F1, Max ou Lewis: quem é o culpado? Perguntámos aos ‘nossos’ pilotos…

Por a 25 Julho 2021 16:20

Max Verstappen, Lewis Hamilton, a Red Bull e a Mercedes entraram em ‘guerra’ após o incidente de Silverstone. O tema continua na ordem do dia e no próximo Grande Prémio, na Hungria, vai ser de loucos. Entretanto, vamos conhecer a visão de algumas personalidades lusas sobre o assunto.

Já há anos largos que dois pilotos não polarizavam tantas emoções como Max Verstappen e Lewis Hamilton este ano, sobretudo, depois do incidente que protagonizaram em Silverstone, durante o Grande Prémio da Grã-Bretanha. Conversámos com alguns dos pilotos de maior nomeada do nosso país para que nos dessem a sua visão do sucedido.

Logo após o toque entre os dois candidatos ao título de 2021, que acabou com a desistência do holandês e a vitória do inglês, as opiniões divergiram catalisadas pelas respectivas equipas, tendo cada uma delas, como seria esperado, a defender o seu piloto. As discussões têm-se vindo a arrastar, alimentando as redes sociais como já não era visto desde os tempos de Ayrton Senna e Alain Prost, sendo então o fórum da discussão cafés, onde todos faziam questão de dar a sua opinião.

Resolvemos, questionar alguns dos pilotos de maior notoriedade de Portugal sobre qual a sua visão sobre o sucedido em Silverstone e, muito embora, exista alguma convergência de opiniões, podem-se verificar algumas nuances interessantes.

As questões:

  • (1) Qual a sua visão sobre o incidente protagonizado por Lewis Hamilton e Max Verstappen na primeira volta do Grande Prémio da Grã-Bretanha?
  • (2) Que impacto o incidente terá na restante temporada? Poderá existir repetições do sucedido em Silverstone?

Álvaro Parente, piloto de GT

(1) “Para mim foi um incidente de corrida, foi uma luta muito renhida. O Verstappen e a Red Bull cresceram muito e hoje estão muito fortes e em Silverstone eram os favoritos.

O Hamilton tentou lutar, mas o Verstappen foi muito agressivo e o Hamilton não desarmou, dado que estava determinado em discutir a posição.

Na aproximação a Copse o Lewis saiu melhor de Luffield, mas uma vez mais, o Max foi muito agressivo, mas deixou uma abertura e o Hamilton aproveitou.

O Verstappen percebeu que já não podia empurrar mais para a direita, uma vez que o Lewis já lá estava. Era evidente que ele iria lutar pela posição e tentar qualquer coisa e nenhum levantou o pé.

No fundo, o Hamilton queria mostrar ao Verstappen que poderia ser tão agressivo como ele. Por seu lado, o Max queria que o Lewis levantasse o pé, mas este já o tinha feita por duas vezes naquela volta e não o fez pela terceira vez.

Foi uma forma de afirmação da parte do Lewis, que, depois de diversos episódios, não quis deixar que a agressividade do Max levasse novamente a melhor.

O Verstappen teve azar, ainda bem que não lhe aconteceu nada, mas as corridas são assim.”

(2) “Creio que, se continuarem com a abordagem de Silverstone, vai acontecer mais vezes. A luta está muito renhida e ninguém vai querer perder, principalmente, depois do sucedido. Veremos quem será mais inteligente e quem levantará o pé quando a situação de lhe for mais favorável.

Em Hungaroring já teremos uma ideia do que poderá acontecer, dado que, apesar de terem passado duas semanas, ambos estarão desejosos de bater o outro.”

Guilherme de Oliveira, piloto da Fórmula 4 España

(1) “Sou um pouco suspeito, dado que sou adepto do Verstappen.

Assistiram-se a diversos ataques do Lewis logo na primeira curva e, em Brooklands, o Max defendeu-se muito bem.

O Lewis saiu muito bem de Luffield e atacou o Max em Copse, mas o Max estava à frente e tinha direito à trajectória. O Lewis falhou o apex e tocou no Red Bull.

Este é um tipo de acidente que acontece muitas vezes ao Lewis, como o Albon pôde verificar no Brasil 2019 e na Áustria 2020.

Era um acidente previsível, não culpo nenhum inteiramente, ambos estão a lutar ferozmente pelo campeonato e um quer bater o outro.

Considero que foi 50% acidente de corrida, 50% responsabilidade do Lewis. Ambos são grandes pilotos e, com este acidente, o campeonato fica ainda mais interessante!

O Verstappen faz parte de uma nova geração de pilotos oriundos do karting, onde se é muito agressivo, e nunca permitiria ser ultrapassado numa curva daquele género, que de facto não é muito propícia a ultrapassagens.

