FIA Hill Climb Masters: Braga foi o palco perfeito para a grande festa
Braga recebeu a quarta edição do FIA Hill Climb Masters e mais uma vez a típica hospitalidade portuguesa e a qualidade do evento ficou patente. As lutas em pistas foram muitas e renhidas, mas Christian Merli foi o mais rápido a subir a Falperra.
A Montanha é o reduto dos bravos, dos corajosos que se atrevem a subir a velocidades estonteantes estradas por vezes estreitas e com os rails de proteção ali tão perto. É aqui que vemos algumas das máquinas mais “estranhas”, mas ao mesmo tempo mais belas, onde os regulamentos não são castradores e onde a engenhosidade permite uma variedade cada vez mais rara hoje em dia. Talvez seja na Montanha onde podemos sentir o verdadeiro espírito da competição automóvel no seu estado mais “puro”, quase tão puro quanto o ar que por lá se respira. Há veículos para todos os gostos, desde carros de produção até máquinas pensadas especificamente para subir o mais rapidamente possível, enfrentando traçados sinuosos, que não perdoam o mínimo erro. A luta contra o relógio é tremenda e exige tudo dos pilotos e das máquinas. Foi este espetáculo que pudemos ver em Braga, na Falperra. A subida que todos os anos vê os melhores da Europa, este ano recebeu um evento diferente, com mais de 150 carros e 15 países, que vinham em busca da glória… ou apenas em busca de ultrapassarem os próprios limites. E a Falperra era claramente o sítio indicado para este tipo de evento, com uma subida exigente, mas bela, com a presença de muito público que fez questão de marcar presença e de ver de perto este espetáculo e acima de tudo, apoiar os 16 pilotos que representaram as cores de Portugal.
A vinda do Masters a Portugal já estava prometida há algum tempo, com Boticas a ser o primeiro palco pensado para este certame, mas por questões logísticas foi feita uma troca e Boticas recebeu o europeu de montanha e a Falperra recebeu o Masters, numa versão encurtada da mítica rampa. Os números falam por si. 158 pilotos inscritos de 19 países diferentes, 15 equipas na Taça das Nações, que foram divididos em quatro categorias:
- Categoria 1 contou com sessenta e cinco carros “fechados”, tanto Turismos como GT, que foram divididos nos Grupos 1 a 5 de acordo com uma escala de valores fornecida pelo “Performance Factor”. Este é um método inovador de classificação que consiste em atribuir uma classificação de desempenho aos carros com base em parâmetros fisicamente mensuráveis, tais como peso, motor, chassis, transmissão e apêndices aerodinâmicos;
- Categoria 2 teve uma enorme variedade de carros. Monolugares de várias origens (F.3000, F. Nippon, F3, F. Gloria, F. Renault), protótipos leves e ágeis com motores de motos, como o BRC Suzuki ou o Silver Car EF10 Suzuki e o Osella PA21;
- Categoria 3 permite a prática do desporto motorizado a baixo custo, sendo ao mesmo tempo formativa e exigente em termos de concentração e condução. No Masters, a Categoria 3 foi composta por carros de turismo de pequeno e médio porte que competem em campeonatos nacionais. Houve também sete das catorze pilotos femininas inscritas, e alguns dos melhores juniores com menos de 25 anos de idade selecionados pelas federações nacionais;
- Categoria 4 é reservada aos monolugares e carros desportivos específicos de certas séries nacionais, e portanto não elegíveis para o Campeonato Europeu da FIA. Pode qualificar-se para a designação “Unlimited”, comum nos EUA e em Pikes Peak.
Além da competição individual, o Hill Climb Masters distingue-se de outras competições do género por ter a chamada Taça das Nações, onde cada país compete, num sistema pensado para ser o mais justo possível. A classificação por equipas é baseada na consistência dos tempos em duas subidas. Não foram os tempos mais rápidos em qualquer subida que prevaleceram, como foi o caso na classificação individual, mas a diferença de tempo entre as duas melhores subidas de cada piloto. Ou seja, quanto menor as diferenças entre os tempos dos pilotos “selecionados” melhor, colocando assim de parte a necessidade de ter as melhores máquinas para vencer. Como já referido, Portugal, como anfitrião, apresentou uma lista de luxo com 16 pilotos (apenas quatro seriam escolhidos para a Taça das Nações) para representar as cores portuguesas, lista que foi previamente apresentada nas edições anteriores.
A festa foi bonita e Braga pintou-se de verde e vermelho para receber os pilotos e equipas com uma recepção quase apoteótica dos homens e mulheres que iriam enfrentar a Falperra, uma festa com um colorido único e que justificou em pleno a aposta na vinda desta competição, pois nem só de carros e pilotos se fazem este tipo de eventos e a ver pelas imagens que foram chegando de Braga, ficou patente o entusiasmo de quem há muito desejava uma festa desta e que finalmente, depois de quase dois anos demasiado sombrios, pôde sentir o cheiro da competição.
