O futuro da F1 e os combustíveis a 4€/litro

Por a 11 Janeiro 2021 16:22

A Fórmula 1 esteve, após o Grande Prémio de Portugal, reunida no Autódromo Internacional do Algarve para definir o seu futuro, sendo os ‘e-fuels’ centrais para a categoria, uma vez que permitir-lhe-á alcançar rapidamente a neutralidade carbónica e ser relevante para a indústria automóvel.

A disciplina máxima do desporto automóvel conta já com os motores mais eficazes alguma vez construídos, conseguindo um rendimento térmico de mais 50% – em 2013 rondava os 30% – o que lhes permite apresentar credenciais ecológicas elevadas.

No entanto, nos tempos que correm é preciso ir mais além e o próximo passo será criar para 2026 uma unidade de potência híbrida, tal como as actuais ainda que com uma arquitetura mais simples, e introduzir o quanto antes os famosos ‘e-fuels’.

Os construtores automóveis perceberam já que a massificação dos veículos elétricos não é sustentável, uma vez que para que todo o parque mundial fosse substituído por este tipo de carros, a rede elétrica existente não aguentaria a demanda de energia, exigindo o nascimento de novas centrais termoelétricas uma vez que as energias renováveis não dariam vazão às necessidades.

Para além disso, são diversos os estudos reputados que apontam que a pegada de um carro elétrico é superior à de um híbrido devido a sua massiva necessidade de baterias, que levam à mineração de lítio, o que provoca diversos e profundos impactos no equilíbrio ecológico do planeta.

A massificação dos veículos elétricos exige ainda a construção de toda uma nova rede de abastecimento, o que terá também um choque nefasto no ambiente, quando a urgência é reduzir a pegada ecológica da ação humana.

Face a todas estas dificuldades, os construtores automóveis estão a inclinar-se para o desenvolvimento do e-fuel.

Este é um combustível liquefeito composto de água e dióxido de carbono num processo realizado à custa de energias renováveis, livre de enxofre e benzeno. O hidrogénio, produzido através da eletrólise da água, reage com dióxido de carbono captado da atmosfera através de novas tecnologias.

A utilização de energias renováveis na sua produção e todo o processo em si torna este combustível carbono neutro depois de ser queimado no processo de combustão realizado por um motor de um carro, não contribuindo para as emissões de gazes de efeito de estufa, tendo ainda um baixíssimo nível poluidor.

Para além disso, esta tecnologia permite que os atuais automóveis continuem a circular e a atual rede de abastecimento – bombas de gasolina, pipelines, etc – pode continuar a ser usada.

É uma situação em que todos ganham – consumidores, construtores automóveis, petrolíferas e ambiente.

São diversas as entidades que estão a trabalhar nesta tecnologia desde petrolíferas até aos construtores automóveis, sendo a Audi uma das líderes.

A marca de Ingolstadt tem já uma fábrica onde transforma ‘Blue Crude’, o nome que se dá ao produto que depois pode ser refinado em e-gasolina ou e-gasóleo, sendo capaz de produzir 400 mil litros por ano.

No final do ano passado, a Porsche, outra marca do Grupo Volkswagen, anunciou a construção de uma fábrica no Chile que produzirá e-fuels, prevendo uma capacidade de produção de 130 mil litros em 2022 para alcançar os 550 milhões por ano em 2026.

A e-gasolina tem ainda a vantagem de permitir uma maior taxa de compressão nos motores, garantindo um maior rendimento, ou seja, maior potência para menos consumo.

É esta tecnologia que os responsáveis da Fórmula 1 pretendem introduzir na categoria o mais rapidamente possível, esperando-se que em 2025 todos os construtores de unidades de potência animem os seus propulsores com e-fuels.

Esta medida permitirá que os monolugares de Grande Prémio alcancem rapidamente a neutralidade carbónica, ao passo que o campeonato tem como objetivo alcançar esse “Santo Graal” em 2030.

Talvez por isso, e reconhecendo que os elétricos dificilmente serão o futuro, Herbert Diess, o CEO do Grupo Volkswagen, admitiu que a Fórmula 1 será o palco do desenvolvimento de tecnologias de futuro para o sector automóvel e não a Fórmula E, campeonato de monolugares eléctricos onde estão duas marcas do grupo – Porsche e Audi, que, no entanto, abandonará a competição no final do ano. “Na minha opinião pessoal, deveríamos continuar com as corridas”, disse o alemão numa sessão transmitida pelo Linkedin em Agosto último. “A Fórmula 1 tornar-se-á neutra em CO2, ao usar combustíveis sintéticos. É uma competição muito mais emocionante, divertida, disputada e técnica que a Fórmula E, que dá algumas voltas em centros de cidades em modo de jogo”.

Será, portanto, na Fórmula 1 que será evoluído, testado e confirmado os progressos do ‘e-fuel’ que num futuro não muito distante estará numa bomba de combustível perto de si. Para já, o custo de um litro deste combustível tem o custo de 4 euros, mas estão a ser realizados esforços para que se chegue rapidamente a um valor inferior a 1 euro por litro e nada melhor que o mundo da competição automóvel para também acelerar este processo.

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