Sérgio Ribeiro (Hyundai Portugal): “O potencial dos ralis é muitíssimo superior ao que existe hoje…”
Entrevista exclusiva com o CEO da Hyundai, Sérgio Ribeiro, líder to Team Hyundai Portugal, equipa que confirmou recentemente a presença no CPR 2021
O Team Hyundai Portugal confirmou a sua presença no Campeonato de Portugal de Ralis de 2021, o que sucede pelo quarto ano consecutivo. Bruno e Carlos Magalhães são novamente a dupla, que irá começar o campeonato com o atual Hyundai i20 R5, mas a meio da temporada conta com a chegada do novo Hyundai i20 N Rally2. Uma excelente oportunidade para falarmos com Sérgio Ribeiro, CEO da Hyundai Portugal, líder do Team Hyundai Portugal.
Está confirmado o projeto, naturalmente os objetivos apontam novamente para a conquista de vitórias e títulos?
Sim os nosso objetivos mantêm-se, nós desde que entrámos neste projeto dos ralis, sempre dissemos desde o início que estávamos cá para lutar pelas vitórias e isso não muda este ano, bem pelo contrário. E para além do dizer, foi comprovado, ganhámos o primeiro ano, fomos campeões nacionais, fizemos segundo e terceiro lugar no segundo, e segundo o ano passado, tendo estado sempre na luta pela vitória no campeonato. O ano passado, o campeonato foi muito estranho como toda a gente sabe, tivemos sempre a lutar pela vitória, fomos competitivos e este ano vai voltar a acontecer. Nós estamos a entrar no projeto para ser competitivos, e lutar pelas vitórias. O nosso objetivo é ser campeões nacionais.
O Bruno e o Carlos Magalhães têm obtido vitórias e lutado pelos campeonatos até ao fim. Era isto que esperava deles quando os contratou?
Nós no início deste nosso projeto do Team Hyundai Portugal, uma das primeiras pessoas com que falei foi com o Bruno. Na altura não foi possível chegarmos a um acordo porque estávamos em momentos diferentes, mas logo que foi possível, o Bruno entrou nos nossos planos. Ele ainda não conseguiu ser campeão connosco mas tem vencido provas, tem sido competitivo, tem lutado pelos campeonatos sempre até ao fim, há dois anos, até ao último troço ele podia ser campeão, no ano passado, estava na liderança do campeonato antes do que acabou por ser o último rali. Estava agendada outra prova onde iríamos lutar pelo campeonato, mas acabou por não acontecer. O Bruno tem na sua carreira títulos, tem dado mostras de enorme qualidade, temos plena confiança no Bruno, e estamos muito contentes por ele ser o nosso piloto.
Apesar de um ano de 2020 muito difícil para todos nos ralis em Portugal , acha que poderia ter sido feito mais, ou o esforço feito, em termos globais, é de enaltecer?
Acho que foi feito um esforço para continuar com os ralis tanto quanto possível, mas acho que se podia ter feito mais. Basta olhar para o que aconteceu noutros países que conseguiram fazer mais do que nós fizemos. Mesmo o próprio Rali do Algarve, poderia ter sido feito mais qualquer coisa, não se calhar na data que estava prevista, mas tendo preparado as coisas para cenários alternativos, de modo a poder ultrapassar, nomeadamente algumas questões colocadas por algumas Câmaras Municipais. Se tivesse havido plano B e C, se calhar poderíamos ter conseguido fazer o rali. Para responder diretamente à pergunta, acho que foi feito um esforço, penso que era difícil prever com antecedência tudo o que se podia planear, mas acho que se podia ter feito algo mais num ou noutro rali. Mas compreendo que se para nós foi uma ano difícil, também o foi para os clubes, federação, portanto não quero fazer disso um grande tema de discussão. Agora é pensar em 2021 e nos outros anos…
Quando esperam ter o Hyundai i20 N Rally2? O atual i20 R5 já parece um pouco ‘curto’ em pisos de terra…
Vamos ter o novo carro logo de início, logo que esteja homologado, Portugal será um dos países prioritários, com as boas relações que temos com a Hyundai MotorSport garantimos isso desde o início, e portanto essa é uma boa novidade para o público português, será dos primeiros carros em competição, será o nosso, do Team Hyundai Portugal, se for em julho, logo na prova seguinte, teremos o carro, e só não podemos dizer de forma absolutamente taxativa que será assim porque pode haver algum atraso, que não dependa de nós. Agora, o acordo que temos com a Hyundai é que o nosso será dos primeiros a competir. E estamos ansiosos que isso aconteça. Se os planos forem cumpridos, teremos meio campeonato com o carro atual e meio com o novo Hyundai i20 N Rally2.
Quanto ao carro atual ser mais, ou menos, competitivo em terra, nós já ganhámos ralis com este carro, fizemos vários segundos lugares o que quer dizer que fazendo vários segundos lugares, vários outros ficaram atrás de nós. A questão de ser competitivo ou não é sempre relativa.
Acho curioso quando nos perguntam se o carro é competitivo ou não. Nunca vejo perguntarem a quem fica em terceiro ou em quarto porque é que esse carro não é competitivo.
Já houve casos em que outros carros tiveram resultados maus e isso não foi posto em causa. Desde que a Hyundai entrou nunca tivemos uma desistência por motivos técnicos, zero, e portanto isto garante-nos fiabilidade e uma pontuação quase permanente. É preferível do que ter altos e baixos. Todos os carros têm pontos mais fortes e mais fracos. Nós estamos completamente tranquilos, tanto quanto ao Bruno como ao carro, é evidente que com uma nova geração temos expetativas de ter uma melhoria, é assim na Hyundai como é em outras marcas.
