F1: Red Bull começa bem, mas Mercedes recupera

Por a 19 Maio 2021 14:06

Com quatro Grandes Prémios realizados existem já dados suficientes para fazer uma primeira análise à competitividade relativa de cada uma das equipas e, para já, podemos concluir que a grande perdedora é a Mercedes, mas os homens de Brackley estão a inverter essa tendência inicial.

Para podermos compreender e comparar a performance entre todos os carros do Campeonato do Mundo de Fórmula 1, convertemos a melhor volta realizada por cada um deles ao longo de um fim-de-semana em percentagem, utilizando o Mercedes W12 como a bitola, sendo, portanto, as marcas realizadas pelo monolugar de Brackley convertidas sempre em 100%, divergindo as dos outros automóveis – se for superior a 100%, significa que são mais lentos; se for inferior, são mais rápidos.

De grosso modo, após quatro eventos, podemos confirmar com segurança que houve uma aproximação generalizada ao monolugar da Mercedes.

O ano passado, a equipa de Brackley gozava de uma vantagem de 1,798% para as suas perseguidoras, ao que este ano exibe 1,270%, o que corresponde a uma aproximação da 0,528%.

Pode parecer uma recuperação ténue, mas representa quase 1/3 da vantagem da Mercedes erodida num Inverno, para além disso, se levarmos em consideração que em 2020 a Red Bull apresentava uma desvantagem de 0,685% para o monolugar do construtor de Estugarda, rapidamente percebemos que os números mostram o mesmo que a pista – os carros das duas equipas mais fortes do plantel têm um potencial muito semelhante.

Podemos igualmente concluir que após três quatro primeiros existem três níveis de competitividade – o primeiro ocupado pela Mercedes e Red Bull, o segundo por todas as restantes equipas, excepto a Haas, que está claramente no terceiro – e é olhando para cada um destes estágios que vamos realizar uma análise mais aprofundada à competitividade do pelotão de 2021 do Campeonato do Mundo de Fórmula 1.

A luta pelo título

Após os testes de Inverno, a Red Bull era a grande favorita à glória nas primeiras corridas da temporada deste ano, dadas as dificuldades que tanto Lewis Hamilton como Valtteri Bottas sentiam aos comandos do Mercedes W12.

As superiores capacidades dos homens de Brackley permitiu que a equipa se apresentasse no Grande Prémio do Bahrein, o primeiro da época deste ano, num bom nível competitivo, ainda assim, em Sakhir foi Max Verstappen que conquistou a pole-position, o que permitiu à Red Bull exibir uma vantagem competitiva de 0,434%.

Com um carro que se mostrava muito nervoso, a Mercedes foi progredindo, e em Imola tinha já um monolugar muito próximo do da sua rival, o suficiente para poder beneficiar dos erros dos pilotos da formação de Milton Keynes, o que aconteceu tanto no circuito italiano, com Sérgio Pérez e e Verstappen a cometerem erros grosseiros que os impediram de alcançar a “pole”, como em Portugal, quando o holandês viu a volta que seria a mais rápida do fim-de-semana ser-lhe apagada por ter violado os limites da pista.

No entanto, em Espanha a Mercedes era de facto ligeiramente superior e Hamilton fez gozo disso, sendo o mais rápido em qualificação, ainda que por pequena margem.

Esta teoria é consubstanciada pela comparação entre o Grande Prémio do Bahrein, o primeiro, e o Grande Prémio de Espanha, dois circuitos que as equipas conhecem bem, ao contrário de Imola e do Algarve, que mantiveram alguma consistência climatérica.

Em Sakhir a Mercedes tinha uma desvantagem de 0,434% para a Red Bull, ao passo que em Barcelona apresentava uma ligeira superioridade de 0,047% – uma recuperação de 0,481% – o que é consistente com evolução que apresentou para as restantes equipas entre as duas provas – 0,386% – muito embora demonstre que nem sempre a equipa de Milton Keynes está a tirar o máximo de partido do seu monolugar.

Este é um dos pontos a sublinhar, a supremacia de uma ou outra equipa foi e será dependente do circuito, mas com margens tao curtas, entramos no campo em que os pilotos e as decisões das equipas ao longo dos fins-de-semana fazem a diferença.

Isto tem sido tão evidente em qualificação, em que a Red Bull perdeu duas “poles” que deveriam ser suas, como em corrida, em que se viu batida estrategicamente pela Mercedes em mais que uma ocasião, sobretudo no Bahrein, vendo vitórias fugirem-lhe por entre os dedos.