Para além disso, e para sublinhar como o Hamilton foi mais responsável pelo incidente, quando ele ultrapassou o Leclerc, que por ter um Ferrari não saiu tão bem de Luffield, estava mais à frente e foi ao apex de Copse e, mesmo assim, o Charles saiu de pista na saída.

Julgo que não fez sentido o ataque do Lewis, que poderia ter assegurado a ultrapassagem na recta de Hangar.”

(2) “Penso que o Max virá determinado para vencer na Hungria, depois desta polémica. Julgo que isto dar-lhe-á ainda mais vontade em bater o Hamilton e espero uma corrida agressiva da parte dele.

Ao longo do campeonato acredito que, se a competitividade do Mercedes e do Red Bull estiverem niveladas, poderá voltar a acontecer uma situação semelhante.

Mas este é um episódio que dará ainda mais interesse ao campeonato, dado que as pessoas quererão ver como se comportarão os dois até ao final da temporada.”

Pedro Matos Chaves, Ex-piloto de F1, GT e Ralis

(1) “Na minha opinião, é um acidente de corrida. Quando se tenta colocar dois carros onde só cabe um, o toque é inevitável.

O Hamilton está a lutar pelo campeonato e tinha de arriscar, por seu lado, o Verstappen poderia ser mais inteligente, mas achou que o Lewis iria desistir da manobra, atirando-se para a curva como se não tivesse ninguém ao lado, e por fora, a fazer a trajectória normal, ficou ligeiramente à frente do Hamilton, quando se deu o toque.

O Lewis já tinha levantado o pé noutros episódios e, desta vez, não esteve para isso, o que terá surpreendido o Max.

Este, na situação em que estava no campeonato e com um carro mais competitivo, poderia ter pensado de uma forma mais estratégica e pensar nos pontos. Mas manteve a sua agressividade habitual.

Era inevitável.

Antigamente, este seria um acidente de corrida e os comissários desportivos não interfeririam, mas agora, com estes regulamentos, muitas vezes incompreensíveis, acaba por se assistir a estas penalizações.

Depois há todo aquele folclore com as equipas a defenderem os respectivos pilotos. O Horner a afirmar que naquela curva não se ultrapassa, bem, talvez por isso deixou a pilotagem para ser chefe de equipa… O Wolff a garantir que a trajectória era do Hamilton…”

(2) “Creio que o Hamilton vai deixar de facilitar, como aconteceu em Imola e em Barcelona, quando talvez acreditasse ter um carro superior. Vai deixar de ser bonzinho.

Por seu lado, veremos se o Verstappen vai fechar a porta da mesma forma, dado que também terá aprendido alguma coisa.

Para ser Campeão é preciso saber pontuar e do outro lado há um heptacampeão mundial, que sabe como se ganham campeonatos.

O Verstappen teria sido mais inteligente se tivesse adoptado uma postura semelhante à do Leclerc, mas foi prematura a sua agressividade, como é seu apanágio, mas também é por isso que tem tantos adeptos. Os próximos Grandes Prémios serão muito interessantes.

Tiago Monteiro – ex-piloto de F1 e piloto do WTCR

(1) “Foi um acidente de corrida, mas a culpar alguém será o Hamilton.

Por não estar ao nível do Verstappen. Ele tenta, mas não está posicionado, e quando levanta o pé, toca na roda traseira direita do Red Bull, por isso não estava lado a lado, e isso acaba por fazer dele o ‘culpado’.

Na verdade, Verstappen poderia deixar um pouco mais de espaço, mas não era obrigado a fazê-lo, basicamente, por isso a culpa cai para Hamilton.

Mas havia forma de evitar o incidente, se o Verstappen tivesse deixado mais espaço,

Foram muito pontos perdidos pelo Max, claro, e que podem fazer muita falta no final do ano.”

(2) “Creio que existirão mais contactos entre eles. São dois grandes lutadores, com muita garra e sem medo de ir contacto.”

Filipe Albuquerque – piloto no WEC e IMSA SportsCar Championship

(1) “Penso que é um acidente de corrida e podemos ver no início do ano, quando o Verstappen tinha um carro inferior ao Hamilton, a forma como o Max se atirou para dentro da Curva 1 de Barcelona, o Hamilton cedeu a esses optimismos todos, caso contrário seria um choque entre eles. O Hamilton sabia que tinha um carro superior e o Verstappen sabia também que tinha um inferior e que aquela era a única oportunidade que tinha (de tentar vencer).

Agora, a situação mudou, parece que a Red Bull tem um carro ligeiramente melhor, e o Verstappen faz estes jogos mentais de grande agressividade com todos os pilotos, mas é claro que o Hamilton é muito experiente e não vai estar a levantar o pé, quando, provavelmente, tem um carro inferior e está atrás no campeonato.

