GP de Espanha de F1: Hamilton e Mercedes vergam Verstappen
Max Verstappen liderou a maior parte do GP de Espanha, mas no final voltaria a ter de se vergar perante Lewis Hamilton que, com uma estratégia arrojada e uma pilotagem de exceção, conquistou o seu terceiro triunfo da temporada e alargou a sua vantagem na liderança do Campeonato de Pilotos para catorze pontos.
Depois da derrota no Grande Prémio de Portugal, em que a Mercedes esteve claramente um passo à frente, o holandês e a Red Bull precisavam de um triunfo com urgência para contrariar o ascendente dos seus rivais e deixar para trás os pequenos erros que foram cometendo, tanto em Sakhir como no Algarve.
O Circuit de Barcelona – Catalunya era o palco ideal para derrotar os ‘Flechas Negras’ que desde 2014 fizeram da pista espanhola a sua coutada, falhando apenas o triunfo em 2016, quando Hamilton e Nico Rosberg bateram logo na primeira volta.
As indicações de sexta-feira não eram más para a equipa de Milton Keynes, dado que, muito embora os Mercedes estivessem à frente, a diferença para os Red Bull não era substancial, o que dava esperança para a qualificação e corrida.
As elevadas temperaturas do asfalto espanhol jogavam a favor dos monolugares da formação de bandeira austríaca, mas em qualificação, enquanto Hamilton brilhava, Verstappen cometia um ligeiro erro no complexo das curvas 7 e 8, o que deixou o inglês no topo da tabela de tempos, conquistando a sua centésima pole-position na Fórmula 1 – um feito notável.
Uma vez mais, uma ligeira falha do lado do holandês e o heptacampeão mundial capitalizou de imediato.
No dia da corrida o céu de Barcelona encontrava-se forrado com nuvens – chegou mesmo a cair uns ligeiros pingos antes do início da prova de sessenta e seis voltas – o que significou uma redução na temperatura da pista, o que caía bem aos Mercedes, que tendencialmente sobreaquecem mais os pneus traseiros.
Num circuito em que as ultrapassagens não são fáceis, o arranque seria de grande importância e percebendo isso, Hamilton notou que a posição de Verstappen, que arrancava da zona suja da pista, tinha muita borracha, o que o poderia beneficiar na partida.
Os receios do inglês relevaram-se fundadas, dado que, com uma boa reação aos semáforos, o piloto da Red Bull conseguiu colocar-se em posição de atacar a liderança do homem da Mercedes.
Verstappen mostrou uma determinação de ferro na abordagem à primeira travagem, obrigando Hamilton a levantar o pé para evitar um toque entre os dois. Valtteri Bottas tinha também de desacelerar, o que o deixou exposto a Charles Leclerc, que o ultrapassou por fora na Curva 3.
Por seu lado, Sérgio Pérez, que tinha sido prejudicado por uma dor no ombro na qualificação, conseguia subir de oitavo na grelha de partida a sexto no final da primeira volta.
O início da prova não correra da melhor forma à Mercedes, que via a possibilidade de controlar completamente a corrida evaporar-se em poucos metros num circuito em que posição em pista é tudo.
O holandês imprimiu um andamento fortíssimo e, na terceira volta, tinha quase dois segundos de vantagem para o seu perseguidor. Mas daí para a frente, a diferença estabilizou, sendo esta anulada quando o Safety-Car entrou em pista, na oitava volta, devido à paragem de Yuki Tsunoda na Curva 10, com problemas técnicos.
A corrida foi retomada pouco depois, na décima primeira volta, mas a partir de então Max Verstappen nunca mais se conseguiu afastar de Lewis Hamilton, sendo evidente que o inglês poderia ser mais rápido, se não tivesse o Red Bull à sua frente, mas ultrapassar o carro de Milton Keynes era um desafio completamente diferente e muito mais difícil.
Mercedes perfeita na estratégia
A estratégia seria determinante e com as equipas a tentarem fazer as sessenta e seis voltas do Grande Prémio apenas com uma paragem, o momento da troca de pneus seria determinante para o desfecho final.
Para que esta opção fosse levada a cabo com sucesso, a paragem nas boxes teria de ser realizada perto da trigésima volta, foi, portanto, com espanto que se verificou que Verstappen parava na vigésima quarta, curiosamente uma depois de Valtteri Bottas que pretendia realizar o “undercut” a Leclerc e assim ver-se livre do Ferrari, o que conseguiu.
Porém, a entrada nas boxes do holandês não fora planeada e devia-se a um erro de comunicação, não estando a equipa preparada para o receber, o que lhe custava mais dois segundos que uma normal paragem nas boxes da Red Bull, que normalmente ronda os dois segundos.
Parecia ser o momento ideal para que a Mercedes reagisse aos problemas da sua rival e chamasse Hamilton para a sua troca de pneus, passando assim para o comando, mas os homens da formação de Brackley deixaram escapar a oportunidade e o inglês iria às boxes apenas na vigésima sétima, o que lhe dava pneus mais frescos, mas ainda no segundo posto.
