado da “Scuderia”, Pérez nunca foi visto como uma ameaça e Leclerc acabou por perder o pódio para o mexicano.

É claro que a fase de granulação dos pneus novos intermédios foi determinante para que o piloto da Red Bull suplantasse o ferrarista, mas os homens da formação de Maranello estavam conscientes desta situação e deveriam ter-se precavido e chamado o seu piloto mais cedo.

A Ferrari não está este ano a lutar por títulos, mas está a tomar todos os passos para que em 2022 possa regressar às batalhas com a Mercedes e com a Red Bull e a evolução que está a conseguir, muito embora o regulamento mude dramaticamente durante o defeso, é animadora, mas para poder ombrear igual para igual com as suas rivais terá de estar ao

mais alto nível em todas as áreas.

A forma como informa os seus pilotos ao longo da corrida terá de melhorar substancialmente sob pena de, a não acontecer, poder ter um impacto directo nos resultados, o que pode decidir títulos. Em Istambul foi um pódio que se esfumou devido a falhas de comunicação, o que não é pouco…

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NOTEAM1
NOTEAM1
3 anos atrás

Bom artigo.
É brutal a pressão a que estão sujeitos os pilotos e os seus engenheiros para tomar a decisão correcta em tão pouco tempo, ainda por cima quando a pista está constantemente em mudança.
Tanto o Hamilton como o Leclerc tiveram “feelings” semelhantes e acreditaram ser possível levar o carro até ao fim sem problemas, não estavam a contar que os pneus novos fossem tão mais rápidos, valeu-lhes a informação preciosa dos seus engenheiros.

garantia4
garantia4
3 anos atrás

Melhor foto do ano ?

RedDevil
RedDevil
3 anos atrás

Este Marcos não distingue uma pergunta de uma afirmação…
Leclerc : Que tempo por volta consigo? (com os novos intermédios)
Marcos : Compreendido.
.O que a Scuderia precisa urgentemente é de um tipo armado com uma “vassoura” bem grande…

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