24h Le Mans: A 89ª longa-metragem com estrelas portuguesas em destaque

Por a 17 Agosto 2021 12:00

As 24h mais longas e exigentes do automobilismo estão a chegar. O mítico circuito francês de La Sarthe recebe a 89ª edição das 24h de Le Mans, com portugueses candidatos à vitória.

Quando em 1971 Steve McQueen fez o filme Le Mans, levou a todo o mundo uma das histórias mais belas, mas também mais duras do automobilismo. O esforço físico, a exigência técnica, com o inesperado ao virar de cada curva retratados, fizeram de Le Mans um filme mítico, obra de arte recordada para sempre. Mas nem a sétima arte consegue mostrar a beleza completa de Le Mans e não é apenas uma história que mostra o que realmente é esta prova. Le Mans são 89 histórias contadas ao longo de quase 100 anos e cada história tem um enredo intrincado onde vários atores se juntam, cada um com o seu enredo próprio. É uma longa-metragem de 24 horas que este ano volta a ser encenada.

Um total de 62 máquinas, divididas por cinco categorias irão para a pista em busca da glória, que no traçado francês pode ser atingida de várias formas. Estar entre os escolhidos desta prova já é um prémio, terminar é um prémio ainda maior e vencer… é provavelmente um dos maiores feitos que um piloto pode almejar. Mas esta história cruza-se com outra, o WEC, mundial de resistência FIA que em França fará a sua quarta jornada. Há muitas novidades para esta edição e a mais visível será a presença de público. Depois da edição 2020 sem público, os fãs poderão voltar a ver os carros ao vivo. Não se espera a habitual enchente e o recinto verá a sua capacidade limitada a 20% do habitual, ou seja, apenas 50 mil poderão ver de perto as emoções da prova.

É também a estreia dos Hypercars em Le Mans. A nova era do endurance chega finalmente à sua casa espiritual, e os novos bólides da Toyota e da Glickenhaus enfrentarão pela primeira vez as exigências da prova. É um grande passo pois a expectativa em torno dos novos regulamentos e da convergência com o IMSA é grande e poderá dar-nos uma das melhores eras de sempre do endurance, com um número incrível de marcas envolvidas, variedade nas máquinas e uma competição que se espera equilibrada e emocionante. Le Mans será uma espécie de entrada, numa receita ainda cozinhada a lume brando e sem o sabor que o prato principal promete. Com apenas cinco carros na categoria principal não veremos lutas com o calibre que vimos outrora mas a incerteza, essa, é ainda grande.

A grandes lutas deverão acontecer nas categorias “secundárias” com os LMP2 a prometerem batalhas ferozes com 25 carros inscritos e um lista de pilotos de alto quilate, muitos deles à procura de se mostrarem para as marcas que agora preparam a entrada no WEC. É aqui que teremos os olhos postos durante a corrida com António Félix da Costa (#38 da JOTA) e Filipe Albuquerque (#22 da United Autosports) na luta pela vitória na sua categoria e, quem sabe, a espreitar um pódio à geral se a prova não correr tão bem aos Hypercarros. Nos LMGTE Pro, teremos oito carros, seis de equipas de fábrica (a AF Corse pode ser assim considerada) e duas equipas privadas em representação de três marcas (Ferrari, Porsche e Chevrolet). Aqui também teremos representação lusa, com Álvaro Parente a regressar às pistas, um regresso que se saúda, ainda para mais numa prova onde já não competia desde 2017. Os LMGTE AM são o segundo pelotão mais extenso com 23 carros a representar três marcas (Ferrari, Porsche e Aston Martin) num pelotão também recheado de qualidade.