O Verstappen tem de começar a compreender que nem todos tem de comportar de acordo com a sua agressividade, tendo todos que levantar o pé porque é o Verstappen. Neste caso foi isso que aconteceu.

Se o Hamilton levantasse o pé, nesta circunstância, levantaria sempre para o resto da vida. A meu ver, o Hamilton colocou Verstappen no sítio.

O Max teria espaço para ir por fora, mesmo dando espaço ao Hamilton, e mesmo assim manter o comando, dado que à saída, no corrector, o Hamilton não teria velocidade suficiente para o passar.

Não o fez, curvou como se não tivesse ninguém ao seu lado, muito embora tenham chegado a estar lado a lado. Ainda assim, considero que foi um acidente de corrida, mas se alguém tivesse a culpa, penso que seria o Verstappen. Julgo que o piloto que está a ser ultrapassado também tem responsabilidade em cada situação.”

(2) “Numa próxima vez, o Verstappen saberá que o Hamilton não vai levantar o pé e que poderá voltar a haver um incidente.”

Ricardo Teixeira, ex-piloto de testes da Williams (2009) e Caterham (2011) e embaixador da Fórmula 1

(1) “Foi um acidente de corrida puro e duro. Honestamente, não entendo estas últimas penalizações. Sempre ouvi que, quando um carro estava por dentro e lado a lado, se não desses espaço e provocasses um acidente, quem estava por fora seria culpabilizado por ter causado o toque.

Dito isto, o Max tem sido muito agressivo com o Lewis. O Lewis tem levantado o pé para evitar toques. O Max já poderia ter causado um acidente e todos reconhecem que ele tem sido muito agressivo.

Já na Qualificação Sprint o Verstappen foi muito agressivo, por fora, e o Hamilton voltou a levantar o pé.

Na corrida ambos estavam muito agressivos, o Max com uma vontade louca de vencer, ainda bem, dado que está a criar um grande espectáculo este ano, mas o Lewis estava aborrecido por ter de deixar o passar o Verstappen por diversas vezes esta temporada, cedendo à agressividade deste e estamos a falar de um piloto que heptacampeão mundial, tem recordes de pole-positions e de vitória. Subitamente, está a ceder ao ‘bullying’ de um piloto muito mais novo porque está a pensar nos pontos da equipa.

Mas chegados a Silverstone, está a correr em casa, e está a ver os pontos a fugir.

Em Copse, quando meteu por dentro, considerou que a trajectória era dele e deixou ficar o carro.

Falam do Lewis ter falhado o apex, mas o Max empurrou-o muito para o muro e, naquela curva, é natural haver alguma subviragem quando se entra tão por dentro, dado que a entrada é cega. O Verstappen viu-o e fechou de repente, mas nunca na vida o Hamilton conseguiria tirar o carro daquela situação. Só se travasse e mesmo assim o contacto seria inevitável. Se, naquele momento, o Hamilton não tivesse levantado o pé, o acidente seria muito pior.

O Verstappen poderia ter aberto a trajectória, mas mesmo que, naquela situação, por algum milagre não tivessem batido, o Max não conseguiria fazer a curva, como se verificou mais tarde com o Leclerc, dado que em Copse, sempre que não se assume a trajectória ideal, sai-se largo.

O Hamilton viu um espaço e foi para ele, ambos foram muitos agressivos, e quando entraram na curva o acidente era inevitável. Julgo que a única forma de o evitar seria o Verstappen abrir a trajectória, mas isso não aconteceu. Foi um acidente de corrida. Isto para a Neflix vai ser um espetáculo… Já estou a imaginar.”

(2) “Vai ser uma luta feroz. Julgo que ambos serão muito agressivos, mas vai depender qual a abordagem do Max depois de um acidente como aquele de Silverstone. Tenho a sensação de que ele estará ainda mais agressivo, dado que está chateado com o sucedido, mas o estado de espírito do Lewis deverá ser semelhante, relativamente ao incidente. Levantou o pé inúmeras vezes e agora mostrou que não está para ceder sempre.

Creio que vamos ver mais cenários como este ao longo da restante época, mas quem ganha com isto é a Fórmula 1.”

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Pity
Pity
3 anos atrás

Nunca ouvi falar no Ricardo Teixeira, confesso a minha ignorância.
Há nestas opiniões um facto curioso:(mas natural) o jovem pende mais para o Verstappen, os mais “velhotes” (e experientes), para o Hamilton. Gostei, especialmente, da opinião do Matos Chaves. Aquela alusão ao Horner, é magistral.

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