WTCR, Tiago Monteiro: “Talvez tenha sido dos anos que evoluímos mais no TCR”

Por a 29 Maio 2021 10:45

O WTCR está prestes a começar e o AutoSport falou com Tiago Monteiro, estrela portuguesa da Taça do Mundo de Turismos da FIA.

Tiago Monteiro teve um 2020 difícil. O seu regresso a tempo inteiro não correu como desejava, com um problema no seu Civic a complicar irremediavelmente as contas do título. Para este ano a motivação está em alta, apesar da concorrência que se espera forte:

“2020 não foi o que eu esperava. Estou sempre disposto a fazer o jogo de equipa, mas prefiro quando o jogo de equipa é a meu favor. Mas a minha relação com a Honda já tem 10 anos e eu dedico-me ao máximo à minha equipa. 

Tivemos grandes problemas de motor desde a primeira corrida e só no terceiro fim de semana na Hungria, é que fizemos a troca e foi nessa altura que consegui o meu primeiro pódio. Deveríamos ter mudado o motor mais cedo, mas tal não foi possível por motivos técnicos. Mas isso complicou logo as contas do campeonato, com poucos pontos conquistados nas primeiras corridas e fez com que eu tivesse de passar a ajudar quem estava mais à frente. Não foi o regresso a tempo inteiro que queria e apesar de ter a convicção que tinha a performance para ser bem sucedido, não tive carro no início e depois faltaram-me os pontos para estar bem posicionado para a luta pelo título. 

A ideia este ano é alterar isso desde o início. Tivemos uma pré-temporada muito menos intensa do que estava previsto, no entanto os poucos dias que tivemos em pista foram muito bons e os updates são bons. Estamos com muita motivação e alguma confiança de que possa tudo correr bem. 

É importante realçar no entanto que estamos em luta com equipas muito fortes, especialmente a Lynk & Co e a Hyundai e este ano temos também a Audi e a Cupra com carros novos e muito reforçadas pelo que há ainda algumas incógnitas que só serão respondidas no começo do campeonato. Sabemos que evoluímos bem e talvez tenha sido dos anos que evoluímos mais no TCR, mas é evidente que as outras equipas não ficaram paradas. Mas vamos dar tudo por tudo e ver o que é possível fazer.”

Quanto às novas máquinas, ainda é cedo para ter certezas e só as lutas em pista poderão permitir uma avaliação mais ponderada, mas o certo é que os carros da nova geração serão certamente competitivos:

“Tenho algum feedback de outros pilotos, mas não sabemos ao certo o que esperar das outras equipas pois não temos nenhuma comparação direta. A única coisa que  sabemos é que ninguém faz um carro novo que seja mais lento. Mas, do que tenho lido e do que vou sabendo de outros pilotos, já temos uma noção de que os novos carros são um passo em frente muito grande, o que por um lado pode ser algo preocupante. A outra questão é que só vamos começar a saber ao certo as diferenças no Estoril, pois Nurburgring é uma pista tão específica e é uma prova tão atípica que mesmo com um carro menos performante as coisas podem até correr bem, pelo que não dá para fazer comparações “ 

Quanto ao trabalho feito no Civic, houve melhorias a nível aerodinâmico e a nível de chassis:

“As evoluções deste ano foram feitas ao nível da aerodinâmica e chassis. Temos uma frente com um facelift, mas que também sofreu evoluções ao nível da aerodinâmica, que permitem mais apoio à frente, tal como a asa traseira que foi repensada para diminuir o arrasto. E depois temos muitas alterações à frente e atrás ao nível da geometria do carro.”

Os pneus Goodyear que foram estreados no ano passado ainda dão dores de cabeça aos engenheiros e aos pilotos, pelo que será um fator a ter em conta neste arranque de época:

“A diferença dos pneus novos em relação ao que tínhamos foi grande, continua a ser e poderá ser uma dificuldade acrescida  para nós que andamos pouco este inverno. Queríamos ter testado os pneus novos para estar mais preparados para a qualificação, que é fundamental neste campeonato. É possível ultrapassar sim, mas largando de décimo, dificilmente se chega a primeiro, pois as lutas são renhidas, o nível de pilotos é muito semelhante, pelo que não permite grandes recuperações. Por isso é preciso arrancar no top 5 para ter uma hipótese de ganhar. Os pneus trabalham de uma forma diferente e a abordagem para a qualificação tem de ser forçosamente diferente, assim como para a corrida. É bom para a competição, mas é preciso conhecê-los também e não estamos ainda ao nível que gostaríamos nesse aspeto.”

O novo combustível não é motivo de preocupação para pilotos ou equipas: 

“Quanto ao combustível novo, para nós não traz grandes diferenças. Há obviamente algum trabalho que é feito ao nível do ECU mas tirando isso, não é nada que nos afete. “

Uma das grandes ausências deste ano no calendário é Vila Real. A pandemia não permite ainda que a festa transmontana aconteça o que deixa Monteiro duplamente triste, apesar da consolação de poder continuar a correr “em casa”: 

“Para mim correr em casa é o mais importante sem dúvida, agora Vila Real é Vila Real. A euforia e a paixão que se vive lá é outra coisa. Sou muito bem recebido lá, tal como sempre fui no Estoril e em Portimão, mas a paixão e a festa fazem de Vila Real uma corrida diferente e especial. A grande questão é que tanto eu como a Honda nos damos muito bem nos circuitos citadinos. Nos citadinos consigo estar sempre na luta pela vitória e também o nosso carro funciona muito bem nesse tipo de pista, quando o piso é irregular, quando é preciso atacar mais os corretores. Isso dá-me uma certa confiança e sinto-me bem, o que me permite lutar pelos melhores lugares. Seja Marraquexe, seja Vila Real seja Macau, são pistas onde me dou bem e onde estamos sempre na frente, mas infelizmente a pandemia tem-nos retirado essa vantagem. Marraquexe há dois anos que não há, Vila Real vai ser o mesmo, Macau está agendado mas vamos ver se vai ser possível realizar a prova, por isso faz-nos muita diferença não ir a essas pistas.”

A meta está traçada para este ano. Começar o melhor possível e estar o melhor classificado nas primeiras provas para poder ser o “ponta de lança” na luta pelo título:

“O objetivo nesta primeira fase é tentar ganhar corridas, arrecadar o maior número de pontos possível, embora haja um pouco de jogo estratégico, porque ganhar muito nas primeiras traz handicaps ao nível do peso aplicado nos carros, que não são bons para o resto da época e é por isso que vimos as equipas que venceram nos últimos anos a começar de forma menos exuberante, mas foram gerindo o peso ao longo do ano. Quero estar o melhor classificado e lutar pelos melhores lugares.”

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