Mas Le Mans é mais que uma corrida e os projetos da Garagem 56 são prova disso. A Garagem 56 é o nome que se dá a projetos tecnológicos inovadores que pretendem ser testados em Le Mans. O nome vem da garagem que é atribuído a esse projetos que assim recebem um convite do ACO para participar no grande teste. Mas muitas vezes não é só de novas tecnologias que se fala mas sim de histórias de superação. Este ano a Garagem 56 será ocupada pela Association SRT41, que não participou na prova no ano passado como previsto devido à pandemia. Regressam este ano com o mesmo projeto, o uso de um Oreca 07 Gibson LMP2 adaptado para pessoas com mobilidade reduzida, que será pilotado por Takuma Aoki, Nigel Bailly, e Matthieu Lahaye substituto de François Heriau que não pode participar.Aoki e Bailly treinados por Frédéric Sausset, o primeiro quadri-amputado a terminar as 24h de Le Mans, em 2016, em 36º, numa grelha de 60 carros. Le Mans também é isto… além da competição, dá-nos lições de vida que embelezam ainda mais este evento.

Hypercar – Conseguirá a Toyota materializar o favoritismo?

A Toyota foi a primeira a comprometer-se com o regulamento Hypercar, a primeira a apresentar o carro e a primeira a vencer uma corrida de endurance com esta regulamentação. Tem uma equipa experiente, que compete desde 2012 na prova francesa, tendo dominado o WEC e Le Mans desde 2018. Contra si tem uma Glickenhaus que enfrenta pela primeira vez Le Mans, um desafio completamente novo, com um carro também ele novo e ainda em fase de crescimento e uma Alpine, que apesar de conhecer bem Le Mans é a primeira vez que participa na categoria de topo com um LMP1. No papel a vitória cairá facilmente para a Toyota. O GR010 é uma máquina muito mais preparada para os rigores desta prova, em relação ao Glickenhaus 007, tendo a vantagem do sistema híbrido que permite uma gestão de combustível mais aprimorada. Mas estas máquinas têm um grande handicap. É a primeira vez que visitam La Sarthe e a fiabilidade não está ainda nos níveis desejados. Do lado da Glickenhaus há ainda muito trabalho para tornar o 007 num carro competitivo e do lado da Toyota temos visto algumas falhas que podem ser motivo de preocupação para a marca nipónica. Do lado da Alpine (apenas um carro em pista), o Oreca LMP1 é já um carro com muitos quilómetros de competição e é provavelmente o carro mais fiável, já com muitas provas dadas. Têm a desvantagem de não poder igualar a Toyota no número de voltas por stint, sendo que à hora que este artigo é escrito, o BoP aplicado faz com que o Alpine faça menos uma volta por stint que o Toyota, uma desvantagem à primeira vista comprometedora, mas que não afeta as aspirações da Alpine em poder desafiar a Toyota pela vitória. Assim teremos uma espécie de David contra Golias, em que a Toyota, com dois carros novos, com uma estrutura superior e com toda a tecnologia do seu lado, será enfrentada pela Alpine, uma estrutura privada, com apoio da marca, pela primeira vez na categoria de topo com um carro mais simples, menos capaz, mas que poderá ter uma palavra a dizer. Se a fiabilidade ditar o desfecho desta prova, poderemos ter uma surpresa. Do lado da Glickenhaus muito dificilmente este não será mais do que um teste valioso para o futuro… mas em Le Mans nunca se sabe.

LMP2 – Portugueses em busca da glória

A classe LMP2 é das que mais interesse suscita, tal como aconteceu em 2020. Um total de 25 carro, 24 Oreca e um Ligier. Estamos perante uma competição quase monomarca, em que o que faz a diferença é a qualidade das equipas e o talento dos pilotos. E no que diz respeito à qualidade das equipas há para dar e vender. Começando pelas equipas que militam no WEC, temos estruturas como a Dragonspeed Usa, Racing Team Nederland, Team Wrt, que apresentam argumentos fortes para a luta pela vitória. Temos também outras equipas de fora do WEC como o caso da Idec Sport (ELMS), G-Drive Racing (ELMS), Duqueine Team (ELMS) e Panis Racing (ELMS) que também estarão na disputa. Destaque para a HIGH CLASS RACING com o carro #49 que terá ao volante Jan e Kevin Magnussen, cumprindo-se assim o desejo de ambos de correr juntos em Le Mans. Mas os grandes destaques vão para o carro #22 da United Autosport e o carro #38 da JOTA. São provavelmente as duas melhores equipas em LMP2 da atualidade, e terão mais do que um carro em pista (United com três e JOTA com dois). Mas o destaque vai para os dois carros mencionados, pois foram os principais protagonistas da corrida do ano passado e são os carros onde Albuquerque (United) e Félix da Costa (JOTA) competem.