O heptacampeão mundial rapidamente encostou ao Red Bull e passou a pressionar o holandês, que, contudo, se mostrou imperturbável, parecendo ter meios para se defender de qualquer ataque lançado pelo seu perseguidor.
Frustrada por perceber que muito dificilmente conseguiria chegar ao comando, podendo até arriscar um incidente entre os dois pilotos, a Mercedes chamou Hamilton às boxes na quadragésima segunda volta.
A formação de Brackley dava uma pedrada no charco estratégico, assumindo uma estratégia de duas paragens, ficando por saber qual a reação da Red Bull.
A volta de saída de Hamilton não foi particularmente impressionante e, quando Verstappen estava na entrada para as boxes, tinha uma vantagem de 23,3s para o seu perseguidor, ao passo que uma troca de pneus em Barcelona custa cerca de vinte e dois segundos.
A Red Bull tinha, portanto, alguma margem para reagir e tentar manter a posição relativa, muito embora corresse o risco de apanhar Bottas, que, apesar do tempo perdido atrás Leclerc, colocava-se em posição estratégica na luta pela vitória.
Já Sérgio Pérez estava fora deste cenário, o que foi determinante para que não pudesse defender Verstappen e decisivo para que a Mercedes adotasse uma estratégia de duas paragens para Hamilton.
Com a opção da Red Bull em manter o seu piloto em pista, Lewis Hamilton, a vinte e três segundos da liderança e com Bottas pelo meio, tinha de adoptar um ritmo elevadíssimo e realizar duas ultrapassagens pelo caminho para conquistar o seu nonagésimo oitavo triunfo em Grandes Prémios.
O inglês mostrou um andamento impressionante e, muito embora Valtteri Bottas não se tenha mostrado muito simpático na ultrapassagem, apesar de a equipa lhe sugerir que deixasse passar o seu colega, continuou a sua cavalgada triunfal, encostando à traseira do Red Bull número trinta e três quando estavam completadas cinquenta e nove voltas, a sete da bandeira de xadrez.
A diferença de andamento era enorme e dificilmente Verstappen tinha como contrariar as investidas de Hamilton. No início da sexagésima volta, assistido pelo DRS, o inglês chegava à Curva 1 no comando, sem que o seu adversário nada pudesse fazer.
Daí para a frente nada travaria o piloto da Mercedes que conquistava a sua terceira vitória da temporada, após uma pilotagem notável e de uma estratégia da sua equipa que procurou uma solução para um problema que não parecia ser fácil de resolver em pista.
À Red Bull restava apenas chamar Verstappen à boxe, depois de a Mercedes ter feito o mesmo com Bottas, com o intuito de assinar a volta, o que conseguiu, mas foi uma magra consolação para um piloto que liderou a maior parte da corrida.
O carro da formação de Brackley mostrou-se ligeiramente mais rápido que o de Milton Keynes, mas, uma vez mais, esta foi batida na estratégia pela sua rival e, para isso, foi determinante a ausência de Pérez no xadrez da luta pelos lugares do pódio.
Numa temporada em que se antevê corridas decididas por pormenores, a Red Bull precisa que mexicano, que terminou em quinto, seja um factor estratégico consistentemente, só assim a formação de bandeira austríaca poderá rivalizar com máquina bem oleada que é a Mercedes e um piloto de eleição, como é Hamilton.
MOMENTO: 2ª paragem nas boxes de Hamilton
Quando a Mercedes chamou Hamilton às boxes pela segunda vez sabia que deixaria a Red Bull num dilema e as probabilidades de assumir o comando da corrida, de uma forma ou de outra, eram elevadas.
Sem que a sua rival tivesse reacção, a equipa de Brackley muniu o seu piloto dos meios para vencer o Grande Prémio de Espanha e este colocou em prática a estratégia delineada para si para conquistar a sua terceira vitória da temporada. Esta combinação, Mercedes – Hamilton, é fortíssima, como ficou demonstrado em Barcelona, e exigirá o melhor da Red Bull e de Verstappen se estes quiserem terminar o ano como Campeões.
FIGURA: Lewis Hamilton
A estratégia da Mercedes esteve a um altíssimo nível, mas para que fosse bem-sucedida, teria de ser executada por um grande piloto e para isso puderam contar com o heptacampeão mundial.
O inglês, pouco interessado em envolver-se em incidentes, evitou um toque com Verstappen logo na primeira curva, mas nunca deixou de mostrar que estava em Barcelona para vencer.
Quando parou nas boxes pela segunda vez, imprimiu um andamento infernal e sem erros, o que foi determinante para sua vitória.
São estas prestações que ganham campeonatos e Hamilton vai somando vitórias em circunstâncias que, aparentemente, não lhe são favoráveis.