WRC 2020: Os altos e baixos dos melhores pilotos do mundo
O ano de 2020 não foi fácil para ninguém, mas não faltou competição, incerteza, drama, fortes acidentes, enfim, o habitual no Mundial de Ralis. Recordemos por isso a caminhada de uma época que mais ninguém esquecerá tão cedo.
1º, Sebastien Ogier/Julien Ingrassia (Toyota Yaris WRC), 122 pontos
Costuma-se dizer que a sorte dá muito trabalho, e Sébastien Ogier assegurou o seu sétimo título Mundial em 2020, naquele que foi o seu campeonato mais complicado de vencer. Substituiu Ott Tanak na Toyota, e com o carro do campeão, fez o que melhor sabe, repetiu o feito. Depois de um ano de 2019 em que perdeu pela primeira vez um título em sete anos, Ogier teve uma época regular. Começou com um segundo lugar em Monte Carlo, a Suécia não lhe correu nada bem devido à ordem na estrada. Foi quarto. Venceu no México, depois de se ter distanciado bem no primeiro dia. Foi terceiro no Rali da Estónia, surpreendido por um excelente Craig Breen, e abandonou na Turquia com o motor do Yaris WRC partido depois da cedência de um cilindro. Perdeu aí a liderança do campeonato. Foi terceiro na Sardenha, depois de perder no último troço uma posição para Neuville, mas em Monza, apesar de também ter ido ‘às cordas’, fez no resto tudo bem, ao contrário do seu colega de equipa, Elfyn Evans. Não era fácil recuperar os 14 pontos que tinha de atraso, mas quando Evans saiu de estrada em Monza, isso escancarou-lhe as portas do título, que não desaproveitou, claro.
2º, Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota Yaris WRC), 114 pontos
Esteve muito perto de se sagrar campeão, mesmo estando longe de ser o melhor piloto do ano. Não foi o mais rápido, muito longe disso, mas foi o mais consistente, e que menos tinha errado… até ao Rali de Monza. Não faz muito sentido dizer que perdeu o título de forma inglória, porque Ogier desistiu com o motor partido na Turquia, Tanak teve também a sua dosse de contratempos mecânicos, só mesmo Neuville se auto excluiu da luta.
Um campeonato é uma maratona, e só foi dramático porque sucedeu na última prova onde tudo se decide, mas ‘azares’, todos tiveram. Também não se pode dizer que ‘merece’ este ou ‘aquele’. Merece quem ganha.
Depois de um Monte Carlo no pódio, entrou muito forte no Rali da Suécia, e venceu pela segunda vez no WRC. Teve pouca sorte na Estónia com um furo, o que redundou em dois quartos lugares seguidos, no México e na Estónia, mas a sorte regressou na Turquia onde depois duma prova em que a cautela deu frutos, já que ficou livre dos muitos problemas que afetaram os seus adversários. Venceu o rali depois de ‘saltar’ de quarto… para primeiro na PE9. Líder do campeonato com uma vantagem de 14 pontos, as perspetivas eram mesmo muito boas. Em Monza as coisas estavam a correr a contento, perseguindo de perto Ogier, na prática o único que lhe podia verdadeiramente ‘roubar’ o título. Na PE11, os parciais ‘diziam’ que estava bem na frente de Ogier, mas uma curva ‘gelada’, congelou as suas hipóteses de ser campeão. Saiu de estrada para um buraco onde era impossível tirar o Yaris WRC sem um bom reboque. Seja como for, foi o seu melhor ano, mas certamente que ao galês não lhe ‘sabe’ assim…
3º, Ott Tänak/Martin Järveoja (Hyundai I20 Coupé WRC), 105 pontos
Ott Tanak é provavelmente, hoje em dia, o melhor piloto do WRC. Determinado, intenso, e muito rápido, perdeu este ano o título que conquistou com brilho em 2019, depois dum ano que começou mal, com o acidente de Monte Carlo, mas que os azares da Turquia e Sardenha impediram de poder lutar melhor pela reconquista. Muito resumidamente, o ano não lhe correu bem, embora não nos atrevemos a justificá-lo com resquícios psicológicos do acidente da primeira prova. Tanak é o ‘Iceman’ dos ralis. Começou o ano com uma brutal saída de estrada no Rali de Monte Carlo, onde a dupla teve sorte de não se ter magoado seriamente. Depois disso, dois segundos lugares, na Suécia e no México, onde podia ter feito melhor. Depois da longa interrupção, um triunfo fácil na Estónia, apesar de um furo, prova que o colocou novamente na rota do título. No seu país, brilhou a grande altura e ficou sempre a ideia que nem sequer deu o máximo. Contudo, no Rali da Turquia, uma falha da direção do seu Hyundai logo no primeiro dia, deixou-o fora dos pontos, atrasando-se significativamente no campeonato. Na Sardenha, um fim-de-semana dececionante para Tänak devido a problemas de suspensão logo no primeiro dia, que lhe custaram quase dois minutos. Terminou o seu ‘reino’ como campeão em Monza a trabalhar para a equipa, ajudando-a no título de Construtores. Que ninguém duvide que vai voltar mais forte em 2021.
