GP da Grã-Bretanha F1: A dinâmica de um acidente

Por a 17 Julho 2021 17:15

Era uma inevitabilidade, mais tarde ou mais cedo, Lewis Hamilton e Max Verstappen encontrar-se-iam a batalhar pelo mesmo pedaço de pista e, pelo menos, um deles acabaria fora de prova. Foi o que se verificou no domingo e, se até agora, existia algum respeito entre ambos, daqui para a frente, a relação do duo alterar-se-á definitivamente, como já se pode perceber.

Olhar para o sucedido no início do GP da Grã-Bretanha de uma forma isolada não será a mais correcta para ter a real dimensão dos fatores que levaram ao encontro entre os dois candidatos ao título deste ano.

Na génese do incidente está a intensa luta que se verifica este ano entre os dois e nas curtas margens que ditam vitórias e derrotas, levando a que ambos estejam de forma consistente nos limites.

Isto leva, também, a que as lutas em pista sejam mais intensas, uma vez que cada ultrapassagem pode ser decisiva para o desfecho de uma corrida.

Este ano, já se verificaram inúmeros duelos entre Hamilton e Verstappen e, se em Sakhir e em Portimão tudo correu dentro de alguma normalidade, em Imola e Barcelona o inglês teve de levantar o pé para evitar um acidente motivado pela postura de grande agressividade do holandês.

A diferença entre estes dois casos e o verificado no domingo passado é que Hamilton em Itália e em Espanha sentia ter um carro com o qual poderia lutar com o seu adversário, ao passo que em Inglaterra sabia que, para poder vencer, teria de terminar a primeira volta na liderança para poder controlar a corrida.

Foi com este pano de fundo que se iniciou o GP da Grã-Bretanha e desde os primeiros metros que se verificou que ambos estavam determinados em não ceder, assistindo-se a toques logo na primeira curva e na recta Wellington, ficando claro que ninguém iria ceder.

Quando ambos chegaram lado a lado a Stowe, feita a cerca de 290Km/h, e uma das mais rápidas do mundial, Verstappen, por fora, adotou a sua postura sem compromissos habitual, mas desta feita, Hamilton não levantou o pé e o toque foi inevitável.

O holandês levou a pior, sofrendo o maior acidente da sua carreira, com uma desaceleração de 51G, tendo sido levado para o hospital mais próximo para realizar exames aprofundados. Às 22h00 de domingo recebia alta sem questões físicas para lá de algumas nódoas negras.

Como é evidente, após o incidente, as opiniões dividiam-se.

Do lado da Mercedes era apontado que o seu piloto estava lado a lado com o seu rival e que este não lhe deu espaço.

Hamilton ecoou essa ideia, apontando a postura habitual de Verstappen. “Tento sempre ter uma abordagem comedida, sobretudo com o Max. Como sabem, ele é muito agressivo. E (n.d.r.: no domingo), quer dizer, eu estava lado a lado com ele e ele não me deixou espaço”, afirmou o Campeão do Mundo.

Do lado da Red Bull as afirmações foram fortes e Christian Horner categorizou a manobra de Hamilton como amadora. “Ele alargou a trajetória de encontro ao Max. (…) A ultrapassagem nunca foi uma opção. O Lewis é um campeão com sete títulos. Foi um erro amador e um erro desesperado. Tivemos muita, muita, sorte em ninguém se ter magoado gravemente.

Colocar um colega no hospital, destruir um carro, receber uma penalização sem impacto e ainda assim vencer o Grande Prémio, não parece ser grande penalização”, sublinhou o chefe de equipa da Red Bull.

Verstappen, por seu lado, acusou Hamilton de ser perigoso e mostrou-se desagradado com as celebrações do seu rival. “A penalização não nos ajuda e não fazem justiça à manobra perigosa que o Lewis fez em pista.

Ver as celebrações depois da corrida enquanto eu estava ainda no hospital foi desrespeitador e um comportamento pouco desportivo, mas vamos seguir em frente”, garantiu o holandês.

É evidente que a relação entre os dois se alterou significativamente com este incidente e a próxima vez que se encontrarem em pista o comportamento de ambos será distinto.

Porém, Verstappen foi o grande perdedor com o incidente, colocando-se numa posição em que, se algo corresse mal, seria ela o principal prejudicado.

Essa abordagem, de não fazer prisioneiros, é compreensível quando se luta apenas por uma vitória, mas quando está em jogo um título e se tem uma vantagem confortável, ter uma postura mais calculista poderá ser benéfica… Veremos se, quando se fizerem as contas finais em Dezembro, se este contacto não lhe custará o título de 2021.

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