GP Sakhir F1: George Russell merecia mais
Sérgio Pérez foi um justo vencedor do Grande Prémio de Sakhir, mas George Russell merecia igualmente, pelo menos, estar no pódio e até a vitória na sua primeira corrida com a Mercedes.
Desenganem-se aqueles que pensam que é uma tarefa fácil entrar no carro mais rápido do planeta, depois de quase duas temporadas aos comandos de um Williams, para substituir Lewis Hamilton, que foi infetado pelo novo coronavírus.
A unidade de potência é igual, mas tudo o resto é diferente, tendo o W11 muito mais apoio aerodinâmico que o FW43, o que lhe permite travar mais tarde, realizar as curvas mais depressa e acelerar mais cedo e com maior intensidade.
Dito assim parece ser simples, mas em pista, mesmo para os melhores pilotos do mundo, não é uma tarefa fácil, até porque o nível é elevadíssimo e nenhum dos que lá estão andam a pisar ovos, e seguramente que Valtteri Bottas não anda, basta recordar a forma como tem obrigado Lewis Hamilton a ir buscar o melhor de si.
No entanto, desde os treinos-livres de sexta-feira que Russell mostrou uma abordagem segura, tendo sido o mais rápido em ambas as sessões.
É verdade que foram mais os erros de Bottas que a performance pura do inglês a permitir que este figurasse no topo da tabela de tempos, mas este foi um resultado que lhe deu confiança e que foi colocando dúvidas no campo do finlandês.
Na qualificação, esperava-se que Bottas, com o seu maior conhecimento do monolugar de Brackley, pudesse ditar a sua lei e, na verdade garantiu mais uma pole-position, a sua quinta da temporada, mas não sem apanhar um susto.
Sem conseguir melhorar o seu tempo na sua derradeira volta lançada da Q3, o finlandês viu Russell a realizar uma perigosa aproximação, tendo ficando no segundo posto da grelha de partida a apenas 26 milésimos de segundo.
Num fim-de-semana em que Bottas tinha ao seu lado o piloto que a Mercedes vê como o seu substituto, em vez de mostrar a sua autoridade face ao seu desafiante, ganhava uma batalha com esforço. Esperava-se que na corrida o natural maior conhecimento do carro por parte do finlandês pudesse dar-lhe a vantagem pela qual ansiava, até porque Russell arrancava do lado sujo da pista.
Porém, assim que os semáforos se apagaram, o inglês lançou-se para o comando da corrida, ao passo que o seu colega de equipa temporário se via acossado por Max Verstappen e Sérgio Pérez, depois de um erro na saída da Curva 2.
Enquanto tudo corria bem a Russell, Bottas falhava, desbaratando a pole-position alcançada no dia anterior e colocando-se ainda à mercê dos seus perseguidores.
Contudo, o piloto de Nastola via a sua vida facilitada quando Charles Leclerc embateu em Sérgio Pérez, abandonando nas barreiras, onde encontrou Max Verstappen, que ao tentar evitar o Racing Point encontrou os rails. O mexicano, conseguia continuar, mas caía para a última posição. De uma assentada, os dois Mercedes deixavam ficavam sem adversários, sendo o triunfo no GP de Sakhir discutido entre eles.
Depois de ultrapassada a situação de Safety-Car para recuperar o Ferrari e o Red Bull, esperava-se que Bottas pudesse colocar sob pressão o piloto que na semana anterior andava a lutar por ter uma possibilidade de entrar nos pontos.
No entanto, este parecia ter sido talhado para pilotar o Mercedes W11 e foi-se afastando do seu perseguidor, ostentando uma vantagem de mais de três segundos na 44ª volta, uma antes da sua paragem nas boxes.
Bottas parou quatro voltas depois e, quando regressou à pista, estava já a mais de oito segundos do outro Mercedes.
Foi então que se assistiu ao melhor período do finlandês, conseguindo recuperar tempo a Russell, que por vezes se queixava de alguns problemas de potência.
Na sexagésima primeira volta os dois Mercedes estavam separados por cinco segundos, mas na seguinte o desastre abatia-se sobre as boxes da equipa de Brackley.
O despiste de Jack Aitken, que substituía Russel na Williams, atirava para a pista a asa dianteira do seu carro e o Safety-Car acabaria em pista para que o componente do monolugar de Grove fosse recuperado.
A Mercedes, estrategicamente bem, chamou os seus pilotos para lhe montar pneus frescos e assim protegê-los para a derradeira fase da prova, mas a execução foi desastrosa para ambos os carros.
O funcionamento do sistema de rádio da equipa impediu que todas as mensagens chegassem aos destinatários e, quando Russell entrou nas boxes, foram-lhe montados os pneus dianteiros destinados a Bottas.
Quando o finlandês estava a trocar os seus pneumáticos, um mecânico deu conta do erro e o piloto de 31 anos teve de regressar à pista com os pneus que tinha desde a 49ª volta. Qualquer veleidade de um bom resultado para o finlandês esfumava-se.
Russel teve de voltar às boxes para montar os pneus corretos, voltando à pista logo atrás do seu colega de equipa, na quinta posição.
O inglês com borrachas médias usadas, mas frescas, começou a recuperar assim que a prova foi retomada, ultrapassando com autoridade o seu colega de equipa, Lance Stroll e Esteban Ocon, lançando-se no encalço de Sérgio Pérez, que com uma corrida notável, guindara-se da última posição até à liderança com o erro desastroso da Mercedes.
Russell começou a recuperar face ao mexicano, mas não ao ritmo que desejaria, parecendo que nas últimas voltas talvez conseguisse lançar um ataque ao piloto da Racing Point.
No entanto, essa não passaria de uma hipótese académica, uma vez que a nove voltas da bandeira de xadrez, o jovem piloto era obrigado a passar novamente pelas boxes devido a um furo no pneu traseiro esquerdo.
Na primeira vez que tinha ao seu dispor do carro mais rápido do planeta, Russell via-lhe a vitória roubada por um erro raro da Mercedes e, pelo menos um pódio, por um furo, um desfecho que não merecia e que o destroçou e que nem os seus primeiros pontos, graças ao nono posto no final, amenizaram. O inglês não dominou completamente Bottas, mas esteve ao nível deste e, com o seu ainda desconhecimento do Mercedes W11 promete ter um potencial muito superior ao do finlandês. Talvez agora Toto Wolff esteja a pensar no motivo que o levou a assinar por mais uma temporada com Bottas, quando tem na Williams um piloto que mostra ser muito mais forte. Será que Bottas regressa à ‘casa de partida’? O tempo o dirá…