4º, Thierry Neuville/Nicolas Gilsoul (Hyundai I20 Coupé WRC), 87 pontos
O belga estava desesperado para terminar com uma série de quatro anos seguido em que foi segundo no campeonato, e este ano conseguiu-o, mas não da forma que queria, pois terminou em quarto. Começou a temporada bastante bem, em Monte Carlo, vencendo o rali, depois duma grande luta com Sébastien Ogier e Elfyn Evans. Foi sexto na na Suécia, depois de ter tido grandes dificuldades a abrir a estrada. No México, um problema mecânico na PE10 atirou-o para fora dos pontos e no Rali da Estónia, arrancou uma roda, colocando-se no quinto lugar do campeonato, 13 pontos atrás de Rovanpera. Para quem tinha ganho o Monte Carlo, era mau demais. Compreende-se a posição na Suécia, mas o sucedido na Estónia estragou tudo. Tentou reagir, na Turquia, liderava a prova quando um furo na PE9 o atirou para o terceiro lugar. Ainda recuperou para segundo, mas a vitória fugiu-lhe e o campeonato também estava cada vez mais a fugir-lhe, novamente. Ainda tentou, por exemplo, batendo Ogier na Sardenha, mas a vitória na prova escapou-lhe e nessa altura o campeonato já era quase uma missão impossível. Confirmou-o em Monza com uma saída de estrada que só uma rede ‘parou’ e depois, acabou com o seu rali depois de bater num bloco de cimento no banking de Monza. Game Over do dia, rali e campeonato! No início do ano, tinha dito estar contente ter Tanak na equipa, porque nunca tinha perdido para um colega de equipa. Perdeu este ano.
5º, Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota Yaris WRC), 80 pontos
O ‘puto-maravilha’ dos ralis, Kalle Rovanperä, arrancou para a sua primeira época com um WRC ainda tinha apenas 19 anos. Ainda não foi este ano, mas continua na calha para bater o recorde do seu novo chefe de Equipa, Jari-Matti Latvala, como o mais jovem vencedor de sempre duma prova do WRC (Latvala tinha 22 anos e 313 dias). Começou de forma impressionante o campeonato, depressa se tornou no mais jovem vencedor de troços no WRC, aos 19 anos, e também o mais jovem piloto a terminar uma prova no pódio, na Suécia, no seu segundo rali com a Toyota Gazoo Racing WRC. O seu potencial já ficou claro desde muito cedo, e a temporada que fez, em que terminou em quinto a sete pontos de Thierry Neuville foi consistente, nunca terminando pior do que o quinto lugar, apesar de um abandono na Sardenha, no único erro significativo que cometeu, ao bater numa árvore de traseira. O outro foi num shakedown, depois da tomada de tempos. Notou-se que globalmente nunca quis dar passos maiores do que a perna neste seu primeiro ano de WRC, só Evans terminou mais vezes nos pontos que ele, venceu sete PE, duas PowerStage, liderou uma prova, batendo um recorde, tornando-se no mais jovem piloto a liderar uma prova do WRC. Cumpriu à risca as indicações que tinha, e claramente vai ter um ano de 2021 ainda melhor.