O #22 (Phil Hanson, Fabio Scherer e Filipe Albuquerque ) da United conta com duas vitórias este ano (Spa e Monza), contra uma da Jota (Portimão). Albuquerque teve de faltar à ronda portuguesa e curiosamente foi a prova em que o carro #22 teve pior prestação. Phil Hanson lidera o campeonato de pilotos, seguido das duas tripulações da JOTA, com o #38 de Félix da Costa ( Roberto Gonzalez, Antonio Felix Da Costa e Anthony Davidson) em segundo posto. Espera-se que sejam estas duas equipas, tal como em 2020, as principais candidatas à vitória, apesar do equilíbrio não permitir afirmar isso com boa margem de certeza, pois nesta categoria temos dez carros que têm argumentos para lutar pela vitória. Os LMP2 tem mais interesse este ano pois com a fiabilidade ainda questionável dos Hypercars, podem tornar-se em candidatos ao pódio à geral… e uma hecatombe na classe rainha (com apenas cinco carros) pode dar um LMP2 como vencedor à geral, cenário mais rebuscado mas ainda possível.

LMGTE Pro – Regresso português, onde qualidade se sobrepõe à quantidade

Já assistimos a batalhas memoráveis em LMGTE Pro, com grelhas que, apesar de nunca serem muito numerosas, sempre tiveram uma qualidade tremenda. Com o declínio da classe GTE, que deverá desaparecer em breve com a entrada dos LMDh e a aposta em GT3, assistimos aos últimos capítulos de uma era que entusiasmou e nos deu grandes corridas. Para este ano teremos 8 carros, dois Porsche da equipa oficial, dois Corvette também oficiais. dois Ferrari da AF Corse (praticamente oficiais) e duas equipas privadas, com dois Porsches da Weathertech Racing (EUA) e da Hub Auto (Taiwan) equipa onde se integrará Álvaro Parente para a sua terceira participação na prova com a companhia de Dries Vanthoor ( vencedor em LMGTE AM em 2017) e Maxime Martin (vencedor em LMGTE Pro em 2020). Espera-se que a luta pela vitória aconteça entre a Ferrari e Porsche, que têm proporcionado batalhas muito equilibradas no WEC, sem esquecer a Chevrolet que traz o seu Corvette C8.R pela primeira vez a Le Mans, com a Pandemia a atrasar a estreia da máquina americana em solo francês. O primeiro teste em solo europeu, este ano, do C8.R foi em Spa e a distância para os Porsche e Ferrari foi ainda considerável e a experiência das duas equipa habituais no WEC conta muito nesta prova, apesar da experiência dos americanos no IMSA, onde têm conseguido ter sucesso em corridas de longa duração. Uma novidade de última hora foi a troca de Davide Rigon que, devido às lesões sofridas no acidente que sofreu nas 24h de Spa, terá de ceder o seu lugar a Sam Bird que regressa assim a um palco que bem conhece.

LMGTE AM – 23 máquinas em busca da vitória

A classe LMGTE AM é a segunda mais numerosa, com 23 carros inscritos, com três marcas representadas. Inevitavelmente as equipas com presença regular no WEC são encaradas como as mais fortes. Neste caso, falamos da Dempsey-Proton Racing, AF Corse, Cetilar Racing, TF Sport, apenas para mencionar aquelas que parecem mais fortes, olhando às prestações anteriores e ao momento de forma atual. Mas temos também nomes fortes vindos de fora do mundial de endurance como a Spirit Of Race e a Kessel Racing que se poderão juntar ao lote de possíveis favoritos. Espera-se uma corrida disputada até ao fim pois a valia das máquinas e das tripulações é semelhante e em Le Mans todos os cenários devem ser tidos em conta.

