GP do Azerbaijão de F1: Pérez triunfa em tarde de oportunidades perdidas
Sergio Pérez venceu a sua primeira corrida pela Red Bull, numa prova dramática que viu os líderes tropeçar. Tanto Lewis Hamilton como Max Verstappen ficaram a zeros, desperdiçando a oportunidade de ganhar vantagem.
Depois de Monte Carlo esperava-se um reação da Mercedes, mas acabou por ter um Grande Prémio do Azerbaijão decepcionante, ao passo que Max Verstappen viu uma oportunidade dilatar a sua vantagem no Campeonato de Pilotos esfumar-se com um pneu rebentado. Sérgio Pérez acabou por conquistar a sua primeira vitória com a Red Bull cumprindo com aquilo que a equipa espera dele.
Muito embora fosse também um circuito citadino, Baku parecia ser o palco ideal para que os “Flechas Negras” pudessem regressar às boas prestações, dadas as longas rectas que caracterizam o traçado azeri, mas assim que os carros entraram em pista, os problemas do W12 pareciam exacerbados, sentindo Lewis Hamilton e Valtteri Bottas dificuldades em colocar os pneus da gama mais macia da Pirelli na janela correcta de temperatura.
Do lado da Red Bull, tudo corria de feição, estando Max Verstappen e Sérgio Pérez particularmente à-vontade nas ruas de Baku, notando-se uma subida de forma da parte do mexicano, que ainda não se sentira completamente adaptado aos comandos da sua nova montada.
Após a terceira sessão de treinos-livres, os pilotos da formação de Milton Keynes eram os principais candidatos à pole-position com adversários improváveis, mas incómodos na Ferrari e no Alpha Tauri de Pierre Gasly.
Do lado da Mercedes, verificava-se uma subida de forma da parte de Lewis Hamilton, ao passo que Valtteri Bottas continuava no inferno sem conseguir fazer com que os pneus do seu monolugar funcionassem corretamente, parecendo ter de se empenhar para ascender à Q3.
Para estas performances díspares poderá ter contribuído a configuração dos dois carros – o inglês montava no seu W12 uma asa traseira que gerava mais apoio aerodinâmico que a do finlandês.
Com a sua opção, Hamilton conseguia aquecer os pneus de uma forma mais eficaz e, em qualificação poderia contar com o cone de ar do seu colega de equipa, uma vez que era a vez do inglês escolher quem sairia primeiro para a pista durante a qualificação e, claro, que apontara o finlandês.
No entanto, a sessão que definiria a grelha de partida para o quarto Grande Prémio do Azerbaijão seria polvilhada de bandeiras vermelhas – Lance Stroll, Antonio Giovinazzi, Daniel Ricciardo, Yuki Tsunoda e Carlos Sainz travaram um desagradável conhecimento com as barreiras azeris, provocando quatro interrupções – o que dificultou que todos os pilotos conseguissem encontrar um bom ritmo de evolução ao longo da qualificação, apanhando alguns desprevenidos.
Valtteri Bottas conseguia ascender à Q3, mas não ia além de décimo, mas o seu cone de aspiração ajudava Lewis Hamilton a guindar-se a segundo, perdendo apenas para Charles Leclerc, que pela segunda vez consecutiva colocava um Ferrari na pole-position.
A Red Bull era a grande decepção, com Max Verstappen a quedar-se pelo terceiro posto, ao passo que Sérgio Pérez arrancava apenas da sexta posição, depois da penalização de três lugares na grelha de partida de Lando Norris, por ter infringido as regras das bandeiras vermelhas.
Subitamente, quando era esperado um ascendente por parte dos Red Bull, estes viam-se em desvantagem para a corrida de cinquenta e uma voltas, muito embora Baku oferecesse boas possibilidades para ultrapassar.
Os três primeiros mantiveram as suas posições no arranque, ao passo que Sérgio Pérez mostrava que não estava no Azerbaijão, onde já conquistara dois pódios, para desempenhar um mero papel de figurante, ascendendo a quarto durante a primeira volta.