6º, Esapekka Lappi/Janne Ferm (Ford Fiesta WRC), 52 pontos
Depois duma desapontante campanha de 2019 com a Citroën, Lappi liderou a M-Sport Ford em 2020, mas a exemplo do que sucedeu com Suninen, também ele não foi capaz de materializar melhor a sua temporada. É verdade que os problemas da equipa em nada ajudaram, mas tinha que ter feito melhor. O ano até começou de forma positiva, com um quarto lugar no Monte Carlo e quinto na Suécia, mas depois do abandono no México, as coisas pioraram significativamente. As provas da Estónia e Turquia correram-lhe mal, terminando apenas em sétimo (Estónia) e sexto (Turquia). Desistiu na Sardenha, logo na PE2 com um problema de motor no Fiesta WRC, e em Monza, liderou na primeira fase do rali, até à PE5, fruto de uma boa escolha de pneus, mas quando vieram os troços do segundo dia, já tinha gasto anteriormente os melhores pneus e com isso foi-se afundando na classificação. Ainda assim, terminou em quarto a abrir no Monte Carlo e finalizou o ano na mesma posição, em Monza. Globalmente uma época pobre, como o foi para todos os elementos da M-Sport. Com a sua experiência ficar a quase 30 ponto de Rovanpera no campeonato, é muito.
7º, Teemu Suninen/Jarmo Lehtinen (Ford Fiesta WRC), 44 pontos
Teemu Suninen emergiu no WRC como uma forte promessa, dois anos ao lado de Ogier terão feito algo pelo seu crescimento como piloto, e a chegada do experiente navegador, Jarmo Lehtinen a meio de 2019 ajudaram-no a crescer ainda mais, mas a época de 2020 não lhe correu bem, como não correu a todos os pilotos da M-Sport, já que a equipa está em dificuldades financeiras e por isso não está a conseguir acompanhar a Hyundai e a Toyota.
Suninen começou o ano com dois apagados oitavos lugares no Monte Carlo e na Suécia, mas no México, primeira prova de terra, terminou o dia de sexta-feira no segundo lugar. Contudo, um erro tirou-lhe esse mesmo segundo lugar, não aproveitando a ordem na estrada. Terminou em terceiro. Depois disso, foi sexto na Estónia, abandonou na Turquia e em Itália aproveitou novamente bem a ordem na estrada para andar na frente na fase inicial do rali, mas a pouco e pouco foi perdendo posições, terminou apenas em quinto, o seu segundo melhor resultado do ano. Encerrou a temporada em três cilindros, depois do motor do seu Fiesta WRC lhe pregar uma partida em Monza, num ano em que não fez melhor mais por causa da equipa do que a sua pilotagem.
8º, Dani Sordo/Carlos del Barrio (Hyundai I20 Coupé WRC), 42 pontos
Com larga experiência nos ralis, Dani Sordo ainda é piloto para vencer ralis, como provou este ano no Rali da Sardenha. O espanhol participou em três provas, desistiu no México com problemas mecânicos, venceu na Sardenha depois duma estupenda exibição e foi terceiro em Monza, contribuindo para o triunfo da Hyundai nos Construtores. Pontuando em apenas duas provas fez quase os mesmo pontos que Teemu Suninen que correu durante toda a época. Continua a ser um piloto muito consistente, que ‘entrega’ bons resultados na maioria das vezes. É verdade que em Itália aproveitou muito bem a sua posição na estrada, mas continuou a vencer troços quando chegou à liderança, e depois a sua experiência fez o resto, ao controlar bem o resto da prova. Em Monza, chegou à liderança no segundo troço da prova, andou na frente até meio do rali e só na parte final caiu para terceiro de modo a garantir os pontos que a Hyundai precisava para ser campeão. De uma utilidade extrema.
