GP da Áustria de F1/2º pelotão: A manta curta da Ferrari
Num dia em que Lando Norris esteve noutro plano, Carlos Sainz venceu a corrida do “Segundo Pelotão” do Grande Prémio da Áustria, tendo a qualificação sido determinante para a prova dos pilotos da Ferrari.
Depois do desaire do Grande Prémio de França, em que deixou Paul Ricard sem qualquer ponto, a Scuderia alterou significativamente a sua abordagem aos fins-de-semana.
Até ao evento gaulês, inclusive, os carros de Maranello alcançavam o seu auge na qualificação, alcançando resultados impressionantes e sendo ameaças para as duas equipas de ponta – como comprovam as duas pole-positions de Charles Leclerc – mas durante a corrida, com dificuldades em gerir da melhor forma os pneus da Pirelli, verificava-se uma quebra de performance.
No Grande Prémio da Estíria, a Ferrari privilegiou a corrida, ainda que sacrificando o resultado da qualificação e, apesar das contrariedades, conseguiu um bom resultado, ganhando pontos à McLaren na luta pelo terceiro lugar do Campeonato de Construtores. Porém, para o Grande Prémio da Áustria a Pirelli disponibilizou a sua gama de pneus mais macia, o que criava novas dificuldades a todos e, especialmente, à equipa transalpina.
Logo na sexta-feira ficou evidente que os C5 – o composto mais brando – era de evitar, passando rapidamente por um custoso período de granulação, sendo um tipo de pneu que, se fosse possível, ninguém usaria na corrida de domingo.
No entanto, os 0,7s por volta que valiam relativamente aos médios – os C4, que uma semana antes eram os macios – poderiam ser determinantes durante a qualificação, sobretudo num circuito tão curto, em que as diferenças são mínimas – na Q2, os quinze carros em liça ficaram separados por 1,1s, ao passo que o “delta” entre seguir para a Q3 e ficar na Q2 era apenas de pouco mais de meio segundo.
Para a generalidade das equipas do “Segundo Pelotão”, chegar ao derradeiro segmento da qualificação poderia implicar condicionar toda a corrida.
A McLaren, muito à-vontade no circuito austríaco, não teve dificuldades em colocar Lando Norris na Q3 com pneus médios, replicando a abordagem da Red Bull e Mercedes, mas Alpha Tauri, Aston Martin e Alpine mandavam para a pista os seus pilotos com borrachas macias, o que significava na prática a adopção de uma estratégia de duas paragens nas boxes durante a corrida.
Por seu lado, a Ferrari nunca equacionou montar os pneumáticos mais brandos, assumindo o risco de poder não ascender a Q3, esperando que o seu ritmo de corrida pudesse, durante a prova de setenta e uma voltas, permitir a Charles Leclerc e a Carlos Sainz assegurar bons resultados.
Com pneus macios, Pierre Gasly, Sebastian Vettel, Yuki Tsunoda e Lance Stroll não tiveram dificuldades em passar ao derradeiro segmento da qualificação, o que deixava o espanhol da Ferrari no décimo posto e o monegasco em décimo primeiro, mas um surpreendente George Russell, com pneus médios no seu monolugar, levava a Williams até à Q3, relegando ambos os carros de Maranello para fora dos dez mais rápidos.
Na verdade, dificilmente estes poderiam ascender ao derradeiro segmento da qualificação, uma vez que Fernando Alonso tinha claramente andamento para estar entre os dez primeiros e só o bloqueio que lhe fez Vettel na última curva, quando realizava uma volta lançada, o impediu disputar um lugar na primeira metade da grelha de partida, tendo sido enviado pela falta de atenção da Aston Martin para um desapontante décimo quarto posto.
Fora dos dez primeiros, dificilmente Sainz ou Leclerc poderiam ter esperanças em bater Lando Norris, que a arrancar de segundo teria maior facilidade em rodar no ar limpo e explanar o verdadeiro potencial em corrida do seu McLaren MCL35M Mercedes, ao passo que os pilotos da Ferrari tinham o seu ritmo condicionado por carros mais lentos.Os primeiros sete primeiros classificados mantiveram as suas posições no arranque, sendo o segundo pelotão liderado por Pierre Gasly, seguido do seu colega de equipa, Stroll e Vettel, que arrancara bem de 11º – de onde alinhara por ter sido penalizado por ter prejudicado Alonso – Leclerc, Ricciardo, Russell e Sainz, que com pneus duros, pouco pôde fazer nos primeiros metros contra os carros à sua volta com borrachas médias e mais aderentes.
