GP Hungria de Fórmula 1: O acidente e as suas implicações
Com o toque de Silverstone na memória de todos, voltou a assistir-se no GP da Hungria a um incidente entre a Mercedes e a Red Bull, que tem implicações na restante temporada.
A tensão era palpável entre as duas candidatas ao título deste ano. Ao longo de quase duas semanas, foram diversas as palavras ditas de ambos os lados, no seguimento do incidente entre Max Verstappen e Lewis Hamilton. Estas não caíram bem do outro lado da barricada e culminaram na decisão dos comissários desportivos em não dar seguimento ao pedido da Red Bull de revisão da sua decisão de Silverstone por não considerar que a formação de Milton Keynes tinha apresentado novas provas indisponíveis no momento da decisão em questão e por não serem relevantes.
Este desfecho levou a que a Mercedes acusasse a sua rival de “uma tentativa concertada pela equipa de gestão de topo da Red Bull Racing para manchar o bom nome e integridade desportiva de Lewis Hamilton”.
Foi neste cenário que a Mercedes monopolizou a primeira linha da grelha de partida, com a sua rival na segunda e, num circuito em que as ultrapassagens são extremamente difíceis, esperava-se que os Red Bull pudessem tentar ganhar posições nos primeiros metros, até porque tinham para o início da prova pneus macios, o que lhes davam alguma vantagem no arranque, face aos carros negros, com médios
No entanto, para o dia do Grande Prémio, as condições alteravam-se significativamente, com a chegada da chuva que vinha ameaçando surgir desde o primeiro dia do evento.
Subitamente, e depois de todas as sessões terem sido realizadas com pista seca, as condições do asfalto magiar obrigava ao uso de pneus intermédios, ficando os pilotos sem qualquer referência para os primeiros metros da prova.
Valtteri Bottas, com um péssimo arranque de segundo, na chegada à primeira curva tinha já sido ultrapassado pelos dois Red Bull e por Lando Norris e, no cone de aspiração do McLaren e talvez frustrado pelo início de corrida, deixou a travagem para tarde, bloqueando as rodas para se enfiar pela traseira do monolugar de Woking adentro.
Com o carro cor de laranja completamente desgovernado, Verstappen parecia ter um íman que puxava o McLaren contra si, acabando por apanhar com o McLaren no seu flanco direito. Para piorar toda a situação e deixar ainda mais tensa a relação entre as duas equipas, Bottas, sem qualquer tipo de controlo do seu Mercedes, acertava ainda no Red Bull de Pérez.
Só neste incidente, ficava fora de prova o finlandês, o mexicano e inglês, apesar de ter chegado às boxes, estando ainda a unidade de potência do recruta da formação bandeira austríaca em risco de ter de ser substituídas, o que a confirmar-se o uso do seu terceiro V6 turbohíbrido e penalizações na ponta final da temporada.
Verstappen por seu lado, tinha todo o flanco direito do seu monolugar bastante danificado, com as derivas laterais completamente arrancadas, fundo plano partido e canalização do arrefecimento da unidade de potência estragada, obrigado a reparações de recurso durante a situação de bandeiras vermelhas para poder continuar, ainda que com o seu carro bastante condicionado.
Num acidente separado, Lance Stroll, falhou completamente a travagem para a Curva 1, indo pela relva para acertar em cheio no Ferrari de Charles Leclerc, tendo este obrigado Daniel Ricciardo a entrar em pião. O canadiano e o monegasco eram obrigados a abandonar, subindo para cinco as vítimas da primeira curva, ao passo que o australiano pôde prosseguir ainda que com danos no seu McLaren.
No final da prova, Bottas e Stroll eram penalizados pelas suas indiscrições com cinco lugares na grelha de partida para o próximo Grande Prémio.
Pela segunda corrida consecutiva, um Mercedes conspirava para o abandono de um Red Bull, condicionando ainda a prova do outro, por sinal, a do candidato ao título que chegara à Hungria na liderança do Campeonato de Pilotos.
O impacto é claro, numa prova em que a equipa de Milton Keynes tinha como expectativa mínima somar vinte e sete pontos, relativos a um terceiro e um quarto lugares, via apenas o holandês terminar e num frustrante décimo lugar – transformado em nono com a desclassificação provisória de Sebastian Vettel – perdendo a liderança de ambos os campeonatos.
Para além disso, numa época em que foi introduzido o tecto orçamental de 145 milhões de dólares, a Red Bull tem mais uma pesada conta de reparações em cima dos USD1,8 milhões do despiste de Verstappen em Silverstone, que foi obrigado a montar a sua terceira unidade de potência na prova magiar.
Os estragos de Hungaroring facilmente ajudarão a que o valor dos acidentes dos pilotos de Milton Keynes deste ano supere os 3 milhões de dólares, quase 20% do orçamento total, o que terá uma implicação profunda no desenvolvimento do RB16B Honda, o que poderá reflectir-se em pista,
Talvez por isso, Christian Horner, ainda a quente, não tenha aceitado as desculpas de Toto Wolff, deixando escapar “penso que a Mercedes… ele (n.d.r.: Bottas) fez um bom trabalho para eles, não fez?”
Se se esperava que a tensão entres as duas equipas pudesse descer com uma corrida mais calma em Hungaroring, o incidente espoletado pelo finlandês teve um efeito completamente inverso, e muito embora não se espere nova troca de palavras, seguramente que teremos uma guerra surda que qualquer pequena faísca poderá levá-la a um nível ainda mais intenso.
Ai essa matemática, sr Girão! Se o limite orçamental são 145 milhões, 3 milhões são apenas 2%!