WRC, Rali Monte Carlo: 8ª ‘maravilha’ de Sébastien Ogier

Por a 25 Janeiro 2021 15:54

Sébastien Ogier/Julien Ingrassia venceram o Rali de Monte Carlo, começando da melhor maneira a defesa do título de 2020. Elfyn Evans/Scott Martin foram segundos, oferecendo à Toyota e a Jari-Matti Latvala, novo chefe de equipa, uma boa dobradinha.

Sébastien Ogier continua a bater recordes. Venceu o Rali de Monte Carlo pela oitava vez, e atingiu a bonita marca de 50 vitórias no Mundial de Ralis. Á sua frente, só o inalcançável Sébastien Loeb com 79 vitórias. O dobro dos triunfos de Colin McRae, quase o dobro de Carlos Sainz e mais vinte que Marcus Gronholm, dizem muito da marca que o francês de Gap, sde do Rali de Monte Carlo, se prepara para deixar no WRC, neste que será, quase certamente, o último campeonato a tempo inteiro da sua carreira.

Num Monte Carlo atípico, pela primeira vez na sua história sem público na estrada, uma palavra para o sempre magnífico WRC All Live, que com um conjunto de bons comentadores, teve mais uma vez o condão de atenuar muito as ‘dores’ dos adeptos, especialmente os muitos que costumam emoldurar de forma fantástica as estradas do evento.

Já se previa que a luta, não só para esta prova mas para todo o campeonato, fosse entre a Toyota e Hyundai, mas não se pensava que a M-Sport pudesse estar tão distante da frente, como os seus pilotos provaram mais uma vez. O despiste de Teemu Suninen no primeiro troço quando lhe foi dito que era primordial levar o carro até ao fim da prova é mau demais para ser verdade. Malcolm Wilson e a equipa não mereciam isso.

Jari-Matti Latvala começa a sua carreira como Chefe de Equipa duma forma que nem ele sonharia poder ser melhor, com uma dobradinha, três carros no top 4 e quatro carros no top 6. A Hyundai sai muito frustrada de Monte Carlo, pois um conjunto de pequenos erros redundaram numa grande derrota. Estranho é que Andrea Adamo queira agora colocar tudo em causa, quando há seis semana chorava de alegria pelo feito da equipa que venceu pela segunda vez consecutiva o campeonato de Construtores.

Por fim, algo muito bom para as cores portuguesas. A Sports&You foi convocada pela Citroën Racing para colocar na estrada o Citroën C3 Rally2 de Eric Camilli e o piloto foi ao pódio do WRC2, e ofereceu à equipa portuguesa um 10º lugar à geral na mítica prova, algo inédito na história dos ralis em Portugal. A Peugeot Portugal foi 12ª classificada com Adruzilo Lopes em 1998, e Bruno Magalhães foi sétimo em 201º, mas a prova só contava para o IRC. Armindo Araújo foi 10º em 2012, mas como se sabe a equipa não era portuguesa. Portugal nunca teve uma ligação muito grande ao Monte Carlo, mas agora escreveu-se uma página muito interessante.

Master de Monte Carlo

Sébastien Ogier teve um começo de prova cauteloso, devido à pouca experiência com os novos pneus Pirelli, e um problema com o pedal do travão tirou-lhe algum ritmo, pelo que o seu arranque de rali foi modesto. Contudo, reagiu como bem sabe, e chegou à liderança na PE4. Só que na sexta especial, Ogier foi traído por excesso de confiança e nas estradas e condições que bem conhece, foi ele o grande ‘sofredor’ da PE6, quando fez dois piões e furou, perdendo 34.7s. Podia ter estragado o rali, mas arriscou no último troço do dia e recuperou grande parte do que tinha perdido. Fez com muita chuva o que ninguém conseguiu igualar, com bem menos água a cair, num troço em que bateu Neuville por 14.0s, Evans, 16.0s e Tänak, 20.9s. No arranque de sábado, mais do mesmo, entrou ao ataque e aumentou para 10.4s o avanço para Elfyn Evans, isto numa altura em que estavam três Toyota nos três primeiros lugares. Dificilmente seria atacado no último dia, o que se confirmou, pois Elfyn Evans preferiu assegurar a posição. O ‘Master’ de Monte Carlo voltou a mostrar que apesar de um erro aqui e ali, é de longe quem se dá melhores nestas estradas e condições e venceu com todo o mérito.

Já Elfyn Evans, mostrou nesta prova que se vai ter que voltar a contar com ele na luta pelo campeonato. Não é mais rápido que Ogier, Tanak e Neuville em termos globais mas é mais consistente e enquanto os seus adversários têm muitos altos e baixos, o galês mantém um ‘bio-ritmo’ mais seguro e com isso mantém sem um nível alto.

Nesta prova nunca esteve abaixo do terceiro lugar, aproveitou o furo de Ogier na PE6 para liderar, mas quando no sábado caiu para segundo depois do ataque de Ogier, não se excedeu na tentativa de recuperar a posição pois teria de arriscar demais face a um piloto que conhece todos os truques desta prova. Confessou no final que podia ter arriscado um pouco mais, mas logrou terminar com um bom resultado.

Como sempre, é consistente, não brilha demais, mas também não se ofusca muito. Foi com essa estratégia que quase foi campeão o ano passado.