O espanhol perdia três posições, mas tinha a vantagem de ter uma estratégia que lhe permitia realizar um longo primeiro stint, efectuar o ‘overcut’ aos pilotos numa táctica de duas paragens e aproveitar o bom ritmo de corrida do SF21 para terminar a prova ao ataque e recuperar mais alguns lugares.
Até à primeira ronda de paragens, as posições ficaram imutáveis depois da passagem do Safety-Car pela pista – para arrumar o Alpine de Esteban Ocon que se viu ensanduichado entre um Haas e Antonio Giovinazzi, parando com um tirante de direcção partido – mas esta neutralização criou a situação para que Leclerc perdesse um lugar Ricciardo e para que Pérez, depois de um ataque a Norris que o obrigou a passar por uma escapatória, caísse para décimo atrás do australiano.
Com diferenças muito curtas, praticamente todos os pilotos tinham acesso ao DRS, Sainz, muito embora tivesse vantagem de andamento relativamente à maior parte dos seus adversários que rodavam à sua frente, não conseguia ganhar posições, o que o deixava incapaz de explanar o potencial do seu carro.
Quando os Alpha Tauri e os Aston Martin concluíram a primeira ronda de paragens, das duas previstas para estes pilotos, estavam cumpridas dezassete voltas, Sainz subiu a oitavo no escape de Sérgio Pérez, que, entretanto, fora suplantado por Leclerc na luta pelo sexto lugar.
Contudo, este grupo estava condicionado pelo andamento de Ricciardo que, era o mais lento do quarteto, mas a superior velocidade de ponta do McLaren colocava-o ao abrigo de qualquer ataque.
Então, Sainz estava já a vinte e sete segundos de Norris, o que deixava claro que este estava noutra corrida e fora do alcance dos homens da formação de Maranello.
Só quando o trio à sua frente parou para trocar os médios por duros, Leclerc foi o último estavam cumpridas trinta e quatro voltas, o espanhol pôde, finalmente, rodar no seu ritmo, melhorando os seus tempos em cerca de quatro décimos, até entrar nas boxes na quadragésima oitava.
O piloto da Ferrari caiu para oitavo a 10 segundos de Ricciardo e a quarenta de Norris, mas tendo agora uma vantagem significativa ao nível dos pneus, montara médios com pouco uso, podia realizar uma ponta final de prova de ataque.
Sainz era o segundo piloto mais rápido em pista, apenas batido por Max Verstappen, e rapidamente começou a aproximar-se de Ricciardo, Pérez e Leclerc, tendo este cedido a posição ao seu colega de equipa, depois de longas voltas a tentar desfeitear o mexicano e o australiano, depois deste ter sido suplantado pelo piloto da Red Bull, na quinquagésima segunda passagem pela linha de meta.
Na penúltima volta, Sainz conseguia ultrapassar o piloto da McLaren, catalisado pela vantagem dos pneus, e terminava a menos de dez segundos de Pérez, o que lhe permitia ficar classificado à frente do mexicano, que sofrera duas penalizações de cinco segundos por ter colocado Leclerc fora de pista em duas ocasiões distinta quando o monegasco o tentava suplantar por fora.
Ao cabo de setenta e uma voltas, o espanhol perdia trinta e sete segundos de Norris, o que demonstra que em configuração de corrida o Ferrari estava ao nível do McLaren.
No entanto, parece que a “manta vermelha” é demasiado curta e, quando tem um carro competitivo em qualificação, sofre em corrida e vice-versa, uma situação que é mais evidente num circuito em que a potência é de capital importância, como é o caso do Red Bull Ring, denotando, como é do conhecimento comum, que o V6 turbohíbrido de Maranello tem ainda alguma desvantagem face ao Mercedes e ao Honda.
Ainda assim, a Ferrari maximizou o potencial geral do seu monolugar, justificando a sua estratégia para a qualificação de sábado.
Portanto o Norris já não faz parte do “segundo pelotão”. Deve seguir-se o Riciardo. Ainda bem que a Aston e a Alpha Tauri andam a pastar, senão o segundo pelotão ia ficar só com Ferraris. E depois a vitoria já não tinha tanto sabor.