Mas tal como esperado, o Ferrari SF21 de Leclerc, em corrida, não apresentava andamento para os três pilotos que rodavam no seu encalço e, no final da segunda volta, quando teve de recorrer a uma escapatória para evitar um ramo de uma árvore que estava em pista, levantou o pé, para não ser considerado ter ganho vantagem pela sua opção, deixando-o exposto ao ataque de Hamilton, que ascendeu ao comando na recta da meta.
O monegasco era suplantado por Verstappen e Pérez até à sétima volta, deixando os Red Bull e o inglês da Mercedes na luta pela vitória.
Inesperadamente, o Campeão do Mundo liderava a corrida seguido dos dois pilotos da equipa de bandeira austríaca, mas nunca conseguiu abrir uma vantagem confortável para os seus perseguidores.
Parecia até que Verstappen, que rodava a cerca de um segundo do líder, e Pérez, a pouco mais de um segundo do seu colega de equipa, estavam na expectativa para perceber quando Hamilton entraria nas boxes.
O inglês parava na décima primeira volta e os homens da Red Bull rapidamente aumentavam o seu ritmo, rodando em tempos que se mostraram inalcançáveis para o piloto da Mercedes.
Para dificultar a vida de Hamilton, quando se preparava para deixar as boxes, teve de esperar que Pierre Gasly passasse no pit-lane, perdendo mais dois segundos parado.
Não foi determinante para que cedesse a sua posição a Verstappen, quando este parou na volta seguinte, mas ajudou à causa do holandês que deixou as boxes à frente do inglês.
Sérgio Pérez parou duas voltas depois, mas com um andamento infernal, nem uma paragem mais longa, cerca de quatro segundos, o impediu de saltar para a frente do piloto da Mercedes.
Com quatorze voltas completadas, e com todos os pilotos da frente com pneus duros para ir até à bandeira de xadrez, a Red Bull estava no controlo da corrida, caminhando para uma operação perfeita no que diz respeito aos dois campeonatos.
Nem o Safety-Car provocado pelo rebentamento do pneu traseiro – esquerdo de Lance Stroll, quando estavam completadas trinta voltas, fez tremer Verstappen e Pérez.
No recomeço, seis voltas depois, não ofereceram qualquer veleidade a Hamilton que, muito embora conseguisse manter o mexicano no seu horizonte, não era uma verdadeira ameaça ao domínio dos homens da formação de Milton Keynes.
Na quadragésima quinta volta, o inglês estava já a mais de cinco segundos do holandês, muito embora conseguisse manter-se a pouco mais de um segundo de Pérez.
Porém, na volta seguinte, o “céu caía em cima da cabeça da Red Bull” – Verstappen sofria uma falha em tudo semelhante à de Stroll, abandonando com frustração de encontro às barreiras de protecção da recta da meta.
Num dia em que poderia ganhar dez pontos a Hamilton, estendendo a sua vantagem no Campeonato de Pilotos, o holandês desistia, ficando sob a perspectiva de perder a liderança e ficar com um déficit de catorze pontos. Um desfecho difícil de digerir num circuito em que a Red Bull estava claramente um passo à frente da concorrência e a Mercedes estava em dificuldades.
A Pirelli voltava a estar sob forte escrutínio, apontando a Red Bull que eram os pneus que estavam a falhar.
No entanto, já após a corrida, a companhia transalpina revelava, após uma análise preliminar, que as falhas nos seus pneus se deviam a factores externos e não a uma falha deles, sublinhando que encontrara no pneu traseiro – esquerdo de Hamilton um corte consistente com as falhas sofridas por Stroll e Verstappen.
No entanto, com a corrida parada devido a bandeiras vermelhas, havia ainda duas voltas para disputar e a situação do holandês poderia ainda agravar-se mais, caso Hamilton conseguisse desfeitear Pérez e com uma partida clássica – com os carros parados na grelha de partida – essa possibilidade não era negligenciável.