Toyota brilhante

A Toyota não ocupou os três lugares do pódio porque Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota Yaris WRC) furaram no primeiro troço do último dia de prova caindo para o quarto lugar atrás de Thierry Neuville/Martijn Wydaeghe (Hyundai I20 Coupé WRC), que depois dum arranque complicado de prova, foram melhorando e terminaram no pódio, naquela que foi a primeira prova com o novo navegador, Martijn Wydaeghe, que substituiu Nicolas Gilsoul. Estrear um navegador, logo numa prova como o Rali de Monte Carlo, foi, no mínimo, corajoso: “sabia que ir ser um desafio, com a troca de navegador de última hora. Não sabia como iria ser mas o Martijn fez um bom trabalho. Podíamos ter feito melhor aqui e ali, mas tive alguma falta confiança. Não foi o melhor que podia fazer, mas estamos contentes por estar aqui, trouxemos alguns pontos para os Construtores, mesmo que não tenha sido o melhor dos ralis para a Hyundai…”

A Hyundai sai de França algo desanimada, já que Ott Tänak/Martin Järveoja (Hyundai I20 Coupé WRC) desistiu com dois furos, quando só tinha uma roda sobressalente, no penúltimo dia de prova, quando eram terceiro, a 25.3s da frente, portanto ainda com hipóteses de lutar pelo triunfo. O terceiro lugar de Neuville é muito curto para as ambições que a equipa trouxe para Monte Carlo.

Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota Yaris WRC) preparavam-se para lutar pelo pódio, foram para o último dia com dois segundos de avanço para Neuville, que não podia arriscar demais, devido aos pontos para os Construtores, mas um furo estragou o resultado, mas não a exibição, pois este jovem está pronto para ganhar ralis, se calhar já o próximo, em casa, o Rali do Ártico, prova que venceu o ano passado. Talvez seja ainda cedo para lutar pelo campeonato, mas nem isso estará para já na sua mente: “Foi um bom bom de semana, guiei de forma inteligente, mas o bom resultado foi-se com o furo. Durante o rali tivemos vários pequenos azares, mas globalmente estou contente com a minha condução”, disse Rovanpera.

Dani Sordo/Carlos Del Barrio (Hyundai I20 Coupé WRC) foi quinto, mas fez um rali abaixo do que podia. O Monte Carlo é sempre traiçoeiro, e o espanhol jogou sempre mais na defensiva, para lá do facto da Hyundai ter falhado mais do que uma vez nas escolhas de pneus. Errou mais do que acertou e Sordo só começou a ganhar confiança no sábado, mas aí já era tarde para um melhor resultado: “não estivemos muito bem, não estou feliz comigo. Depois tratou-se somente de sobreviver e assegurar pontos para os Construtores. Tive uma má performance, cometi vários erros, tive falta de confiança, mas trouxe alguns pontos, que podem ser importantes. Voltaremos mais fortes…”

Takamoto Katsuta/Daniel Barritt (Toyota Yaris WRC) foi sexto e obteve o melhor resultado da sua carreira no WRC: “Foi o melhor resultado da minha carreira com um WRC, mas o mais importante é o facto de ter ganho muita experiência nestas condições muito difíceis. A velocidade foi aumentando ao longo da prova e com isso a confiança. Agradeço também aos bons batedores que teve aqui”, disse.

Gus Greensmith/Elliott Edmondson (Ford Fiesta WRC) terminou o rali atrás do melhor no WRC2, Andreas Mikkelsen/Ola Floene (Skoda Fabia R5 Evo), o que é muito maus para quem é agora o chefe de fila da M-Sport no WRC. Mostrou que não está preparado para guiar a este nível, especialmente em provas como o Monte Carlo: “Foi a pior performance da minha carreira, tenho pena pela equipa que fez um enorme esforço para estar presente nesta prova, nesta situação, e eu não consegui fazer melhor. Tenho que aprender com isto e melhorar, porque isto foi demasiado mau”, disse.

Pierre-Louis Loubet/Vincent Landais (Hyundai I20 Coupé WRC) terminou muito atrasado o seu primeiro Monte Carlo. Segundo o próprio “um erro estúpido” quando se despistou na sexta-feira numa travagem numa zona a descer muito molhada. Por azar o carro foi bater numa enorme pedra, e os danos foram significativos: “Estou muito desapontado, mas agradeço à equipa ter reconstruido o carro”, disse Loubet, cujo ponto mais alto nesta prova foi o segundo lugar na 10º especial, aproveitando o facto de ter sido o primeiro na estrada e as condições terem melhorado.

Faltou muita coisa neste Rali de Monte Carlo, a festa do Turini, por exemplo, mas neste tempo de pandemia 2.0, o que se tem de destacar é o facto das organizações como o Automobile Club de Monaco, a FIA, o WRC, o Promotor, as equipas e os pilotos não ficarem em casa e darem-nos este grande espetáculo via TV. Foi um Monte Carlo curto, às 18h00 de cada dia todos tinham que estar recolhidos nos hotéis, o esforço de todos – José Pedro Fontes revelou-nos que foram vários dias seguidos a acordar às quatro da manhã para todos na equipa – , poder desfrutar do evento nesta altura é algo que os adeptos têm de agradecer aos protagonistas, porque ao fim ao caso, o mais fácil era ficar em casa…

MOMENTO

O ataque de Sébastien Ogier na PE9, La Bréole-Selonnet 1 foi decisivo. No último troço do dia anterior atacou forte à chuva e repôs boa parte do que tinha perdido com o furo, mas foi no primeiro troço de sábado, quando deixou Elfyn Evans a 17.8s que virou o tabuleiro a seu favor e deixou claro ao seu colega de equipa que teria de se exceder para o bater.

FIGURA

Se vivêssemos tempos normais, Sébastien Ogier já estaria em casa a gozar da reforma, mas quis a pandemia que o francês decidisse manter-se mais um ano no WRC e ainda bem que o fez porque tal como já aconteceu com a saída de Sébastien Loeb, vamos ter saudades quando for embora. Basta olhar para as estatísticas do WRC para perceber o ‘significado’ de Ogier. 50 vitórias, 8ª em Monte Carlo.

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