WRC: vêm aí os híbridos! Mas será que já chegam tarde?
O Mundial de Ralis vai tornar-se híbrido em 2022, mas com uma tecnologia que depressa se vai tornar obsoleta. Quem o revela é Marko Paakkinen, líder da VTT Technical Research Centre of Finland, uma empresa líder em investigação e tecnologia nos países nórdicos, à imprensa finlandesa através do Yle Sports.
Há muito que esta é uma grande preocupação, e recentes palavras de Jean Todt, Presidente da FIA, levam-nos a crer que a própria FIA sabe, mas não pode ou não soube atuar mais cedo. Todt diz assume ser “essencial que mudássemos para os híbridos, e já é tarde”. E tem toda a razão, mas o mal está feito, e com uma agravante: Sinceramente, duvido que os híbridos que vamos ter no WRC sirvam para seduzir alguma marca automóvel para entrar no WRC a médio prazo, e neste contexto não foi por acaso que a FIA já disse que esta nova geração de Rally1, só vai ‘durar’ três anos, ao invés dos cinco habituais.
As palavras do Senhor Marko Paakkinen, são dramáticas para o WRC: De acordo com o líder da VTT, a bateria instalada nos novos WRC tem uma capacidade menor do que nos carros de passageiros híbridos plug-in. Para além disso, a evolução ‘elétrica’ é tão forte e está a ser tão rápida, que três anos no WRC são uma eternidade. Em 2024, ou 2025, as vendas de carros híbridos plug-in cairão, pois serão feitos progressos enormes nos carros elétricos. Isto significa que será difícil uma marca encontrar no WRC um bom veículo de marketing, já que em termos técnicos a indústria está bem à frente do WRC.
Mas vamos ao detalhe do que explana um ‘desapontado’ Paakinen. Sendo ele uma pessoa que lidera uma empresa híper tecnológica, quando percebeu o que está previsto para o WRC, ficou incrédulo. Se a FIA tem o WRC ‘fechado’ para os próximos três anos isso é, segundo Paakinen, “um período de tempo bastante longo, se olharmos para o ritmo a que as baterias têm evoluído. As densidades de energia das baterias aumentaram e os custos desceram a um ritmo tremendo”, disse, advertindo que o WRC “tem um calendário conservador e lento”.
De acordo com o finlandês, a bateria instalada nos WRC tem uma capacidade menor do que nos carros de passageiros híbridos recarregáveis. A tecnologia de base é semelhante e está no mercado há muito tempo. “Indiscutivelmente, é dececionante. O carro vem com uma bateria de menos de quatro quilowatts-hora, o que é uma bateria insignificante. E não há intenção de colocar uma bateria muito grande num híbrido recarregável”, disse, acrescentando que os limites tecnológicos não irão ser pressionados no desenvolvimento, uma vez que o WRC foi buscar tecnologia há muito existente na indústria automóvel: “é tecnologia há muito existente, a única coisa que podem obter é a segurança e a durabilidade das baterias”.
Paakinen assegura que o automobilismo pode promover a tecnologia: “É evidente que as emissões devem ser reduzidas a nível mundial. A indústria de baterias também tem os seus problemas, e a União Europeia está a resolver este problema, com o objetivo de mover a produção e reciclagem numa direção sustentável. Cada vez mais são necessárias baterias e elas precisam de materiais: lítio, níquel, cobalto e grafite. Este negócio das baterias não está isento de problemas e o desporto automóvel poderia ajudar se o desenvolvimento pudesse ser mais rápido desse lado, teria certamente um efeito” diz Paakkinen, que é de opinião que esperar por 2025 nos ralis: “já é demasiado tarde para ajudar: as vendas de híbridos recarregáveis cairão, enquanto os eléctricos já terão feito enormes progressos”. Segundo Paakkinen, a tecnologia dos automóveis eléctricos poderia ser desenvolvida na competição: “os desportos motorizados poderiam mostrar a sua ambição. Por exemplo, iria ficar a saber-se muito mais sobre a resistência ao impacto e à colisão das baterias, a sua química e segurança. Poderiam também ser desenvolvidas estações de ancoragem móveis e a respectiva gestão de energia”, disse, referindo-se a um WRC com Wallbox portáteis: “Se a FIA tivesse tido mais coragem, um carro totalmente elétrico iria impulsionar a tecnologia. Os desafios seriam maiores e os ralis serviriam genuinamente o desenvolvimento da indústria automóvel”, disse Paakkinen, que alega ter esta sido “uma oportunidade perdida. Os híbridos foram excessivamente cautelosos”, concluiu.
Compreendemos o Sr. Paakinen, mas o WRC não tem dinheiro para isso. No meio de uma transformação incrível – e indefinida – por que está a passar a indústria automóvel, seria um enorme risco o WRC escolher um caminho. É verdade que “estar mais perto” do que está a ser feito na indústria automóvel seria importante, mas o WRC não tem hoje em dia essa capacidade. Provavelmente em breve vai chegar a um momento tipo 1986/1987. Parar e recomeçar tudo de novo. Com o quê e como, é a pergunta que vale um milhão.