As marcas, que têm dinheiro e poder, poderiam ser fundamentais para que o nosso desporto motorizado crescesse, mas são poucas as que realmente apostam em algo que traz visibilidade e retorno, segundo Pedro Salvador:
“Há um desinteresse das marcas e há algumas em que realmente me questiono se as pessoas que lá estão gostam de automóveis e se percebem a mais valia que é a emoção dos automóveis, que continuam a ser uma compra emotiva. As vezes questiono-me se os diretores de marketing das marcas sabem o que a competição poderia fazer por eles. E o investimento não é assim tão grande.
Aquilo que a Kia fez foi uma operação muito bem sucedida no automobilismo. Por mim falo, sabia que a Kia existia, mas não sabia que eram tão bons automóveis. Hoje vejo os Picantos e os Ceed de forma diferente pois são autênticos tanques de guerra, que fazem lembrar os antigos carros japoneses. É uma aposta bem sucedida que dá visibilidade à marca e transmite um feeling mais desportivo, que não seria tão fácil de acontecer noutro ambiente. Há outras marcas que começam a apostar à custa de trabalho de privados e saúdo aqui o trabalho da Sports &You com o grupo PSA e que nos conseguiu colocar no mapa, não só com os resultados desportivos, mas também recentemente com a presença no rali de Monte Carlo É um projeto brutal, que nos deve deixar a todos orgulhosos. Mas do lado das marcas há a possibilidade de fazer um investimento bem menor do que possam estar a pensar e tirar daí dividendos bem superiores ao que possam imaginar. “
Outro dos problemas identificados por Salvador é a desvalorização da atribuição das licenças que acaba por desvalorizar também a competição em si:
“Acho que a forma como as coisas são tratadas acabam por desvalorizar o nosso automobilismo. Estive a trabalhar naquele famoso test day no Estoril. Tanto nesse test day como na prova a seguir em Portimão havia variadíssimos pilotos alemães que fizeram esse teste como condição fundamental para terem uma licença desportiva. A licença desportiva não é algo que deva ser desvalorizado ou dado. Tem que se começar por valorizar um documento que não deve ser apenas para apresentar nas verificações. Não há formação da federação nesse sentido. Todos nós pilotos estamos conscientes que o exame médico é uma anedota. Para esta quantidade enorme de pilotos que tirou a licença nos últimos cinco anos, há uma desvalorização absoluta do que estão a fazer. Creio que deveria ser obrigatória a formação e um teste teórico para garantir que as pessoas tem o conhecimento básico das regras fundamentais.”
Pedro Salvador: “Há um desinteresse de algumas marcas e questiono-me se as pessoas que lá estão gostam de automóveis”