Em corrida o W12 tem mostrado uma capacidade mais eficaz de gerir bem os pneus, sobretudo quando as borrachas mais duras da gama da Pirelli estão em equação, o que aconteceu em Portugal e em Espanha, e isso tem sido também um bom trunfo do lado dos homens de Brackley.

Seja como for, e apesar de todos os números, Hamilton está a um nível elevadíssimo, sendo impressionante como mantém ritmos de cortar a respiração sem cometer erros, à parte do de Imola, e neste momento ele tem sido o elo fundamental para que tanto a Mercedes como o inglês estejam no comando dos campeonatos.

O Segundo Pelotão aproxima-se

Se à frente existe uma luta intensa pela primazia, no Segundo Pelotão a batalha não é menos acirrada, sendo a McLaren e a Ferrari as grandes protagonistas, que fazem parte de um grupo que envolve ainda mais cinco equipas – Alpine, AlphaTauri, Aston Martin, Williams e Alfa Romeo.

Antes de mais, pôde-se verificar uma aproximação generalizada do segundo pelotão às duas equipas da frente, verificando-se este ano uma diferença de performance de 1,412%, uma redução de 0,525% relativamente a 2020 – 1,937%.

Esta a aproximação tem em parte a ver com o natural processo de encolhimento das diferenças do pelotão à medida que um conjunto de regras vai amadurecendo – para este ano o regulamento teve alterações de pormenor – mas por outro lado, tem também como origem o mau início de temporada da Mercedes, verificando-se um aumento da distância entre esta e as formações do Segundo Pelotão sobretudo a partir do Grande Prémio de Espanha, quando os carros de Brackley se mostraram verdadeiramente os melhores em pista – a Ferrari perdia 0,328% em Sakhir para perder já 1,002% em Barcelona.

Este aumento do fosso poderá estar relacionado com o ritmo de desenvolvimento das duas equipas da frente, que envolvidas na luta pelos títulos, não podem deixar de evoluir os seus carros, ao passo que as restantes, com as limitações actuais, estarão mais interessadas em colocar o foco no projecto de 2020, quando haverá um “reset” regulamentar, o que poderá apresentar oportunidades para apanhar a Mercedes e a Red Bull.

A Ferrari e a McLaren são duas das equipas que mais anseiam por esse salto competitivo, até porque são hoje quem lidera o Segundo Pelotão.

Depois do “annus horribilis” de 2020 a “Scuderia” conseguiu dar a volta e foi das equipas que maior evolução competitiva patenteou do ano passado para este – 0,737%, um registo apenas suplantado pela Alfa Romeo, 0,946% e pela Williams 1,050%.

Este salto permite à formação de Maranello estar em liça com a sua velha rival McLaren pela liderança atrás das duas grandes.

A evolução destas duas equipas é particularmente impressionante, uma vez que a Ferrari deu a volta a uma situação muito complicada e a estrutura de Woking evoluiu acima da média do Segundo Pelotão – 0,525%, viu a sua competitividade crescer em 0,622% – num Inverno em que basicamente os carros são os mesmos do ano passado.

Este duo tem vindo a lutar pelas honras dos “melhores dos restantes”, tendo a McLaren levado a melhor em corrida, excepto em Espanha, ao passo que a “Scuderia” tem sido mais forte em qualificação, mas neste exercício, provavelmente, terá sido Charles Leclerc a suplantar as limitações do seu monolugar, o que não aconteceu no Algarve.

A AlphaTauri começou a época muito próxima destas duas equipas, mas nunca conseguiu concretizar a sua performance em resultados devido a erros dos seus pilotos e a falhas estratégicas dos homens de Faenza.

Contudo, em Barcelona mostrou-se já bastante distante de Ferrari e McLaren, vendo-se definitivamente suplantada pela Alpine.

A formação do construtor gaulês começou a temporada em dificuldades, depois de, durante o Inverno, ter encontrado problemas de correlação entre as suas ferramentas de simulação e a realidade.

No entanto, os homens de Enstone parecem ter encontrado uma solução e conseguiram compreender o A521, o que é consubstanciado pela consistência da sua distância competitiva para a Mercedes, apesar de esta ter dado um claro passo em frente a partir do Grande Prémio de Portugal.