Para a segunda parte da prova todos os pilotos estavam com pneus macios e, com as temperaturas do ambiente e da pista a descerem, colocar os pneus e os travões na temperatura correcta seria fundamental para o arranque.
O piloto da Mercedes trabalhou bem nesta área, ajudado pelas borrachas mais macias, e os travões apresentavam-se visivelmente quentes, com fumo a sair das jantes do W12. O Campeão do Mundo reagiu bem, ao passo que Pérez não tinha tracção, chegando os dois lado a lado à travagem para a primeira curva.
Parecia que Hamilton conseguiria infligir mais uma derrota à Red Bull, mas durante o arranque, tocara inadvertidamente num botão que passara toda a travagem para o eixo dianteiro e, quando pressionou o pedal dos travões, bloqueou os dois pneus anteriores, seguindo disparado para a escapatória.
De um momento para o outro, o inglês deixava de aspirar ao triunfo, para cair para último, cruzando a linha de meta em décimo quinto e penúltimo, depois de uma penalização de Nicholas Latifi.
Para compor o péssimo fim-de-semana da Mercedes, Valtteri Bottas tinha uma tarde deprimente, rodando consistentemente fora dos pontos para terminar num longínquo décimo segundo posto, saindo a equipa do construtor germânico de Baku sem qualquer ponto.
Com a falha de Hamilton, Pérez ficava com o caminho livre para conquistar a sua primeira vitória da temporada e ao serviço da Red Bull, apesar de um problema hidráulico criar algum alarme na formação de Milton Keynes, que instruiu que o seu piloto parasse apenas trezentos metros após a linha de meta.
O mexicano mostrou que está cada vez mais ambientado à sua montada e fez exactamente o que a equipa espera dele, garantir resultados sempre que Verstappen encontra problemas e roubar pontos à Mercedes.
No final, Christian Horner e os seus homens suspiravam de alívio, era um piloto da Red Bull que estava no degrau mais alto do pódio e Hamilton não pontuava, mas numa luta pelo título tão disputada, a vitória perdida por Verstappen, sem culpa própria, poderá ser determinante no final do ano.
O mesmo sentimento deverá fazer-se sentir entre os responsáveis da Mercedes, que perderam, pelo menos, dezoito pontos devido a um toque inadvertido no botão errado no volante do W12 número quarente e quatro. Em dezembro ver-se-á a quem mais custará o Grande Prémio do Azerbaijão deste ano…
FIGURA
Sebastian Vettel
O piloto alemão teve um início de temporada bastante difícil, mas tem vindo a subir de forma, como o prova a sua prestação no Mónaco, e em Baku foi ainda mais além.
Vettel foi prejudicado pelos incidentes da qualificação, que o impediram de ir até à Q3, mas na corrida, com um longo primeiro “stint”, colocou-se em contenção por uma posição no top-5. Com os problemas de Verstappen e Hamilton, ficou em situação de ir até ao pódio, no segundo lugar.
O piloto da Aston Martin mostrou ritmo, consistência e agressividade nas lutas corpo a corpo, como ficou bem patente nas batalhas que protagonizou com Leclerc e Gasly.
MOMENTO
45º volta
Max Verstappen não esteve ao seu melhor nível no sábado, despistando-se nos treinos-livres e ficando aquém do esperado na qualificação, com o terceiro posto, mas na corrida esteve irrepreensível.
Chegou ao comando e parecia estar na rota do seu terceiro triunfo da temporada, o que lhe permitiria alargar a sua vantagem no Campeonato de Pilotos.
No entanto, um pneu traseiro – esquerdo do seu Red Bull cedeu no final da quadragésima quinta volta, lançando-o para um despiste a alta velocidade e para o abandono.
Sérgio Pérez, que deu um salto qualitativo em Baku, como a sua equipa desejava, estava no sítio certo para herdar a vitória do seu colega de equipa, beneficiando ainda dos problemas de Lewis Hamilton para conquistar o seu segundo triunfo na Fórmula 1.