F2, Mick Schumacher: Nos passos de Michael…
Mick Schumacher tornou-se campeão de F2 na última prova do ano do campeonato que abre as portas da Fórmula 1. Um título com um simbolismo tremendo para o jovem alemão e para a F1.
Schumacher é um nome reverenciado na F1. As conquistas de Michael (e até do seu irmão Ralf) fizeram da família uma das referências do desporto. Michael bateu todos os recordes, levou a Ferrari ao topo do mundo e tornou-se no piloto mais bem sucedido de sempre. No ano em que os seus recordes caíram pela mão de Lewis Hamilton, o seu filho Mick mostra que pode colocar novamente o nome da família no topo, com o jovem a conquistar o seu segundo título e a ter garantida a presença na F1 em 2021.
Desengane-se quem pensar que a sua caminhada foi facilitada por ser filho do Barão Vermelho. Nos primeiros tempos de Karting usou o nome da sua mãe para não atrair atenções desnecessárias e para conquistar o seu espaço por mérito próprio. De 2010 a 2014, nos karts, foi colecionando sucessos, apesar de ter apenas festejado um título em 2010. Mas as presenças assíduas no pódio levaram-no até a Fórmula 4 onde foi vice campeão no campeonato alemão e italiano (2016). Em 2017 foi terceiro classificado na MRF Challenge Formula 2000 e em 2018, depois de um começo titubeante, foi campeão na F3 europeia levando a melhor sobre o piloto da academia Red Bull, Dan Ticktum, num título suado, mas merecido. Seguiu-se o primeiro ano na F2, uma época mais discreta em que o jovem se ambientou a uma nova competição, mas em 2020, Mick Schumacher voltou a brilhar e conquistou o título de F2 e tem lugar assegurado na Haas em 2021.
Foi um fim de semana emocionante aquele que garantiu o título e no fim da última corrida, víamos um Mick Schumacher incrédulo: “Como é que soa este título? Soa bem. Ainda não acredito. Vai levar algum tempo, mas é definitivamente uma boa sensação.”
Apesar de ter sido apenas 18º na última prova do ano, o seu adversário pelo título Callum Ilott não conseguiu suplantar o jovem alemão: “Digamos que foi uma corrida muito emocionante. Estou um pouco desapontado, acho que é mais ou menos o que sinto neste momento. Estou um pouco desiludido com o meu desempenho. No entanto, já fizemos o suficiente durante todo o ano para termos a margem para fazer uma má corrida, como aconteceu. Hoje foi tudo menos fácil. Estava muito vento, com muita areia em pista. Estamos obviamente no deserto, por isso, com o vento, as condições de pista mudaram desde ontem. Definitivamente, não foi fácil. O que importa é que estamos aqui agora com o título”.
A sua ida para a F1 já começou a ser falada desde o início da época, mas isso não trouxe pressão extra para conquistar o título: “A pressão existia porque eu tinha expectativas em relação a mim próprio. Eu próprio queria alcançar algo. Queria provar a mim mesmo que estou aqui por uma razão. Obviamente, o início da época não correu como tínhamos planeado. Não conseguimos estar ao melhor nível e isso aconteceu principalmente do meu lado. Penso que a equipa foi ótima durante todo o ano. Mas depois, passo a passo, os pódios começaram a surgir, e essas duas vitórias também. Penso que a relação que tive com a equipa fez a diferença. Conheço a equipa de F2 há dois anos e toda a equipa Prema há cinco. Isso cria um vínculo forte. Cria confiança e isso é muito importante num campeonato. Como os tempos foram difíceis, conseguimos manter-nos unidos e motivar-nos uns aos outros para continuar a melhorar, para continuar a trabalhar, a esforçar-nos para tentar chegar ao topo e foi isso que fizemos.”
O duelo com Ilott manteve-se até ao fim, um fator extra de pressão numa corrida que começou mal: “Obviamente, o meu objetivo era ganhar a última corrida. Penso que teríamos tido o ritmo. Infelizmente, bloqueei as rodas na Curva 4, sobrestimei a aderência e cometi esse erro. Depois disso, tentei ficar à frente do Callum, tentei atrasa-los o mais que podia deixando todos atrás de mim. Mas depois disso continuei a bloquear as rodas e no final foi a decisão mais segura foi entrar nas boxes e mudar de pneus. “
A corrida menos conseguida do jovem Mick aconteceu apenas um dia depois da prova que ele considerou ser o ponto mais alto do ano, depois de uma qualificação em que foi apenas 18º: “Penso que tínhamos tudo a perder, sabíamos que o Callum era rápido, e sabíamos que ele ia atacar. Para ser honesto, eu não esperava acabar tão bem. Acabámos por ser sétimos na bandeirada de xadrez e sextos no resultado final, com a volta mais rápida. Nunca pensei que conseguíssemos chegar tão longe. Penso que, como equipa, trabalhámos realmente unidos. Tudo aconteceu de forma fluída e soube muito bem.”
Schumacher não desvalorizou a importância deste título nesta fase da sua carreira em que agora será piloto de F1: “Penso que foi muito importante esta conquista. Levar um título de campeão no currículo para a F1, é sempre bom. Ganhei estes campeonatos contra grandes adversários, como o Dan Ticktum na F3, e agora este ano com Callum Ilott, que conheço muito bem. Tem sido um grande desafio e quanto melhor for a competição, mais evoluímos como piloto. Levarei todos estes ensinamentos para a F1.”
Mick Schumacher já escolheu o seu número para a próxima temporada. O alemão explicou o simbolismo do 47 que usará na sua estreia no topo do automobilismo. A escolha deve-se a uma combinação, o 4 e o 7, dois números que estão associados ao sucesso do jovem Mick e… do seu pai, Michael, sete vezes campeão do mundo.
“Quatro e sete são dois dos números que gosto. Obviamente quatro pela minha vitória no campeonato de F3 e o sete porque é um número muito importante para mim também. Como os dois já estavam escolhidos, acho que 47 foi a melhor escolha. Outro facto, a soma de todas as datas de aniversário da nossa família é igual a 47. Acho que apenas sublinhou que deveria escolher esse número.”
Schumacher confirmou que o ‘sete’ é uma referência ao número de títulos mundiais que o seu pai conquistou durante sua carreira na F1.
“Definitivamente ‘sete’ é em parte por causa disso”, disse Schumacher, “mas também é um número que gosto e acho que também gostamos do sete na nossa família”.
Nove anos depois da última corrida de Michael, a F1 voltará a ver o nome Schumacher na grelha de partida. É uma pena que o pai não possa ver de perto o sucesso do filho, conquistado com todo o mérito. Mick tem pela frente a árdua tarefa de ter sucesso num dos mais exigentes desportos do mundo, ao que acresce a pressão da expetativa que o seu nome traz. Mas Mick já provou que sabe enfrentar a adversidade, como mostrou na F3 e na F2. Parece ter as ferramentas certas para ter sucesso e tal não significa igualar o pai. Mick sabe que deve percorrer o seu caminho e que o legado do seu pai é algo que o deve orgulhar, mas não mais que isso. O caminho é longo mas não é descabido pensar que veremos outro Schumacher a lutar por títulos no futuro.