Mas também por isso é que era preciso garantir que quando o novo carros estivesse disponível éramos prioritários, e esse foi um aspeto importante porque, obviamente temos expetativas fundadas que o carro tenha grandes evoluções até porque é praticamente todo novo.
A Hyundai chegou em 2018 aos ralis, todos os anos foram aumentando a ligação da marca aos ralis. A pandemia colocou um travão: esperam ter a possibilidade de voltar ao caminho anterior?
Este ano eu diria que há duas grandes novidades. Com todas estas grandes dificuldades do desporto automóvel a única marca que está diretamente a apoiar os ralis continua a apoiar a modalidade. A segunda é que nós estamos a investir lançando o novo carro de forma prioritária. Nós poderíamos esperar para 2022, mas quisemos garantir que fossemos dos primeiros. Isto é uma prova inequívoca que nós queremos continuar a apoiar a modalidade. O que vai acontecer daqui a dois três ou quatro anos, não sei dizer, vai depender de muitas coisas, que possam acontecer até lá, como o campeonato vai evoluir, como a divulgação do desporto motorizado vai evoluir, etc. Cá estamos novamente, em força, continuamos a apoiar a modalidade dentro do que são as nossa possibilidades, como é evidente.
As marcas apostam no desporto motorizado para daí obterem retorno. Está contente com o retorno que os ralis têm dado à Hyundai, o que precisava dos ralis para que a decisão de dar sequência a um projeto fosse mais fácil?
Nós estamos contentes com o retorno que temos tido nos ralis. Achamos que o potencial dos ralis é muitíssimo grande, muitíssimo superior ao que existe hoje. Quem chegou de fora aos ralis, como nós, se calhar vê isso de forma mais evidente. Continuo a achar que os ralis são um desporto extraordinário, têm muitas pessoas que gostam muito dos ralis e acompanham os ralis. O espetáculo que é proporcionado é de elevadíssima qualidade. Temos, como se comprova pelos últimos anos, campeonatos todos decididos na última prova, há poucos desportos que têm isto, de forma, consecutiva, até a última prova não há nenhuma. Isto é um potencial que temos em mãos, enorme, eu continuo a achar que todos poderíamos tirar muito mais partido do que temos, agora temos que o saber fazer e saber capitalizá-lo.
No que nos diz respeito, também temos de contribuir para isso. Nós achamos que temos feito coisas diferentes, trazido uma nova dinâmica, dado uma pedrada no charco, e por isso é que estamos contentes porque vamos à procura da nossa notoriedade.
Se os demais ‘takeovers’ acompanhassem um pouco mais isto, todos nós iríamos beneficiar. Portanto eu acho que há um potencial enorme em mãos e poder-se-ia fazer muito mais do que está a ser feito. Nós não vamos ficar à espera que alguém resolva a nossa notoriedade, nós vamos atrás dela. Eu acho que os ralis têm um potencial por explorar enorme, há imensa coisa que se pode fazer pelos ralis para que tenham mais notoriedade, mais público, que tragam mais marcas, mais pilotos, para este desporto.
Porque isto dos patrocinadores e das marcas, só acontece se houver retorno, os patrocinadores não vão investir nos ralis só por investir. Por isso temos que criar condições para que os patrocinadores se sintam atraídos por este desporto, porque sabem que têm retorno, não é o contrário, como muitas vezes. Ouço muitas vezes: os investidores, os empresários, patrocinadores, as marcas, têm que investir porque isto é o desporto motorizado, têm que investir. E depois vamos ver se temos retorno.
Mas isto é exatamente ao contrário. E não é só nos ralis é em qualquer desporto. Tem que se criar condições para atrair, para que os pilotos possam ter patrocinadores, para que as marcas possam ter patrocinadores e vejam retorno. Nós achamos que estamos a fazer a nossa parte mas sozinhos não conseguimos resolver tudo.
O que pensa que se poderia fazer relativamente à promoção dos ralis?
Há várias coisas! Já tive a oportunidade de falar várias vezes com a federação relativamente a essa matéria. Eu acho que há muita coisa para a fazer no domínio que nos é possível fazer, redes sociais, por exemplo, os ralis passam um bocadinho ao lado do que é este movimento digital. Por iniciativa de certas marcas e certos pilotos vai-se fazendo alguma coisa mas de forma estruturada o campeonato de Portugal de ralis não tem uma visibilidade e não tem uma estratégia que fidelize e atraia seguidores para o desporto. Isso é uma área em que há um ‘montão’ de coisas para fazer. Há streamings, lives, há uma grande panóplia de coisas que se podem explorar, programas de debate, para discutir os resultados, as estratégias, e nem sequer estou a falar em áreas como por exemplo a televisão.
Não temos TV a seguir os ralis, não há diretos, não há sequer nos espaços noticiosos uma cobertura do desporto, não há programas sobre ralis, etc. Noutros países há isso tudo. Um país como Portugal que até tem, comparativamente com outros países, uma massa seguidora dos ralis e provas bastante atrativas, esta parte, falta, e isto é tudo possível fazer.
Há imensos canais de TV hoje em dia, pode nem ser sequer os generalistas, podemos começar por outros, fazendo umas parcerias adequadas, por exemplo. Nós temos um espetáculo interessante para poder utilizar, portanto eu acho que aí, há muita coisa a fazer. Agora, mudou-se a detentora dos direitos de imagem. Espero que a mudança seja no sentido positivo e estou obviamente expectante. Tudo o que pudermos fazer do nosso lado vamos obviamente fazer.
Se fizermos uma consolidação das ideias à volta disto, há muita coisa para fazer, é preciso depois, é haver vontade e capacidade do fazer.