Derek Bell será o Grand Marshal da 89ª edição

Derek Bell é um nome incontornável do endurance. Com uma carreira vasta e bem sucedida que também passou pela F1, foi nos Sportscar onde gozou de maior sucesso, especialmente nas provas de longa duração. Venceu Le Mans cinco vezes, as 24h de Daytona três vezes e o Campeonato Mundial de Sportscar por duas vezes. Será Bell que vai liderar os 62 carros na volta de formação a 21 de Agosto.

“Sinto-me extremamente honrado por ser convidado para ser Grand Marshal na maior corrida do Mundo, tendo corrido 26 vezes em Le Mans em 27 anos, mais as muitas semanas a assistir na produção do filme de Le Mans com Steve McQueen em 1970. Creio que a melhor recordação da minha vida foi liderar a corrida de 1995 com o meu filho Justin e claro, Andy Wallace no Harrods Mclaren e terminar na 3ª posição no Dia do Pai, estar no pódio com o meu filho foi verdadeiramente único. Le Mans tornou-se a minha segunda casa, é sempre uma emoção participar no evento, tendo ali uma tal história com tantos grandes companheiros de equipa. Obrigado Le Mans”, disse o britânico de 79 anos.

Partida dada por John Elkann

John Elkann, Presidente da Ferrari, será o homem que dará a partida para a 89ª edição das 24 Horas de Le Mans, agitando a bandeira francesa no dia 21 de Agosto à frente do pelotão composto por 62 carros.

A Ferrari tem uma longa história de sucesso nas corridas em Le Mans, tendo obtido a vitória à geral por nove vezes, com a sua última vitória a remontar a 1965 e o duelo épico com a Ford. No início deste ano, o fabricante italiano confirmou que voltará ao topo da resistência em 2023 com um programa Le Mans Hypercar no WEC.

Também a Alpine poderá ter uma presença reforçada neste evento e deverá fazer uma demonstração com um monolugar de F1. Isto poderá ser um sinal de que a marca francesa vai avançar com um programa de topo no endurance e assim aumentar o número de marcas envolvidas no WEC e IMSA.

Horário

Quarta-feira, 18 de Agosto :

Fun Cup: Treino livre 1 das 7h30 às 8h30

Road to Le Mans: Treino Livre 1 das 9h30 às 10h30

Fun Cup: Treino Livre 2 das 11h às 12h

24 Horas de Le Mans : Treino Livre 1 das 14h às 17h

Fun Cup: qualificação das 16h30 às 17h15

24 Horas de Le Mans: qualificação das 18h00 às 19h00

Road to Le Mans : Treino livre 2 das 19h30 às 20h30

24 Horas de Le Mans: Treino livre 2 das 21h às 23h

Quinta-feira, 19 de Agosto

Porsche Sprint Challenge: treino livre 1 das 8h00 às 8h45

Road to Le Mans: Treino de qualificação 1 das 9h40 às 10h00

Road to Le Mans: Treino de qualificação 2 das 10h15 às 10h35

Endurance Racing Legends: treino livre das 11h25 às 12h10

24 Horas de Le Mans : Treino livre 3 das 13h às 16h

Endurance Racing Legends: treino de qualificação das 17h às 17h45

Road to Le Mans: Corrida 1 das 18h30 às 19h25h

24 Horas de Le Mans: Hiperpole das 20h00 às 20h30

24 Horas de Le Mans: Treino Livre 4 das 21h às 23h

Sexta-feira, 20 de Agosto :

Endurance Racing Legends: treino de qualificação 2 das 7h00 às 7h45

Porsche Sprint Challenge: treino livre 2 das 8h00 às 8h45

Endurance Racing Legends: corrida das 9h30 às 10h15

Porsche Sprint Challenge: treino de qualificação das 11h00 às 11h45

Fun Cup: corrida das 14h30 às 19h30

Sábado, 21 de Agosto

Porsche Sprint Challenge: corrida das 8h às 8h45

Endurance Racing Legends: prova 2 das 9h15 às 10h

24 Horas de Le Mans: Warm Up das 10h30 às 10h45

Road to Le Mans: corrida 2 de 11h15 a 12h10

24 Horas de Le Mans: início às 15 horas

Domingo 22 de Agosto

24 Horas de Le Mans: fim às 15 h

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