Geoffrey Schatz começou melhor
Na lista de inscritos havia nomes que, à partida, eram os grandes favoritos para fazerem o tempo mais rápido e na primeira subida de treinos, Simone Faggioli tratou de confirmar o favoritismo. O italiano fez o tempo referência com a marca de 1m05.790 no Norma M20 FC Zytek (Categoria 2 / E2-SC). O segundo mais rápido à geral, pertencia à Categoria 4 (OpSC), com Geoffrey Schatz da França a fazer o tempo de 1m05.790 (+0.653s). A Categoria 1 foi liderada pelo Mitsubishi Lancer Evo X RS #77 (Categoria 1 / Grupo 2) de Michal Ratajczyk (1m17.919) colocando o piloto polaco em 26º na geral e apenas +0.167s à frente do colega de equipa Szymon Lukaszczyk no Mitsubishi Lancer Evo V #79 (Categoria 1 / Grupo 1). O suíço Reto Meisel foi o mais rápido na Categoria 3, fazendo o tempo de 1m19,125 no Mercedes-Benz SLK 340 #75 (Categoria 3 / OpTCGT). O primeiro português na tabela foi Pedro Salvador (Silver Car CS Suzuki), no 20º lugar à geral, 14º na Categoria 2. Helder Silva (BRC BR53 Suzuki) foi 25º, 17º na Categoria 2, um lugar acima de Joaquim Rino (BRC B49 Evo Suzuki) que terminou a primeira subida com o 59º tempo à geral. Destaque para os pilotos portugueses da Categoria 1 com Luís Nunes (Ford Fiesta ST R5) terceiro e Joaquim Teixeira ( Seat Leon Cupra TCR) quinto no Grupo 3. Sérgio Nogueira (Renault Clio RS) foi sexto na Categoria 3, um lugar acima de José Almeida (BMW M3 E46).
Mas a segunda subida de treinos foi dominada por Schatz. O NP01-2 Oreca fez a subida em 1m04.103, e deixou o campeão da europa em título Christian Merli (Osella FA30 Zytek) em segundo lugar, com Fagioli em terceiro da geral. Schatz voltou a brilhar na terceira e última subida do dia, com o tempo de 1m03.683, ficando à frente do Norma M20 FC BMW (Cat 4 / OpSC) do compatriota Kevin Petit, com o DJ Firestorm Cosworth #42 (Categoria 4 / OpSS) do britânico Alex Summers terceiro mais rápido. Reto Meisel fez um hattrick de tempos mais rápidos na sua categoria com o tempo de 1m16,075 a ser destaque, apenas 0,013s mais rápido que o seu melhor tempo na segunda subida do dia e na Categoria 1 a armada polaca de Evos mantinha vantagem.
Na contabilidade geral das subidas de treino, Pedro Salvador foi o melhor dos portugueses (Silver Car CS Suzuki) com o 18º tempo da geral (13º na Cat.2, 9º na E2-SC). Hélder Silva (BRC BR53 Suzuki) fez o 27º tempo da geral (18º na Cat.2, 14º nos E2-SC) e António Rodrigues (BRC 05 Evo Suzuki) fez o 69º tempo (21º na Cat.4 e 10º nos OpSC) um lugar acima de Joaquim Rino (BRC B49 Evo Suzuki). Pedro Marques (Porsche 991 GT3 Cup) foi 21º na Categoria 1 (10º no Grupo 4), José Correia (Nissan Nismo GT-R GT3) foi 25º na Categoria 1 (nono no Grupo 1) e Joaquim Teixeira foi 26º na Cat.1 ( sétimo no Grupo 3). Parcídio Summavielle ( Renault Clio) foi quarto no Grupo 5 da Categoria 1, apenas para referir alguns tempos da extensa comitiva portuguesa.
Merli fez a sua magia nas subidas oficiais
O primeiro dia permitiu entender algumas tendências, mas com mais de 150 carros a subir a rampa, as lutas seriam muitas nas categorias e subcategorias que estavam em jogo, além da Taça das Nações ser também ponto de interesse. Foram três subidas oficiais feitas ao longo do dia de domingo, três oportunidades de encontrar os segredos da Falperra, nesta versão encurtada. E na primeira subida foi novamente Schatz a fazer o melhor tempo com 1:02.722, seguido de perto por Merli e Faggioli, com este trio a caber em menos de 0.5 seg. Mas a segunda subida definiu o dia e a marca de 1:02.033 de Merli prometia ser a que daria o triunfo à geral ao piloto italiano. Faggioli foi o segundo da geral, a 0.8 seg. do tempo do compatriota e Schatz completou o top 3 e na terceira subida nem Faggioli nem Schatz (que voltou a ser o mais rápido) chegaram ao registo de Merli que ficou assim com o melhor tempo da competição, vencendo na sua categoria.
