F1: Um ano de ‘reagrupamento’ para Ferrari
Já todos sabemos que a Ferrari passou em 2020 pela sua pior campanha desde o longínquo ano de 1980, mas até onde poderá ir este ano? Poderá dar início à sua recuperação?
O sexto lugar no Campeonato de Construtores da passada temporada foi muito mau e afetou a dignidade dos homens da equipa de Maranello, mas pior que isso seria este ano a Scuderia não mostrar qualquer progressão e verificar-se um resultado semelhante e/ou uma falta de evolução técnica, o que deixaria a estrutura italiana numa crise de confiança.
A tarefa dos responsáveis da Ferrari não se afigura fácil, dado que, se a unidade de potência foi apontada como grande causadora dos problemas da equipa, também o chassis e a aerodinâmica do SF1000 demonstraram debilidades.
As questões com a aerodinâmica não são de agora e têm raízes na abordagem que a “Scuderia” tinha ainda há mais de dez anos, quando poderia testar sempre que desejasse na sua pista de Fiorano, ao passo que as restantes equipas, sem circuitos disponíveis a qualquer momento, apostaram nas ferramentas de simulação desde cedo, com foi o caso da McLaren que teve o seu primeiro simulador há mais de vinte anos.
Tem sido difícil à Ferrari recuperar o tempo perdido, mas parece que este ano poderá ter conseguido dar um salto, tendo tantos os pilotos como os técnicos de Maranello assegurado que o SF21 apresenta em pista os resultados que se verificaram no túnel de vento e no CFD, demonstrando que, finalmente, as ferramentas de simulação da equipa estão a funcionar.
A unidade de potência do construtor transalpino, por seu turno, é um passo em frente relativamente ao falhanço do ano passado, mas não permite à Ferrari regressar ao seu posto de líder da área, onde esteve entre 2017 e 2019.
Sem ter sido brilhante nos testes de Sakhir, o SF21 deu boas indicações e, sobretudo, descansou os homens de Maranello, uma vez que tudo que esperavam ver em pista acabou por se verificar, sendo, por isso, uma boa base de trabalho para a estratégia de desenvolvimento delineada para a temporada deste ano, que no entanto, deverá ser pouco extensa, dada a necessidade de colocar recursos no monolugar de 2022.
O SF21 é, inegavelmente, um passo em frente face ao SF1000, mas não parece estar ao abrigo da luta sem quartel a que se assistirá no segundo pelotão pelo terceiro lugar, podendo ser os pilotos a fazerem a diferença.
Mas aqui a Ferrari deverá estar mais forte que em 2020, depois de ter contratado Carlos Sainz para o lugar do desanimado e prostrado Sebastian Vettel.
O alemão marcou apenas trinta e três pontos ao longo da passada temporada, contra noventa e oito de Charles Leclerc, o que representa praticamente apenas um terço do “score” do seu colega de equipa.
Para dar uma ideia, caso Vettel marcasse noventa pontos, a Ferrari teria ficado em quarto lugar no Campeonato de Construtores (com os pontos que roubaria à Racing Point), isto com o sétimo carro mais competitivo do plantel.
É claro que Sainz passará por um período de adaptação, como o próprio apontou, mas vê-se no espanhol o desejo e a irrequietude de ir mais além, sentimentos que se mostraram afastados de Vettel ao longo de toda a temporada passada, o que garantirá os bons resultados ao longo da época que permitam à Ferrari jogar com dois carros, uma vez que de Charles Leclerc espera-se a continuidade do elevadíssimo nível que demonstrou o ano passado.
É inegável que a “Scuderia” está mais forte nesta área e, num campo de batalha que tem equipas formadas por Daniel Ricciardo e Lando Norris ou Fernando Alonso e Esteban Ocon, os pilotos farão a diferença na luta pelo terceiro lugar no Campeonato de Construtores.
Terminar a temporada atrás das Mercedes e da Red Bull daria a confiança necessária para que os homens de Maranello se lançassem para o regresso às grandes em 2022, com a introdução do novo regulamento técnico, mas, mesmo tendo melhores ferramentas em todas as áreas que no ano passado, para isso tudo terá de correr de uma forma quase perfeita.
Sainz e Leclerc precisam de aproveitar todas as oportunidades que se lhes atravessar à frente, mas esta é a questão onde existe menos dúvidas do lado de Maranello, que terá também de marcar uma progressão assinalável nas operações nas boxes, área onde em 2020 os mecânicos da “Scuderia” falharam consistentemente.
Também a estratégia de corrida terá de evoluir, uma vez que o ano passado ficou bem patente que os estrategas da Ferrari não estavam habituados a gerir uma corrida com tantos carros à volta dos seus monolugares, depois de anos e anos em que tiveram de monitorizar apenas os homens da Mercedes e da Red Bull.
Como se vê, a Scuderia tem de mostrar em progressão em todas as áreas se quiser ascender ao terceiro lugar do Campeonato de Construtores, nem sequer é para voltar a ser um dos “Três Grandes”, mas isso é mesmo o mais importante, a equipa sentir que está a evoluir depois dos problemas do ano passado e criar as bases de confiança para que a partir de 2022 possa regressar ao seu lugar. Mas se pódios poderão ser uma possibilidade, este ano os tifosi continuarão sem ver um piloto da Ferrari no degrau mais alto do pódio, se tudo correr dentro da normalidade.