F1, Hamilton vs Verstappen: a contabilidade dos erros
O caminho para um título mundial de Fórmula 1 é um longo endurance, como Lewis Hamilton frisou no Grande Prémio do Azerbaijão, sendo um exercício em que é necessário maximizar as oportunidades, evitar erros comprometedores e ter alguma sorte. Com seis corridas disputadas e os dois candidatos ao título separados por quatro pontos, analisamos o piloto que mais erros cometeu e quem mais perdeu com eles.
Para que um piloto conquiste o Santo Graal do automobilismo tem de ser rápido, explorar as potencialidades do material colocado à sua disposição e aproveitar as capacidades da equipa que o rodeia, mas se neste processo cometer erros recorrentemente, dificilmente poderá chegar ao final da temporada com o título no bolso.
Evitar erros enquanto se explora os limites é determinante para que termine o campeonato a celebrar e, por vezes, nos melhores interesses de um objetivo maior, é preferível aceitar um resultado menos bom e somar pontos importantes, a arriscar tudo, acabar fora de pista e com um grande zero na folha de contabilidade.
Foi exatamente a isso que Lewis Hamilton aludiu, quando no carro e antes do reinício do Grande Prémio do Azerbaijão (após as bandeiras vermelhas provocadas pelo rebentamento no pneu traseiro do monolugar de Max Verstappen), ao afirmar pela rádio “isto é uma maratona e não um sprint”, tendo Toto Wolff respondido prontamente para concordar.
O cenário era evidente – o seu rival da Red Bull estava fora de prova, o que significava que não pontuaria, e com o Mercedes número quarenta e quatro atrás do colega de equipa do holandês, era preferível assegurar o segundo posto, o que lhe daria o comando do Campeonato de Pilotos, a arriscar uma luta com Sérgio Pérez, que não tinha nada a perder, e acabar fora de pista.
Porém, ao perceber que tinha realizado um bom arranque para as duas voltas finais da corrida, que o colocou lado a lado com o mexicano, Hamilton, com o “killer instinct” que se lhe reconhece, envolveu-se na luta pelo comando, acabando na escapatória da Curva 1 para terminar a prova sem qualquer ponto. Uma oportunidade perdida.
O inglês tocou inadvertidamente num botão que o deixou com 90% da capacidade de travagem para o eixo dianteiro, o que alterou significativamente a performance do Mercedes, daí não ter conseguido abrandar o carro suficientemente para realizar a curva.
Foi um erro custoso para Hamilton, ainda que catalisado pela falha da Mercedes no design do volante do W12, que viu dezoito pontos esfumarem-se numa travagem devido a um pequeno movimento de um dedo.
Não é propriamente um erro de pilotagem, mas no fundo, foi a ação inconsciente do heptacampeão mundial a criar a situação e a roubar-lhe uma classificação que seria determinante para o Campeonato de Pilotos.
Mas se nesta situação existe até alguma compreensão para com Hamilton, em Imola o inglês cometeu um erro de pilotagem claro, tendo tido a sorte do seu lado para não ter um impacto profundo na situação do campeonato, uma vez que uma situação de bandeiras vermelhas lhe permitiu recuperar a volta perdida e recuperar até segundo.
Os erros do piloto da Mercedes são espaçados, mas, este ano, têm sido significativos e, sem a fortuna em Imola, as contas do campeonato poderiam ser bastante mais desfavoráveis ao inglês.
Já os erros de Verstappen, ainda que mais recorrentes, têm menos impacto nos resultados do holandês.
Genericamente, resumem-se a violações de limites de pista, que o impediram de vencer no Grande Prémio do Bahrein e roubaram-lhe uma pole-position e uma volta mais rápida em Portugal.
O piloto da Red Bull teve ainda abaixo do que poderia fazer na qualificação de Imola, em que não foi além de terceiro, quando a pole-position estava claramente ao seu alcance, mas redimiu-se logo nos primeiros momentos da corrida.
O erro mais grosseiro e menos desculpável de Verstappen ocorreu na terceira sessão de treinos-livres de Baku, quando enfiou o seu monolugar num muro de pneus. Para sua sorte, o carro foi recuperável para a qualificação, mas facilmente poderia ter danificado definitivamente o chassis ou a caixa de velocidades, o que teria um impacto negativo em todo o fim-de-semana numa situação em que não é preciso arriscar nada.
Verifica-se então, que o holandês tem na sua caderneta cinco erros contra apenas dois do inglês, o que poderá evidenciar que, Verstappen tem de andar mais no limite que Hamilton, daí o seu maior número de erros.
Já as “faltas pessoais” do inglês são muito mais significativas, tendo para já um impacto direto de dezoito pontos, e facilmente poderiam ser vinte e nove. Do lado do holandês, os seus erros tiveram um impacto direto de um ponto, no máximo quinze, se levarmos em consideração a vitória que perdeu para o seu rival em Sakhir por ter ultrapassado por fora de pista. Mas aí, a defesa de Hamilton foi determinante para o desfecho.