Na última subida do dia Merli fez o tempo de 1m02,702, mas a sua segunda corrida de 1m02,033 foi a que contou, conquistando assim a medalha de ouro na Categoria 2. Faggioli reclamou a medalha de prata com 1m02,605 na sua última subida no Norma M20 FC Zytek (Categoria 2 / E2-SC), com Petr Trnka no Norma M20 FC Mugen (Categoria 2 / E2-SC) a reclamar a medalha de bronze.
A medalha de ouro na Categoria 4 foi para o NP01-2 Oreca (Categoria 4 / OpSC) de Geoffrey Schatz, que foi claramente um dos destaques desta edição. O piloto francês terminou 1,1 segundos à frente do DJ Firestorm Cosworth (Categoria 4 / OpSS) de Alex Summers, o britânico afixando um tempo de 1m03,523, levando para casa a medalha de prata, com o Gould GR59 M Cosworth (Categoria 4 / Open SS) de Wallace Menzies a reclamar o bronze.
O Mercedes-Benz de Reto Meisel (Categoria 3 / OpTCGT) ganhou a medalha de ouro na Categoria 3, fixando o seu tempo mais rápido do fim-de-semana na sua subida final, com 1m14.269. A batalha pelas medalhas de prata e bronze foi decidida a favor de Damien Bradley no Subaru Legacy (Categoria 3 / OpTCGT), com piloto britânico a fazer o seu melhor tempo do fim-de-semana (1m26,382) na sua terceira subida, 2,5 segundos mais rápido do que o seu melhor tempo anterior. Sarah Bernard conquistou a medalha de bronze no Seat Leon Cup Racer Mk3 (Categoria 3 / OpTCGT), com o tempo de 1m27,411 na subida 2.
Na Categoria 1 as medalhas foram decididas na subida final, de forma dramática. Depois de liderar nas duas primeiras subidas, Daniel Stawiarski no Mitsubishi Lancer Evo IX (Categoria 1 / Grupo 1) melhorou o seu melhor tempo em um décimo de segundo para 1m14,709, mas não foi suficiente para garantir a medalha de ouro. Szymon Lukaszczyk no Mitsubishi Lancer Evo V (Categoria 1 / Grupo 1) fez o seu melhor tempo (1m14.267) e levou o ouro. Michal Ratajczyk também foi mais rápido no Mitsubishi Lancer Evo X RS (Categoria 1 / Grupo 2) com o tempo de 1m14.458 conquistando a medalha de prata, empurrando assim Stawiarski para a posição da medalha de bronze e completar um pódio 100% polaco.
A Taça das Nações foi ganha pela França com uma diferença de tempo de 0,177, com a Eslováquia a ficar em segundo com 0,256 e a Bélgica em terceiro com 0,568. O piloto vencedor com menos de 25 anos foi o Luigi Fazzino de Itália no Osella PA2000 Peugeot (Categoria 2 / E2-SC) com o melhor tempo de 1m08.950, à frente de Robert Dwane da Irlanda no OMS 25 Suzuki (Categoria 4 / OpSS). A piloto feminina mais rápida no FIA Hill Climb Masters foi Olivia Cooper (Grã-Bretanha) no Force TA Suzuki (Categoria 4 / OpSS), que terminou à frente da italiana Martina Raiti no Osella PA21 J Honda (Categoria 2 / CN) e Sarah Bernhard (França) o Seat Leon Cup Racer Mk3 (Categoria 3 / OpTCGT).