9º, Craig Breen/Paul Nagle (Hyundai I20 Coupé WRC), 25 pontos
Craig Breen disputou este ano duas provas com a Hyundai no WRC, e se as coisas não lhe correram particularmente bem na Suécia, onde terminou em sétimo, numa prova muito difícil devido à falta de neve, já na Estónia o irlandês esteve em grande plano, e foi o único que deu alguma luta a Ott Tanak. Uma grande exibição que não lhe valeu de muito, já que não disputou mais provas no WRC até ao fim do ano, tendo que se quedar com o programa do construtor de pneus MRF, no Europeu de Ralis.
A sua exibição na Estónia deixou água na boca, e isso ter-lhe-á valido nova oportunidade com a equipa em 2021, mas as coisas dificilmente podem mudar muito, pois com uma prova aqui e ali é difícil estabelecer-se no WRC onde há menos lugares que na corrida ao espaço da NASA.
10º, Sebastien Loeb/Daniel Elena (Hyundai I20 Coupé WRC) , 24 pontos
Não é só uma lenda do RC, mas sim uma das maiores estrelas de toda a história do automobilismo. Sem nada a provar, hoje em dia faz o que gosta, e de vez em quando bem matar saudades ao WRC.
Depois de ter feito seis provas em 2019, com a Hyundai Motorsport, este ano voltou a partilhar o terceiro carro, e com a pandemia, só realizou duas provas. No Rali de Monte Carlo as coisas correram-lhe mal, e ainda assim foi sexto da geral, mas na Turquia, apesar de não ter corrido ‘naquela’ prova, terminou no pódio, contribuindo para mais um bom resultado da Hyundai nos Construtores. Tantos anos depois e ainda lidera provas e vence troços. Um ‘monstro’.
11º, Gus Greensmith/Elliott Edmondson (Ford Fiesta WRC), 16 pontos
É um dos mais jovens do plantel, chegou a impressionar na sua primeira época com a M-Sport Ford mas este ano as coisas não lhe correram nada bem, apesar de um quinto lugar no Rali da Turquia, uma prova de sobrevivência, pois quem pouco ‘andou’, salvou-se dos furos. Foi o que sucedeu com Greensmith. Estreou-se nos ralis em 2013, em 2017 já estava no WRC 2. Dois anos depois estreou-se no WRC, aproveitando bem uma lesão de Elfyn Evans.
Saiu de estrada no Monte Carlo, abandonou no México com um problema mecânico no primeiro dia, teve novamente problemas na Sardenha, com o alternador do Fiesta WRC. Foi dos que mais sofreu com a falta de testes da M-Sport, e não fez muito para provas que merece o seu lugar no WRC.
Gus Greensmith acabou o campeonato depois de bater num portão estreito do circuito de Monza, um acidente, o que espelha bem a má época que fez.
13º, Takamoto Katsuta/Daniel Barritt (Toyota Yaris WRC), 13 pontos
Depois de ter realizado duas provas em 2019, o jovem Takamoto Katsuta continua a sua aprendizagem no WRC, onde tem mostrado um progresso encorajador. O seu programa de 2020 foi mais curto do que o antecipado, devido à pandemia, e o destaque vai para o sétimo lugar que obteve no Rali de Monte-Carlo. Mostrou velocidade na Estónia e terminou o ano com um triunfo na Power Stage do Rali de Monza.
Depois de ter sido selecionado pela Toyota em 2015, que o colocou no seu Toyota Gazoo Racing Challenge Programme para jovens pilotos, já se percebeu que dificilmente é um futuro campeão em potência, mas pode fixar-se no WRC quando conseguir encontrar o equilíbrio certo entre a sua velocidade, que já percebemos que tem, e reduzir os excessos, que lhe têm valido imensas saídas de estrada. Em cinco provas, três acidentes. As duas saída de estrada no circuito de Monza foram um bom espelho da sua fogosidade e inexperiência.