A consistência da evolução da Alpine, em linha com a da equipa de Brackey, permite-lhe agora em qualificação estar na luta com Ferrari e McLaren, perdendo nas corridas, onde a sua capacidade estratégica não tem estado ao nível destas duas.

Atrás destas quatro equipas, que habitualmente têm, pelo menos, um representante na Q3 e que figuram com frequência nos pontos, vem a Aston Martin, que se pode considerar a grande deceção da temporada, até agora.

A formação de Silverstone, depois de em 2020 se mostrar consistentemente a terceira força em pista, esperava voltar a lutar pelos melhores lugares atrás de Red Bull e Mercedes. No entanto, protagonizou uma queda abrupta de competitividade, uma vez que perdeu 0,128% de performance para a Mercedes durante o Inverno, ao passo que o restante Segundo Pelotão se aproximou 0,525% da equipa que tem dominado a Fórmula 1 desde há longos anos.

A narrativa dos homens da estrutura que enverga as cores do construtor inglês passa por apontar a mudança regulamentar como causadora desta situação, uma vez que, no seu entender, prejudicou mais as equipas com carros de “low-rake” – ou seja o Mercedes e o Racing Point/Aston Martin – mas parece haver mais que isso nesta quebra de performance.

Para além disso, não se tem verificado uma evolução da parte do AMR21 que na verdade, tem vindo a perder competitividade, não conseguindo replicar o que a Alpine está a fazer, que tem conseguido manter uma diferença estável para a Mercedes, ao contrário das restantes equipas, que estão em perda.

Este nível competitivo tem deixado Lance Stroll e Sebastian Vettel expostos aos Alfa Romeo e aos Williams, o que já significou eliminações na Q1 tanto para o canadiano como para o germânico.

Estas duas equipas assinaram os dois maiores saltos competitivos do Inverno, o que lhes permitiu deixar fundo do pelotão, onde agora permanece sozinha a Haas, e ascender à cauda do grupo que tem capacidade para marcar pontos.

O Alfa Romeo é o carro mais consistente dos dois, sendo o Williams beneficiado pelas extraordinárias performances de George Russell nas tardes de sábado, elevando o FW43B a posições a que não deveria ter acesso.

Até agora nem uma nem outra conseguiu terminar entre os dez primeiros – a Alfa Romeo terminou em Imola, mas Kimi Raikkonen seria penalizado posteriormente, ficando fora dos pontos – mas nas circunstâncias certas poderão abrir a sua contagem e terminar a temporada com um pecúlio interessante.

Sem qualquer evolução entre o seu monolugar do ano passado e o deste – limitou-se a adaptar o VF-20 ao novo regulamento – é com naturalidade que a Haas figure no fundo do pelotão.

Parar na Fórmula 1 é o mesmo que andar para trás, estando a formação de bandeira americana destacada na última posição da tabela de performance, a 1,234% da Alfa Romeo, que conta também com unidades de potência Ferrari.

A Haas perdeu 0,217% de prestações relativamente a 2020, o que apesar de tudo compara bem com a perda da Aston Martin, 0,129%, que desenvolveu intensamente o seu monolugar deste ano, mas ganhou apenas 0,088% à equipa que habita presentemente no final da grelha de partida.

O carro não é tudo

Face a estes números, compreende-se que a Mercedes começou mal a temporada, com um carro claramente inferior ao Red Bull, mas nem por isso deixou de infligir pesadas derrotas à sua rival, depreendendo-se daqui que ter um monolugar competitivo é importante, mas não é decisivo para ganhar títulos.

A Ferrari percebeu isso em 2017 e 2018, quanto tinha um automóvel, no mínimo, ao nível da Mercedes, e agora a Red Bull está a sentir o mesmo.

Num ano em que gestão dos recursos entre o projecto deste ano e do de 2021 será um equilíbrio difícil, sobretudo, para as equipas que lutam pelo título, a forma como cada uma das equipas desenvolver o seu monolugar será determinante, mas será a capacidade de evitar erros e maximizar o potencial que levará uma combinação aos títulos deste ano.

Para já, Hamilton tem cometido menos erros, muito embora em Imola tenha tido a sorte do seu lado, que Verstappen e a Mercedes tem sido mais eficaz na execução das corridas que a Red Bull.

Fica por saber se o holandês e a formação de Milton Keynes têm a capacidade para se elevarem ao nível dos seus adversários…

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