Os resultados dos portugueses
As cores portuguesas foram representadas de forma digna com grandes prestações ao longo do dia. Pedro Salvador foi o melhor português no Silver Car CS Suzuki, com o 17º melhor tempo (1:08.256), 11º na Cat. 2 e oitavo na subcategoria E2-SC. Seguem-se os resultados do resto da comitiva lusa:
Hélder Silva (BRC BR53 Suzuki) em 36º (Cat. 2 – 20º, E2-SC – 14º);
António Rodrigues (BRC 05 Evo Suzuki) em 68º (Cat. 4 – 23º, OpSC – 11º);
Pedro Marques (Porsche 991 GT3 Cup) em 73º (Cat. 1 -19º, Grupo 2 – 8º);
Luís Nunes (Ford Fiesta ST R5) em 77º (Cat. 1 – 22º, Grupo 3 – 5º);
Joaquim Rino (BRC B49 Evo Suzuki) em 79º (Cat. 4 – 24º, OpSC – 12º);
Joaquim Teixeira (Seat Leon Cupra TCR) em 82º (Cat. 1 – 25º, Grupo 3 – 7º);
José Correia (Nissan Nismo GT-R GT3) em 85º (Cat. 1 -26º, Grupo 1- 9º);
Paulo Silva (Audi RS3 TCR) em 101º (Cat. 1 – 40º, Grupo 3 -12º);
Manuel Sousa (Cupra TCR) em 108º (Cat. 1 -45º, Grupo 3 – 13º);
Sérgio Nogueira (Renault Clio RS) em 114º (Cat. 3 -8º, OpTCGT – 8º);
Parcídio Summavielle (Renault Clio) em 115º (Cat. 1 – 48º, Grupo 5 – 5º);
José Almeida (BMW M3 E46) em 119º (Cat. 3 -9º, OpTCGT- 9º);
Alberto Pereira (Honda Civic Type R) em 120º (Cat. 3 -10º, OpTCGT -10º);
Daniela Marques (Subaru Impreza WRX STI) em 125º (Cat. 3 -13º, OpTCGT -13º);
Francisco Milheiro (Peugeot 106) em 143º ( Cat. 3 – 24º, OpTCGT 24º).
Na Taça das Nações, Portugal ficou em oitavo com uma diferença de 0.836.
Falperra de novo elogiada pelos pilotos
No final da prova, os pilotos internacionais elogiaram a Falperra e o público presente, que ajudou em muito a transformar esta edição numa das mais marcantes da história da competição.
Geoffrey Schatz, que visitou Braga pela primeira vez, parece ter ficado rendido: “Esta é a minha primeira vez aqui, por isso não estava à espera de nada e só queria dar o meu melhor. Esta é uma pista incrível, e as pessoas são inacreditáveis, loucas e engraçadas; o ambiente é muito especial. Tivemos de trabalhar muito para encontrar um bom compromisso, para compreender a pista. Tentei diferentes tipos de pneus e encontrámos um bom compromisso. O Christian (Merli) e o Simone (Faggioli) são muito talentosos e rápidos. Fiz o meu melhor e é um fim-de-semana inacreditável”!
Merli também estava visivelmente satisfeito com o resultado alcançado: “Estou muito feliz por ganhar aqui este fim-de-semana em Braga. Não estava à espera desta vitória aqui, porque o Geoffrey Schatz é muito rápido, mas tivemos um bom carro. Ganhar novamente o FIA Hill Climb Masters é muito importante, pois os melhores pilotos estão aqui e é um prazer ganhar este evento. Estou muito, muito feliz por esta vitória”.
Szymon Lukaszczyk também elogiou a Falperra e o seu público: “Esta foi uma experiência muito agradável, estar aqui e ganhar. É um lugar bonito, com espectadores fantásticos. Para mim, este evento é um dos sucessos do desporto. Estar aqui no pódio com os meus companheiros de equipa é fantástico. Temos carros e pilotos realmente rápidos”.
Reto Meisel conhece bem a Falperra e conseguiu um bom resultado, apesar da sua prolongada paragem: “Isto foi brilhante. O Masters é um dos melhores eventos. Não, é o melhor, é simplesmente espantoso. Esta é a minha terceira vez aqui em Braga, uma pista curta mas ainda assim boa. Um dos Mitsubishi ‘s da Categoria 1 foi dois milésimos mais rápido do que eu, o que é um pouco irritante, mas não faz mal. Já não corro há dois anos e meio, após um grande acidente e agora tenho de aprender a conduzir o carro passo a passo. Se eu tivesse corrido este ano, teria sido um pouco mais rápido, mas estou realmente feliz com este resultado”.
Está concluído assim um fantástico evento que agora só regressará à estrada daqui por dois anos, ainda sem localização definida. E se em Portugal temos das melhores rampas da Europa ao nível da segurança e das condições que proporciona aos pilotos, não é muito provável que o evento regresse tão cedo, pelo que é aproveitar as imagens que ficam, enaltecendo a boa participação lusa, a boa organização e o fantástico público que fez questão de marcar presença neste evento.
Melhores tempos (Geral) | ||||
1º | Christian MERLI | Osella FA30 Zytek | Cat. 2 – D/E2-SS | 1:02.033 |
2º | Geoffrey SCHATZ | Nova NP01-2 Oreca | Cat. 4 – OpSC | 1:02.392 |
3º | Simone FAGGIOLI | Norma M20 FC Zytek | Cat. 2 – E2-SC | 1:02.650 |
4º | Alex SUMMERS | DJ Firestorm Cosworth | Cat. 4 – OpSS | 1:03.523 |
5º | Wallace MENZIES | Gould GR59 M Cosworth | Cat. 4 – OpSS | 1:04.806 |