Objetivamente, os erros de Hamilton foram mais significativos e, provavelmente, hoje em circunstâncias normais, agora estaria a vinte e cinco pontos de Verstappen, mas a sorte protege os campeões.
Veremos como se comportarão os dois na restante temporada…
Bahrein – Verstappen perde vitória (diferencial de 14 pontos a favor de Hamilton)
Verstappen foi o primeiro a errar, no entanto, numa situação de esforço. O Red Bull era o carro mais rápido em Sakhir, mas uma boa estratégia da Mercedes deixou o holandês no encalço de Hamilton.
O piloto de vinte e três anos pressionou o inglês e chegou mesmo a ultrapassá-lo, mas caiu numa armadilha do heptacampeão e teve de recorrer a escapatória para concluir a manobra. Foi obrigado a ceder o comando, por ter ultrapassado fora de pista, e nunca mais conseguiu apoquentar Hamilton.
Uma manobra mais autoritária e incisiva poderia ter valido um triunfo a Verstappen, mas, apesar de custoso, este não foi um erro primário da sua parte.
Imola – Verstappen supera e erro da qualificação e Hamilton tem a sorte do seu lado (sem impacto situação pontual)
Na segunda prova da temporada ambos os contendores ao título erraram, muito embora com impactos díspares e acabando por não ter reflexo pontual.
Verstappen cometeu uma “falta não forçada” na qualificação e, quando tinha material para conquistar mais uma pole-position, não foi além de terceiro, atrás de Hamilton e Pérez.
Contudo, o holandês resolveu a questão no arranque, ascendendo a primeiro na primeira curva e seguiu para uma vitória incontestável.
Hamilton tentou acompanhar o piloto da Red Bull e chegou mesmo a aproximar-se deste, mas quando tentava dobrar George Russell, na Tosa, seguiu em frente para a escapatória, danificando a asa dianteira do seu Mercedes.
Após uma morosa manobra para voltar à pista, regressou às boxes para reparações, perdendo uma volta em todo o processo. Porém, atrás de si, Russell e Valtteri Bottas se envolviam-se num acidente a alta velocidade, obrigando ao aparecimento das bandeiras vermelhas.
Com a interrupção, Hamilton pôde recuperar a volta que tinha de atraso e, com o seu carro reparado e o pelotão reagrupado, subiu a segundo, a posição em que estava antes do seu atabalhoado erro.
A sorte esteve do lado do inglês e, num fim-de-semana em que poderia ter perdido facilmente onze pontos, dificilmente iria além de sétimo sem a fortuna que o bafejou, limitou os estragos num fim-de-semana em que Verstappen era mais forte.
Portugal – Pequenos erros de Verstappen (1 ponto perdido)
Em Portugal Verstappen sentiu alguns problemas com os limites da pista.
Primeiro foi na qualificação, marcando um tempo que lhe daria a pole-position, mas perdendo o registo devido a não ter respeitado os limites da pista. Isso valeu-lhe arrancar de terceiro em vez da cabeça do pelotão.
Na corrida, sem argumentos para Hamilton, que venceu, o holandês conseguiu um bom segundo lugar, mas perdeu a volta mais rápida e o ponto correspondente, por ter, uma vez mais, violado os limites da pista.
Foram erros ligeiros, mas com um impacto pontual de um ponto.
Azerbaijão – erros de ambos, mas Hamilton perde oportunidade (18 pontos perdidos por Hamilton)
A Red Bull estava um claro passo à frente da Mercedes em Baku, mas Verstappen ainda criou alguma dificuldade para a equipa, ao se despistar na terceira sessão de treinos-livres.
A formação de Milton Keynes não teve dificuldades em recuperar o carro para a qualificação, mas a falha do holandês poderá ter tido impacto na sessão que definiu a grelha de partida, não indo além de terceiro, quando a pole-position estava claramente ao seu alcance.
No entanto, na corrida Verstappen ditou a sua lei e, sem o rebentamento do seu pneu traseiro esquerdo, dificilmente não venceria.
Hamilton, por seu lado, não tinha como contrariar o ascendente dos homens da Red Bull, mas com os problemas de Verstappen, teve até uma possibilidade de vencer. Contudo, quando atacou o comando de Pérez na primeira travagem da segunda partida, seguiu em frente, caindo para fora dos pontos.
O inglês não cometeu um erro de pilotagem “per se”, tendo carregado inadvertidamente num botão que passou 90% da capacidade de travagem para o eixo dianteiro, o que o deixou sem performance de travagem.
É evidente que Hamilton cometeu um erro, ao tocar no botão, mas a maior parte da responsabilidade terá de ser alocada à Mercedes que não teve o cuidado necessário no design do volante do W12.
Desta forma, Hamilton perdeu, no mínimo dezoito pontos.